quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

«A intensa leveza dos dias»
A excelência da TSF presenteia-nos com uma belíssima revista do ano.
Aqui

terça-feira, 28 de dezembro de 2004

BP-5/12
Tornei-me solidário com este movimento, logo desde que me chegaram as suas iniciativas.

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Estes posts deram origem a uma polémica de plágio, pelo jornal Público. Assunto sem dúvida interessante, também, mas não é isso que quero transmitir hoje.

terça-feira, 7 de dezembro de 2004

Ah e tal...

«O directo não pára porque a redacção quer notícias, mas as notícias não existem. Três repórteres revezam-se no dizer de coisa nenhuma. Cedo, nada mais há para dar conta que dos carros que passam, dos táxis que chegam. Quem vem lá? Será um arguido? Um advogado? Um magistrado? Câmara e jornalista fixam-se num táxi que acaba de chegar. A expectativa cresce, até ser substituída pelo desalento: "Por acaso é uma colega nossa", diz a jornalista Maria João Ruela, num comentário que deixa adivinhar a consciência do ridículo a que se está a prestar.»
João Manuel Rocha
Público 04Dez2004

terça-feira, 30 de novembro de 2004

Parece que sabiam

«Dezembro, por tradição, é um mês de grande acalmia política, em que os portugueses estarão virados para si próprios, para as suas famílias, e para as festas de apaziguamento interior que o país bem precisa. Será assim?»
Luís Delgado,
Diário Digital 28NOV2004
texto completo aqui


«A realidade continua a ultrapassar a ficção. Quase não passa um dia sem que o Governo proporcione aos portugueses mais uma trapalhada. O Governo não, que as trapalhadas têm quase sempre o mesmo epicentro: o centro do Governo, os próximos de Santana Lopes, o próprio primeiro-ministro.»
José Manuel Fernandes,
Público 29NOV2004
texto completo aqui


Jorge Sampaio vai dissolver Assembleia da República
hoje

segunda-feira, 22 de novembro de 2004

:)

domingo, 21 de novembro de 2004






quarta-feira, 17 de novembro de 2004

Porque partiste o candeeiro, morto?











quinta-feira, 11 de novembro de 2004

Quatro boas razões...
...para não ficar em casa. Aqui.

segunda-feira, 8 de novembro de 2004

Da gestão das empresas, em Portugal
Perante um passivo final de 2003 na ordem dos 87 milhões de euros e de uma soma com custos e perdas que ascendeu a 51 milhões de euros (1/3 deste valor adjudicado a custos com pessoal e ¼ com amortizações), a Administração do Porto de Lisboa (APL) nomeou cinco novos directores de serviço, cinco novos chefes de divisão e cinco novos chefes de serviço, o que por si só orça 350 mil euros por ano (sem contar com pessoal para estes departamentos).

Convém lembrar que o presidente e o administrador da APL foram, também eles, recentemente nomeados, e que o porto de Lisboa tem operado uma redução do número de funcionários, contra um aumento das chefias (40 chefias, actualmente, sem contar com equiparados em gabinetes ou comissões).

Tudo isto resulta num aumento da burocracia, dos papéis a circular, do tempo de decisão e da desmotivação dos funcionários.

Esta administração do porto de Lisboa criou, no entanto e ao invés da há muito esperada Divisão de Logística, uma Divisão de Animação e Eventos. Uma clara aposta na imagem, tendo como pano de fundo a “devolução do porto aos lisboetas”.

Todos estes aspectos contribuem para: mostrar o irrealismo das metas propostas pelo Governo (reduzir até 2006 o tempo médio de despacho em 50%; quadruplicar o movimento de contentores nos portos até 2015; auto-suficiência portuária em 2005); para mostrar como as instituições públicas (ou de capitais públicos), mais do que servir o país e os cidadãos, servem para albergar amigos, comparsas e conhecidos; para tornar mais clara a desgraçada tendência nacional para mudar tudo sempre que mudam os executivos e as tutelas; para ilustrar o desinteresse crescente dos cidadãos por aquilo que deveria ser do interesse de todos.

Excertos do texto de Jorge Costa,
em Carga e Transportes
Público, 08Nov2004 (indisponível online)
A sobrevivência dos mais aptos
A insistência no uso do termo “adaptação” quando se refere a teoria darwinista da evolução das espécies faz-me confusão. Ainda mais quando se diz que os animais “fazem adaptação” através da mutação (como se esta fosse voluntária), ao longo das gerações. E transpor isto para as teorias da comunicação, pior. Porque as pessoas se podem adaptar, adaptar as formas de comunicação; mas os animais não se adaptam para uma sobrevivência – isso era o que dizia Lamarck.

As girafas têm o pescoço comprido porque as acácias são altas e então a girafa adaptou-se e desenvolveu um pescoço mais comprido; e depois, pelo princípio da transmissão dos caracteres adquiridos, perpetua-se; e as acácias foram crescendo para fugir às girafas; e isto é (numa abordagem ridícula, é certo) Lamarck.

Darwin disse que somente o mais apto sobrevive. Darwin formulou que a variabilidade é intra-específica (através da mutação, da deriva genética, etc) e daí se selecciona, naturalmente, o indivíduo mais apto. Se este se reproduzir, garante a manutenção da espécie. Ou seja: existiram girafas de pescoço grande e pequeno, umas sobreviveram e outras não; o mesmo para as acácias.

Cuidado com “adaptação”. Obrigado Raul.

segunda-feira, 1 de novembro de 2004

Esta mistura não está bem feita
Jim Jarmush filmou conversas que se têm em volta de café e cigarros. Gosto de café. Não devia gostar de cigarros. Gosto de cinema. Não gostei, especialmente, do filme – faltaram Samuel L. Jackson e John Travolta, discutindo carne de porco na alimentação diária.

Gosto do audio e do visual. E do audiovisual em movimento. Tenho o cinema e o cinema documental – este que, por acaso, passou em Lisboa e eu não vi – como iogurtes de pedaços para o crescimento, o interior. Intelectual ou cultural; individual sim. Ou não pertencesse a uma das gerações do computador. Há delas que são “do livro”, porque era aquele o meio privilegiado de informação. Outras, onde me incluo, são “do computador”, que é o primeiro livro a ser folheado.

Mas também sou das pessoas. Há tempo que tive consciência de um processo de reconhecimento do indivíduo que sou. Dos gostos, das preferências, dos hábitos, isto sem me conhecer bem. Gosto de escolher os filmes que vejo, por exemplo, e de assumir as consequências. Gosto de ter consciência disso. Com as pessoas é diferente, porque não as escolho. Ninguém nos escolhe.

O que me escreveste fez com que desligasse o telefone – fecho essa janela para o meu pequeno mundo, num gesto simbólico de falsa reclusão e que tanto mais significa que o que verdadeiramente quis que significasse no momento em que carreguei no botão e pousei o pequeno objecto em cima da mesa, não lhe tocando mais, como se fosse uma daquelas cartas que trazem más notícias. Só volto a abrir quando o despertador tocar. Porque o que disseste é verdade e sei que te magoei. E isso é um sufoco.

Gosto de pessoas. Invariavelmente me cruzo com alguém que me influencia bastante. Que altera o rumo da minha vida. Ou que contribui para que me detenha um pouco mais olhando a esquerda e a direita, antes de seguir, e escolher. Sem qualquer ordem específica posso recordar-me de algumas letras e efeitos mas há umas poucas que ficarão para sempre gravadas na minha memória.

Uma, fomos a Braga. Apesar da Primavera estava frio e foi a segunda vez que fui acima do Douro, mas acaba sendo a primeira porque a outra não conta porque é só desta que me lembro. O que ali nasceu não mais se quebrou. Outra, foi bem aqui, em Lisboa. E foi quando descobri o coelho da Alice, que corria na estação do metro. Foi também a primeira vez que olhei para dentro de mim.

Estas pessoas que nos ficam, ficam-nos porque trazem sempre uma primeira vez. O princípio fotográfico é mágico por essa mesma razão: só existe uma vez, a primeira.

E pela primeira vez li Almada Negreiros e li de Almada Negreiros uma fotografia genial que escreveu. Como quando a tiramos e depois nos detemos a olhar e a ver. É assim:

«Tinha um pescoço horrível, sem ligação da nuca com as costas. Uma cova em triângulo entre as homoplatas e a falha do pescoço. E aqui a cor era ordinária. Porém, a nuca perfeita de redondeza, nem saliente, nem retraída. O tronco era uma verdadeira maravilha. Era todo o segredo da sua formosura. Os seios hediondos, partidos, duas excrescências inutilizadas. O busto curto mas sólido. Os ombros grandes e largos, levemente subidos. Os braços apertavam desde o ombro até ao pulso por uma forma ridícula e sem distância. As ancas cerradas, entre menina e mulher. A linha dos ombros mais larga do que a das ancas, conforme a robustez do tronco. O ventre, bem posto, era contudo mais admirável do que formoso, mais escultural do que atraente. O umbigo, o sexo, as virilhas, era tudo infantil, inocente. As coxas é que rompiam audaciosas. A cor das coxas era clara e a do ventre incomparavelmente menos clara. Via-se que era filha de uma pessoa muito branca e de outra bastante morena. Mas a mistura não estava bem feita: a sua pele ia desde o mármore rosa-pálido até ao tijolo sujo. As costas, genialmente bem divididas por um único vinco, firme, vertical, helénico, separando duas metades simétricas, amplas, até aos rins longos. Umas nádegas de rapaz. As pernas, se tinham algum atractivo, não pertenciam contudo à maravilha daquele tronco, esse acaso feliz da natureza. As barrigas das pernas, grosseiras, saltimbancanescas. Os joelhos estropiados. Os pés horríveis, o pior de tudo juntamente com as mãos. Estas davam a impressão de não fecharem, desajeitadas, incompletas, mal terminadas, falhas de paciência. Os dedos não se punham direitos. As unhas roídas até para lá do meio. Enfim, as extremidades péssimas. Dir-se-ia que a desordem da sua vida ia dar cabo daquela obra-prima da natureza e começara já a sua destruição pelas extremidades.

A cabeça também era incompleta, mas tinha qualquer beleza que se ligava com o tronco. A testa pequeníssima ao alto e ao largo. Bons cabelos lisos, mal começados na frente, com remoinhos. As orelhas pobres, minúsculas e engraçadas. Uma boca ingénua, sem a sua maldade, e um jeito pândego ao canto da direita. Autentica boca de rua. Bons dentes, curtos, já separados, e as gengivas gastas. Os olhos míopes não davam o encanto que prometiam. O nariz pequeno e perfeito. O perfil desde o fim da testa, com a boca fechada, até ao busto, era formidável de inteireza e de carácter meridional, peninsular, português. Bastante viril e sem por isso ser masculino. (…)

A diferença entre o perfil e a frente era esmagadora. Ela tinha escarrada num focinho animal a triste vida que levava. A fisionomia era canalha e grosseira, e o seu perfil nobre e puro, não cabia ali.»

A miuda do filme da Sofia Coppola era bonita. Branquinha, mas bonita. Não percebi, contudo, qual o fetiche da roupinha colegial. Assim como certamente não vou perceber, amanhã, o Fernando Luís a dizer «a gaja é minha filha», pá.

quarta-feira, 27 de outubro de 2004

IRC, IRS, IVA, IA, IC, CA, SS, TSU... e "não há almoços grátis"
«Sou contra as portagens, porque contribuem para a opacidade fiscal. Pagamos IRC. Pagamos IRS. Pagamos IVA. Pagamos imposto automóvel e imposto sobre o combustível. Pagamos contribuição autárquica e segurança social. Pagamos taxa social única e imposto sobre o tabaco. Pagamos taxas de televisão e de rádio. Pagamos imposto de selo, imposto sobre circulação de veículos e impostos alfandegários. Imposto sobre sucessões e doações e muitos eteceteras que a maioria de nós nem imagina. Por cada imposto cobrado, há imensos impressos, imensos regulamentos internos e imensos funcionários públicos dedicados à cobrança desse imposto. Tantos impostos diferentes traduzem-se num aumento de custos e de burocracias perfeitamente desnecessários. Quanto não se pouparia se, em vez de tantos impostos, se cobrassem apenas uns três ou quatro? Por que há tantos impostos? Por uma razão muito simples. A administração pública não quer que nos consciencializemos dos impostos que pagamos.»
Luís Aguiar-Conraria, no seu blog.

É acerca das portagens nas SCUT e do argumento "não há almoços grátis". Vale a pena ler.
«um desinvestimento de efeitos brutais no ensino superior público»
«… o Governo PSD-PP resolveu, à margem de qualquer debate sobre tão transcendentes questões [processo de Bolonha], adoptar como critério de reforma a versão mais drasticamente desinvestidora, desqualificante e destruidora do ensino superior público. O Estado passaria a financiar unicamente o primeiro grau do ciclo de estudos superiores, reduzido a três anos. Entregaria ao mercado a subsistência dos mestrados e doutoramentos: só quem tivesse capacidade financeira para pagar as propinas proibitivas exigidas para a cobertura das despesas dessas pós-graduações teria acesso a elas.»
Fernando Rosas, 27Out2004 in Público
(não consta da edição online)

O texto, intitulado “Bolonha ou a regressão do ensino superior”, merece leitura atenta. Depois de se ter hipotecado todos os ramos do país, pela falta de apoio ou financiamento, ou pela carga fiscal existente nas mais diversas áreas deste Portugal, hipoteca-se também o ensino superior. Para quê ter gente formada?

terça-feira, 26 de outubro de 2004

Descrédito irreversível do Diário de Notícias
«Os membros eleitos do Conselho de Redacção, confrontados com a inacreditável sucessão de acontecimentos que têm posto o Diário de Notícias na primeira linha da actualidade informativa, pelos piores motivos, manifestam por este meio a sua extrema preocupação pela situação do jornal, que tende a desacreditar-se irreversivelmente perante a opinião pública por razões alheias à vontade, à intervenção e à actuação dos seus jornalistas. (...)

É indesmentível o clima de contínua desmotivação da Redacção perante a evidente degradação da capacidade interventiva da Direcção na elaboração diária do jornal (...)

É evidente a perda de qualidade editorial do DN, patente na elaboração de muitas primeiras páginas. (...)

É preocupante que um dos primeiros actos de gestão da nova Administração tenha sido a abertura de um processo de «rescisões amigáveis», com o objectivo declarado de dispensar mais jornalistas, à semelhança do ocorrido em 2002, que em nada contribuiu — antes pelo contrário — para a resolução dos graves problemas estruturais que têm acelerado a degradação do Diário de Notícias. (...) »

Comunicado do Conselho de Redacção do DN, hoje veiculado pelo Público-Última Hora. Texto integral aqui.

sábado, 23 de outubro de 2004

Sugestão
«Este DocLisboa é uma proposta de oposição construtiva. Sabemos que a actual oferta cultural é pobre, sabemos que as instituições políticas responsáveis por tutelar a qualidade desta oferta não cumprem as suas funções. Por isso, vamos mostrar durante uma semana aquilo que gostaríamos ver regularmente nos cinemas e no prime time dos canais de televisão.»
Cinema documental na Culturgest, ainda para mais a preços convidativos: entre 2,00 e 1,50 euros.
Info em www.doclisboa.org

quarta-feira, 20 de outubro de 2004

Uma grande nabice
«As portagens nas Scut's são uma grande nabice. As vias de comunicação são, historicamente, um factor desenvolvimento, e no caso português mais se justificava.»
Aconselho a leitura, do texto e dos comentários, aqui.
Eles é a indústria da noite, os processos, as penhoras...
E muito mais?

Noticiou o DN que os bens do gabinete do reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP) vão ser penhorados. A acção foi decidida pelo Tribunal do Trabalho, em resolução de um processo levantado por uma professora da instituição, que deliberou o pagamento de uma indemnização no valor de 100 mil euros a seu favor. Ao que parece, a UCP não cumpriu com o contrato que tinha com Maria José Craveiro, passando a pagar-lhe à hora e acabando por despedi-la sem justa causa, depois de ela ter começado a sua tese de doutoramento.

A notícia original está aqui e mereceu uma chamada na primeira página na edição daquele dia do DN. O Público e o Diário Digital, tanto quanto sei, noticiaram posteriormente, porém sem acrescentar dados novos. O Público, de que é director José Manuel Fernandes - que também colabora/lecciona na UCP -, refere o assunto apenas na sua edição on-line "Última-Hora". [Um aparte: responderá isto à sua questão, Professor?]

Mas pela (minha) blogosfera fora, também se escreveu sobre o assunto, nomeadamente no Barnabé.

Ainda no Barnabé se pode ler, mais abaixo, o seguinte:
«Que seria de nós, na verdade, sem os professores da Católica? O negócio é o seguinte: nós contribuímos generosamente para uma instituição que cobra caro pelos seus serviços, foi e continua a ser protegida da concorrência. Em troca, recebemos uns cromos inestimáveis como Braga da Cruz, Mário Pinto ou César das Neves.»

Voltando ao texto publicado pelo DN, cito o seguinte:
«Ao que o DN apurou, existe algum mal-estar entre alguns docentes (...). Motivo de críticas também tem sido o facto de o director da Faculdade de Ciência Humanas, Mário Pinto, ser simultaneamente presidente do Conselho Científico sem que detenha os graus de mestre ou de doutor, contaram ao DN vários docentes.»

Eu apenas digo: interessante e investigável, o comportamento da UCP – nas suas variadas vertentes.
Novas mudanças no Grupo PT
O Jornal de Negócios avançou, há dias, com a notícia de que Clara Ferreira Alves será a nova directora do Diário de Notícias. A verificar-se, seria a primeira mulher no cargo, em cento e alguns anos.

Na edição desta semana, o Expresso confirma e acrescenta Pedro Rolo Duarte como sub-director.

Hoje, o Diário Económico desmente: «O presidente da comissão executiva da PT (...) desmente qualquer decisão no sentido de mudar o actual director do Diário de Notícias»

Em que ficamos?
A liberdade de expressão tem destas coisas
«Miguel Sousa Tavares tem a certeza que Marcelo Rebelo de Sousa saiu da TVI por pressão do Governo. Mesmo assim continua comentador. Que saudades de Francisco Sousa Tavares.»
António Ribeiro Ferreira,
in DN nº1273

segunda-feira, 18 de outubro de 2004

Ecos de um fim-de-semana impresso

[o “caso” Marcelo Rebelo de Sousa] «É um ‘case study’ para quem se interesse pelo liberalismo e suas perversões. Ou para quem estude jornalismo e tenha ilusões.»
Pedro Rolo Duarte,
DNa 15Out2004


«Acho que a música chill out é bastante fria, é uma coisa que funciona bem como música ambiente mas, se queremos emoções diferentes na música é preciso ir procurar outras coisas, outra música.

(…) jazz dos anos 50 e 60, que me influencia bastante e tem um lugar muito importante no meu coração e na minha vida.»
Nicola Conte,
em entrevista ao DnMúsica, sobre o seu novo disco, Other Directions

segunda-feira, 11 de outubro de 2004

«Mas, pior que tudo, é um dia Paes do Amaral ter que se haver com um Presidente da República que despediu da própria empresa.»

Curiosa, a crónica de António Freitas de Sousa, no Diário Económico (08Out2004)

quinta-feira, 7 de outubro de 2004

«Ele [Jorge Sampaio] não percebeu o tipo de gente a que deu posse»
Miguel Sousa Tavares,
in Público 07Out2004

De longe, o melhor que já li, em relação ao XVI Governo Constitucional português.
Mas há mais:


«(...) persistem em Portugal dois males antigos que fazem com que sejamos uma democracia pouco liberal. Primeiro, porque as tentações de os governos controlarem a informação não desapareceram, antes recrudesceram com o actual Executivo, e o império da PT- criado sob o PS, alimentado e protegido pelo PSD - permite ter uma terrível arma de intervenção capaz de condicionar mesmo os grupos privados, na televisão e não só.
(...) um governo acossado e fraco, desorientado e acéfalo, incapaz de resistir à tentação da manipulação e desesperado por não perceber que o mal não está em quem divulga as más notícias, mas em quem lhes dá origem: eles próprios.»
José Manuel Fernandes,
in Público 07Out2004


«Se somarmos a tudo isto o controlo da televisão e da rádio públicas, que já vinha do anterior Governo, as mudanças que se estão a dar nas chefias no grupo Lusomundo dependente da PT, colocando todo seu sector mediático sob o controlo de Luís Delgado, um jornalista cuja promoção não tem outra explicação que não seja o seu proselitismo político, usando instrumentos que o PS preparou com o mesmo objectivo de controlo, o panorama é preocupante. Existem ainda suspeitas de pressões políticas e económicas sobre os grupos empresariais de comunicação, para que se "portem bem", escassamente conhecidas fora das administrações do sector e escapando ao escrutínio público.
(...)
Mais uma vez se verifica que o nosso estado tem uma presença excessiva na comunicação social, que tudo está demasiado partidarizado e que quem tem o poder nunca o cede e usa-o. O PS fê-lo, o PSD está agora a fazê-lo.
(...)
Quando um membro do Governo apela a que a Alta-Autoridade para a Comunicação Social interfira na liberdade de opinião, tal como é expressa numa televisão privada, está a exigir censura do que lhe é incómodo.
(...)
Marcelo é previsível nas suas críticas e nos seus silêncios, nos seus venenos e nos seus ajustes de contas, nas suas verdades e nas suas meia-verdades, só que uma coisa é ter do outro lado alguém convicto do que está a fazer, ou sabendo o que está a fazer, e outra alguém que se desintegra de medo perante o "professor".»
José Pacheco Pereira,
in Público 07Out2004


«(...) convém impedir que quem discorde fale. Já o núcleo do PSD do Norte, constituído, como se sabe, por algumas das maiores cabeças do país (estou a falar do tamanho, claro), tinha vindo mostrar toda a sua indignação com os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa. Não basta ser-se do partido do Governo, é preciso aparecer como porta-voz do pensamento do Governo. O que a médio prazo pode levar à esquizofrenia, dado que o Governo tem em si pensamentos diversos, e o próprio Santana Lopes pensa coisas diferentes no mesmo dia (o que mostra como é um espaço de liberdade e pluralismo). Desta vez, temos o extraordinário Rui Gomes da Silva, espaldado por Morais Sarmento num dos seus momentos menos felizes, a começar por exigir que se moderem os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI. Estes comentários são hoje uma verdadeira instituição nacional, e com o apoio de gente desnorteada como o referido ministro (vão lá arranjar "contraditório" para esta afirmação...) arriscam-se a valer tanto como um partido político. Cabeças mais atiladas devem ter explicado, aparentemente com êxito, que afirmações destas não se fazem e que Gomes da Silva estava a criar um caso político onde ele não existia. O que só se compreende porque Marcelo, ao comentar a constituição deste sempre surpreendente Governo, traçou um retrato pouco abonatório deste admirável governante a quem o país tanto deve. O caso veio acrescentar-se ao clima de proibições que se pretende instalar: regulação de horários de discotecas, proibição de mini-saias numa escola de Colares, e agora tentativa de impor a Marcelo um contraditório. E ainda veremos o PSD do Norte propor que cada comentador de um jornal tenha o seu contraditório - que poderá mesmo ser um polícia de serviço.»
Eduardo Prado Coelho,
in Público 07Out2004
(Toda a crónica de EPC está, aliás, deliciosa.)


Não consegui aceder ao DN na internet...


«O director-geral e de informação da TVI [José Eduardo Moniz] tem a esperança de voltar a ter Marcelo Rebelo de Sousa nos ecrãs da estação televisiva. José Eduardo Moniz disse, no Fórum da TSF, que espera que a saída do comentador político seja “um equívoco”.»
in TSF,
07Out2004


«(...) Pedro Santana Lopes transformou o adversário num herói. Criou uma celebridade, vestindo o lobo com pele de cordeiro.»
Raúl Vaz,
in Diário Económico 07Out2004

quinta-feira, 30 de setembro de 2004

A vida é um milagre
(um filme de Emir Kusturica)

O que há a dizer?

terça-feira, 21 de setembro de 2004

“Eu tenho, tu tens, ele tem, nós temos, vós tendes e eles têm”, é assim que leio no dicionário. Na puta da minha cartilha de Primária vinha errado. Mais ou menos assim: “eu terei, tu tens, ele tem, nós teríamos, vós tendes e eles têm”.
Sacana do Amaral!...

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

Este filme já passou na minha sala.
Como será que acaba desta vez?

terça-feira, 14 de setembro de 2004

Melhor proposta pode ir até aos 390,60 euros
Salário mínimo mais longe dos Quinze
O salário mínimo nacional português é muito mais baixo do que em Espanha e na Grécia. E continuará atrás, mesmo que o Governo aceite a proposta mais arrojada de aumento.
Agência Financeira

--- Adoro estas boas notícias...
Luís Delgado deverá suceder a Granadeiro na Lusomundo
«O administrador-delegado da Lusa, Luís Delgado, deverá suceder a Henrique Granadeiro na presidência da Lusomundo Media, que detém títulos como o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, o 24 Horas e a TSF.
Henrique Granadeiro foi nomeado presidente do conselho de administração da Fundação Portuguesa Telecom. A PT decidiu também criar um conselho editorial para a Lusomundo, que deverá ser dirigido, por Mário Bettencourt Resendes.»
Diário Económico, 14Set2004

--- Mas está tudo louco? Mais um tacho para o Delgado? Para o Luís Delgado? O Luís Delgado?

segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Lição de humanidade em 39 minutos, foi o que foi. O Homem é um ser social, mas socialmente egoísta e mostraste-me como contrariar isso mesmo. E como se deve começar por aqueles que estão mais perto. Porque o amor é transversal.

Vivo num eterno depois, quando deveria fazê-lo sim no agora. E como isso me incomoda. Tal como Miles, que adoro e bebo sempre, mas que é impossível fazer acompanhar de letras. Porque estas pedem acordes electrónicos e vozes quentes.

Há semanas que não leio os meus habituais de sábado. Há meses que não vou lá, com tempo de espreitar o mar e simplesmente respirar. Há muito que não te vejo.

domingo, 5 de setembro de 2004

É estranho, nevoeiro em tempo de verão. Tolda-me a visão, não vejo a poucos metros mais, mas não é claro como o de Dezembro ou Janeiro. Esse é água. Este é escuro. Não me recordo o dia em que se abateu tanto no vale como no pico, mas sei que não levanta. E já me perdi. Desde que chegou que não sei por onde ir.

terça-feira, 24 de agosto de 2004

...requesting some enlightenment...

sexta-feira, 30 de julho de 2004

«… as pessoas estão abananadas…»
Horário nobre na televisão portuguesa e no noticiário da SIC, a repórter, em directo, ao telefone de um local onde um forte incêncio lavrava, proferiu essa fantástica sequência de palavras. Ora, abananar é dar forma ou gosto de banana; aturdir; espantar; perder a energia; aparvalhar-se. É tudo isto, sim senhor. Mas, em jornalismo?

As vagas de incêndios têm esta particularidade, em Portugal: protenciam autênticos atentados ao jornalismo. Quando o país arde, é ver repórteres relatando horrores, em pânico e por isso sobressaltando quem os vê e ouve. Uma autêntica palhaçada. E palhaços são os editores e chefes de redacção que os destacam para aqueles cenários, para fazerem aquele tipo de reportagem. E palhaços são também aqueles ditos jornalistas que, com ou sem experiência, estão para ali fazendo e dizendo parvoíces, dificultando as movimentações, interrogando os populares das formas mais estapafúrdias, tossindo do fumo, louvando o Canadair e a descarga que fez mesmo em cima das suas cabeças vazias e agora molhadas.

Palhaçada: acto ou dito de palhaço; cena ridícula e burlesca; mascarada; grupo de palhaços.

sábado, 24 de julho de 2004

«sabiam que o que faziam nascia do que os desfazia»
Os Lamb vão acabar? Não me surpreende. É pôr cobro a um vazio criativo que há anos sofria, gritava e gemia em discos iguais e secos.

«A relação entre Andy Barlow e Louise Rhodes sempre foi volátil. Altamente instável. Perigosa para quem se encontrava à volta. O "background" musical era muito diverso: o multi-instrumentista vinha da área da electrónica de dança, a vocalista do folk. Ela é dez anos mais velha do que ele. Mas foi da dificuldade de relacionamento e das díspares expectativas estéticas que se construiu uma carreira tão singular como a do duo inglês.» Eurico Monchique, Y

Não se enganem: eu gosto, gostei, dos Lamb. Sobretudo quando os conheci e pela maneira como me chegaram - através de uma remistura dos Fila Brazillia para "Cotton Wool", no The Rebirth Of Cool vol.6, de 1996.

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Aula de jornalismo
"Manual" para uma entrevista: texto e áudio 
Em dia que para mim foi de World Press Photo no CCB e pouco mais, Amália faria anos e Carlos Paredes partiu - recordo-lhe "Verdes Anos" e logo me surge o ferry vagaroso no Tejo, ao fim do dia, de um dia em que lá ao fundo o céu fique alaranjado, atracando no cais da margem norte ou sul, que tanto faz pois a magia é a mesma.

Comprei jornais, dois, mas só lhes li umas poucas páginas. Fica para amanhã.

Durante uma hora e meia vi um clássico.

Noite dentro, cruzei-me com as duzentas e algumas páginas do Programa do 16º Governo Constitucional, aka A Palhaçada. Guardei-o, porque electrónico, mas sem motivo. Não o lerei, não.

Quase no fim de tudo, o arquivo de programas da TSF. Uma pérola! Disponível à distância de um clique e deveras interessante. A explorar.

E hoje soube a pouco *

segunda-feira, 19 de julho de 2004

«A política já tinha batido no fundo - faltava alguém que lhe atirasse terra para cima e nos explicasse  o que vale o nosso voto, o que vale o tempo perdido a ouvir um homem gritar "se eu ganhar eu faço..."»
PRD, DNa
 
Um excelente suplemento de imprensa e alguém que começo a ganhar o hábito de ler... e concordar. 

sábado, 17 de julho de 2004

O objectivo era fazer música, com toda a bagagem de quem já leva uns anos no ofício. O jazz, categorização que se não lhes impõem, veio porque os três gostam do género e porque queriam fazer música instrumental, em parte improvisada. “Esquece Tudo O Que Aprendeste” é o resultado, o disco de estreia dos DEP, colectivo formado pelos músicos portuenses Danim, Eduardo e Peixe. 
» i'm back in the business, here 
 
Nem o epíteto Cool serviu para aligeirar a faixa etária do público que na quente noite de 13 se deslocou ao Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, para ouvir Jacinta, num excelente concerto no âmbito do Cool Jazz Fest (CJF). 
» and here 

sexta-feira, 9 de julho de 2004

«Mas agora, quando por fim nos disseram que a luz estava ao fundo do túnel, percebemos que a luz era, afinal, a de um comboio em sentido contrário pronto a dar-nos cabo do caminho. (...) Quem vem dentro desse comboio? Aparentemente, todos os que o apanharam em andamento no instante em que Durão Barroso decidiu emigrar. Na política, a arte de apanhar o comboio em andamento é uma habilidade própria de artistas de circo.»
PRD | DNa

domingo, 4 de julho de 2004

30x diazepam 10mg
Volta e meia e é o mesmo. As meias tintas. O costume.

Quando me confronto com isto, o estômago fica vazio, o coração abranda, os olhos param, as mãos apertam-se. Boneco de trapos e uma tesoura de autópsia que me corta e tira toda a espuma que me enche. Espuma de mar, volátil.

As interrogações, são as mesmas. E quantas...

Nada que o tempo não resolva, claro está. Já que não tenho coragem para o fazer. Cobarde.

A coisa que tem que ver com nada mas que acaba tendo que ver com tudo. Extraordinário, o processo, despoletado por uma insignificância material, que se relaciona com um terceiro e um grande prejuizo pessoal. E explicar, ter que descodificar, tentar tornar ligeiramente perceptível o impercebível, suportando-me em argumentos vazios, porque virtuais, mesmo apesar dos discos físicos e de uma caixa de alumínio. E que menor é tudo isto.

sábado, 3 de julho de 2004

one day, some day, what day?

sexta-feira, 2 de julho de 2004

«It's a social thing. It's not like we're drug addicts or something.»

Anything Else, 2003, Woody Allen

sábado, 26 de junho de 2004

«Quem não perceber a relação íntima
entre o cagalhão e o limão não percebe nada»

«(…) O que me traz aos ovos. Hoje em dia é proibido mencionar que as galinhas têm cu – mas têm. É por onde saem os ovos, desculpem lá. (...)»
Miguel Esteves Cardoso, DNa

E do DNa digo: foi premiado internacionalmente, mais uma vez, como excelente produto de imprensa que é.

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«(…) Nós somos um povo triste. Não sabemos rir. Não sabemos aplaudir. Não sabemos incentivar as pessoas. Somos um povo triste e envergonhado e isso não sei de onde é que vem. Os espanhóis são alegres, têm as castanholas. Nós ouvimos o fado em silêncio. “Silêncio que se vai cantar o fado”! Quando o que nós deveríamos fazer era falar muito. Mas não sabemos improvisar. Qualquer brasileiro fala praí uma hora, que nunca mais acaba. Nós não.»
Eládio Clímaco, em entrevista à 365

E da 365 digo, neste #15, que outro também não conheço: artistas armados ao pingarelho, a 10 mil exemplares todos os meses. É barrete que não enfio outra vez.

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Que é feito da Paula Moura Pinheiro?
Digo eu, da Grande Reportagem

E da GR digo: ainda não terminei.

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Continuam a faltar: All Jazz, Volta ao Mundo, Egoísta, Epícur, Sábado e Os Fazedores de Letras #58, assim que me lembre.

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É aproveitar, isto e o Euro, porque os próximos meses serão:
- um website e uma revista, num desafio pessoal extremamente aliciante, além de muito duro;
- voltar a escrever sobre jazz, sobre música (e começa já com uma entrevista, na 3ª-feira, a um novo colectivo jazzístico) para um meio de comunicação electrónico, o que me deixou tremendamente motivado;
- pouca praia, pois então.
Vacances
Apaixonado pelo periódico e pela palavra impressa, pelo desenho desses produtos de consumo, em papel de diferentes gramagens e formatos, cores, composições e temas também diversos, e fui-me para uma daquelas qualquer-coisa-press que por “CCs” e Fóruns se multiplica, olhar para a oferta disponível. Balbúrdia geral e parti em busca de alguns títulos de que levava vontade de folhear. Mas não passou disso mesmo, do desejo, porque ali, havendo de tudo, nada havia. Questionados os funcionários, continuava não havendo e não se sabendo se alguma vez houvera.

Ali trabalha-se, por turnos, 14 horas sem intervalo e não é isso que enjeito, dado ter a experiência própria das exigências de tal serviço – o part-time dos 450 euros mais comissões de Caixeiro Ajudante de 1º Ano que sabe bem a quem termina o 12º na palhaçada que é o Recorrente –, que seis dias a rodar não deixam espaço a que se saiba seja o que for sobre o que se deveria saber.

E se tomamos mais um minuto que seja ao único caixeiro disponível, questionando sobre o paradeiro de um outro qualquer título «pseudo-intelectualóide armado em cosmopolita fashion de sexta-feira à tarde», logo salta o tipo do mocassin envernizado, calça beije, camisa azul claro de manga dobrada, cabelo grisalho aparado à cota que acha que a loura re-pintada e esticada de 50, sardenta de solário, vestido branco transparente e cueca fio-dental que o acompanha ainda bomba; logo salta o gajo, de cigarrilha esfumaçante, impaciente para que seja atendido e possa pagar, com o cartãozito dourado que um banco qualquer lhe vendeu, a sua caixa de cigarrilhas, os Davidoff da gaja, a Lux, a Caras, o Expresso, a Visão e os DVD todos da colecção, a Evasões e a National Geographic, sem não antes pousar a chave do Audi e o Nokia computador em cima do balcão. Adorei o espectáculo.

Comércio tradicional no ramo dos periódicos, precisa-se. Com a mesma, ou talvez um pouco mais selecta oferta; sem dúvida com maior arrumação; sobretudo com mais tempo e conhecimento para informar devidamente o cliente. E fora destes “fórúns”, por favor!

Não obstante o sucedido, fui-me dali com um terço do que procurava. Hoje, durante um café, uma “borbulhenta” e um moscatel, numa esplanada à sombra, estive de férias.

quinta-feira, 10 de junho de 2004

Pequenez
Passou certamente mais de um ano, desde que cortei aquele pedacito de papel e o colei no meu caderno de então. Porque me lembrava de o ter feito, procurei-o. E li-o. E depois de tudo o que se tem passado lá no "estaminé", faz sentido. Disse-o António Feio, ao DNa:

«A Igreja em si é um lugar demasiado solene, que reduz as pessoas a uma certa pequenez, onde tudo é muito proibido, e o seu funcionamento sempre esteve completamente afastado da realidade e das pessoas.»

Ainda bem que guardo os cadernos usados.

segunda-feira, 7 de junho de 2004

Leituras atrasadas

os Fazedores de Letras #57
«Quando, daqui a 20 anos, comemorar os 50 anos do 25 de Abril ou, daqui a 70, o seu centenário, e deixarmos de ouvir na primeira pessoa a descrição dos acontecimentos, chegaremos à altura em que a Revolução dos Cravos não será mais do que uma data no calendário nacional, com o mesmo peso e importância que têm hoje outros feitos do povo português, como a batalha de Aljubarrota e a Revolução de 1383-85, a restauração da Independência ou a implementação da República.»

e também a entrevista:
«Fornecedor de serviços de comunicação», Álvaro Costa

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Recortes de um habitual
«…30 anos depois, eu já percebi que ser de direita não significa ser fascista, como ser de esquerda não equivale a ser comunista. Há, entre estas duas margens, lugar para o respeito e a democracia. Mais à esquerda ou mais à direita.

…30 anos depois, eu realmente não sou um optimista. Mas sou seguramente menos pessimista do que seria se hoje vivesse num país a preto-e-branco, fechado sobre si próprio, ainda mais tacanho, ainda mais pobre, ainda mais ignorante, ainda mais estupidificado do que é. Este não é o país que sonhei quando acordei para a realidade – mas é certamente melhor que aquele que teria se, há 30 anos, não tivesse acordado um movimento de militares. Uns mais ingénuos, outros mais sabidos, todos com um mesmo objectivo: mudar. Só o verbo já inspira.

…Por tudo isto, 30 anos depois, eu já não tenho ilusões – mas há muito que deixei de ter dúvidas. Mais vale assim. Com revolução, com evolução. Mais letra, menos letra, nenhuma destas palavras é a palavra-chave. Para mim, a palavra é só uma: liberdade. Quem a tem chama-lhe sua. Todos os dias acordo a chamar-lhe minha. E não desisto.»

sábado, 29 de maio de 2004

- De que se reíen estos cabezudos?
- De nosotros...

La Mala Educación, Pedro Almodóvar

domingo, 23 de maio de 2004

Descobri hoje: vou morrer aos trinta.

quarta-feira, 5 de maio de 2004

«Quando escrevo quero apenas libertar-me do que escrevo»
Porque a escrita, certa escrita, tem mesmo esse querer libertar-me daquilo, “daquilos”, na procura do sono e descanso que tanto quero. É violento, por vezes, o exercício, porque as palavras escritas materializam o sentir – qual dizer popular «olhos não vêem, coração não sente» – e esse confronto com o que, subitamente, se tornou real e existe, magoa. Cuspir o que escrevo, arrancar essa crosta – tal como, quando em miúdo, escarafunchava os joelhos “volta-e-meia” feridos, só para ver a pele rosada que ali por debaixo crescia – é outra face do cubo, é uma porta que se fecha e outra que se abre, ao novo, que há-de vir. “Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrróóóiiiiiiiccccctup” para a calçada e seguir andando, sem olhar.

O escritor, o escritor louco, atormentado pela voz do «emissário desconhecido», que dele faz marioneta e hospedeiro, não cospe – vomita; porque um é deliberado e o outro é incontrolável. O escritor louco, que não consigo desprender da imagem do Woody neurótico, é alimentado a pão bolorento. Assim, mesmo que tarde, despejará tudo. E mais não tendo que o saceie, continuará a come-lo e a cair de joelhos sobre uma folha de papel. Aquele pão, que é uma esmola.

Talvez por isso A.L.A. tenha dito: «enche os teus livros, à custa de muito viveres com eles, de um terrível, desesperado e feliz silêncio». O terrível desespero da náusea, a felicidade do alívio, o silêncio pelo conluio de saber haver comido com o propósito de confessar.

quarta-feira, 28 de abril de 2004

Meias-tintas.

domingo, 25 de abril de 2004

«Se os filhos-da-puta voassem, quase não se veria o sol»
Jorge Palma

quinta-feira, 22 de abril de 2004

O teu nariz nunca me enganou
Nariguda – não de bruxa, mas de mentirosa. “O seu poder de atracção irá surpreendê-lo esta semana” blá blá blá e é quinta-feira e nada! Maya, Maya… O teu nariz nunca me enganou.

segunda-feira, 19 de abril de 2004

«Se a foto não é boa é porque não estás suficientemente perto»
Capa, disse.

Cada pedaço que parte é como se fosse um bocadinho de mim. Mas tudo isto é uma manta de retalhos-fases e esta é mais uma, foi mais uma, que necessitei encerrar. Ou colocar de lado – veremos.

O caminho que faltava percorrer até que me satisfizesse com os resultados era longo demais para a altura. E a opção, decerto nada fácil, acabou por ser inevitável. Porque quando as coisas não resultam preciso... Que resultem? Quando não, ao menos que esteja em posição de as fazer resultar. E não estava.

Tempo – é falso.
Olho – válido.
Vontade – aquieta-me, de certo modo, pensar nisso.
Coragem – o principal.
Mercantilização e obsessão pela utilidade/uso que não o próprio – definitivamente.
Sempre pensar no “que depois de isto sim, haverá condições” – paro por aqui ou tombo.

Como começo hoje a perceber, comigo, ou dá ou não dá. Não existe um ‘vai dando’. Preciso sentir-me em preparo de fazer dar, ou acabo coxo. Porque quero tudo e que tudo o que quero dê. (e porque alguém me disse que há que fazer opções, para que dê)

É assim, comigo, nas coisas e nA coisa.

Nas coisas suporto. nA coisa não tenho mão no que acaba correndo-me nas veias.

E sei que, mais que as coisas, A coisa me atormenta.

No fundo, obsessão por um controlo impossível/inexistente?

sábado, 10 de abril de 2004

"Agora é respirar fundo e seguir"
Caladinho, Zapateu. Caladinho e mergulha.
splash

sexta-feira, 9 de abril de 2004

Não existe coisa alguma que traduza isto por palavras. Porque isto não se vê – sente-se. Não se toca – vive-se. Não se cheira – metaboliza-se.

Eu não sei o que é isto. Por outro, sei o que é isto. Não conheço, sim, não conheço o que está para além de isto, o passo seguinte a isto.

Neste momento sinto, isto. E não queria, não quero.

Isto traz-me todas as dúvidas que não quero ter. Acorda-as com força, atira-as contra mim violentamente, obriga-me a olhá-las e comê-las. Porque as dúvidas se comem, se engolem em seco.

Quando isto me acontece é um limbo e uma descrença.

AMA, disse-me brincando, era essa a sigla. Não é tanto isso que me perturba – é mesmo isto. Não saber se sou, se valho; julgar que, por isto, não sou e não valho.

quarta-feira, 7 de abril de 2004

Quando eu era mais novo, havia uma coisa muito bonita, que era a sedução
(sAm tHe kiD, beats vol. 1)

Não foi quando te vi quase derramar uma lágrima, que fiquei assim. Foi antes, pouco depois do início. Quando te percebi sensível, carinhosa e meiga. Por isso que o teu número de telefone foi um dos primeiros que quis ter.

Nunca o usei, no entanto. Até aquele dia, quando julguei ser oportuno.

As conversas que tivémos, despreocupadas, sobre nós e o nosso, deixaram-me cada vez mais intrigado, curioso. Queria descobrir-te.

Mas de repente o chão abriu-se e foi silêncio. E escuro.

E agora não sei muito bem onde estou.

segunda-feira, 29 de março de 2004

Consumido por tudo aquilo que era e não queria, disse-me: «Foda-se, rais’ partam, que tou farto disto!»

terça-feira, 23 de março de 2004

Charlie
«-Hamm... Whether we think this might be helpfull... If we go back when he was evaluated, and Charlie was evaluated in July...
Back then, the heart valve was causing the primary problem.

-I know! That's why I don't understand this!...

-Well, one of the things that says to me is...»

sexta-feira, 19 de março de 2004

“Porquê?”

Não.

“Para quê?”

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

“e eu toda atrapalhada a explicar mais ou menos e ele todo contente”
Quando me falas de sentimentos e do que estás agora a sentir por ele, novo, lembro-me que sou pessoa e fico triste. Sem razões para tal, mas invade-me aquela tristeza egoísta que sentimos quando estamos sozinhos e somos – porque somos! – os maiores desgraçados de todo o universo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004

Escarreta
Dá a chuva lugar a um dia de sol e é vê-la, na típica calçada portuguesa, olhando-nos com desdém, orgulhosa do seu voo até à alva pedra de calcário, a escarreta. Desviamos da dita a sola do nosso sapato, levantamos do chão os olhos lamentando pela educação de quem ali a largou e logo em frente, mais à esquerda, espera-nos outra. Fintamo-la também, desta vez resmungando a falta de apuro de quem conspurca assim o passeio. No desvio do trajecto, alto! que quase se pisava mais uma, desta feita à direita e aí não há quem nos segure! Soltamos um “porco” em meia voz, indignamo-nos do mais fundo do nosso ser, arrancando novamente e agora decididos em bater no próximo que surpreendermos em flagrante delito.

A escarreta, o escarro, [s. m.] matéria viscosa segregada pelas mucosas (em especial das vias respiratórias) e expelida pela boca; expectoração; [pop.] mácula; mancha; nódoa; coisa mal feita; porcaria; [fig.] pessoa desprezível; afronta; insulto; é apontado como um dos piores hábitos portugueses – sem dúvida que sim. Não há muitos anos, em locais públicos e consultórios médicos, era vulgar encontrar um escarrador, recipiente de porcelana branca destinado a receber de quem lhe aprouvesse, um escarro – corria a década de 50 e a tuberculose em Portugal era uma verdade temida, por tão presente e aziaga. Incitava-se, portanto, à escarradela condicionada, erguidos que estavam valores mais altos, como os da salubridade. Na rua não, no escarrador sim.

Resulta que o escarro, além de desprezível, indecente e sujo, é um dos meios mais eficazes de propagação de doenças. No chão, ao sol e ao ar, o escarro leva dias a evaporar, lançando para a atmosfera micróbios, bactérias, bacilos (como o de Koch, aqui para o caso) e demais microorganismos ruins que um cidadão menos sadio e rijo possa transportar, colocando em risco todo e qualquer corpo humano mais imprecavido de vitaminas e defesas.

Não é tanto pelo barulho que acompanha o impropério, aquele “rrrrrrrrrrrrrrrrrrrróóóiiiiiiiccccctup” repugnante – que mesmo por entre os adeptos já motivou a constituição de um movimento ‘escarreta mas com classe’, denominado TUP (a parte subtil e última da soada) –, mas sim pelo perigo real e bem escusado que representa para a saúde.

Não cuspam para o chão, seus porcos! Façam-no para a mão e guardem no bolso.

domingo, 1 de fevereiro de 2004

Bernardo
«Olá! Eh pá, há anos que não te via!» e é verdade, meu (agora) velho Bernardo, que ainda ontem nos davas chumbadas para os nossos ensaios pesqueiros de domingo manhã cedo, ali para os lados do Olho-de-Boi. «No outro dia estive para perguntar à tua mãe o que era feito de ti…» mas não há necessidade: aqui estou, pergunta-me o que quiseres ou diz-me porque cheiras a bebida às quatro da tarde de uma quinta-feira de chuva. Não, não te percas pelas peripécias que fazíamos, nós, enquanto miúdos, lá na rua, na praceta. Não recordes as tardes sem fim, vistas da tua varanda de reformado, fosse verão ou inverno, a bola que teimava – e não obstante os nossos mais que óbvios talentos futebolísticos – em bater no vidro da cabeleireira ou na janela da alentejana Bárbara ou no Honda Civic daquele sujeito, que até um alarme especial pôs no carro para ralhar connosco de cada vez que o esférico lhe tomava o gosto da chapa branca. Não vás por aí.

Fala-me de ti, que sei que queres. Fala-me dos teus setentas. Fala-me das razões que te fazem já não subir a rua carregado com os sacos das compras. Fala-me do teu Renault cinzento, agora sempre parado. Fala-me da tua filha, que é explorada naquele instituto público onde a hora de saída raramente se faz antes das sete. Fala-me da tua neta, alegria dos teus olhos, que agora vês de quando em quando, porque a senhora divorciada do teu filho foi de patins para Viseu. Fala-me deste teu andar trémulo e de como te custa esperar de pé. Fala-me do teu olhar vago e das palavras que entaramelas. Fala-me dessa tua descrença em chegar a 2005 para ver o metro, que na nossa cidade andará à superfície.

Falta muito para que saia o 101? Não. Mas chove que se farta, raio de dia este, eu com os pés encharcados pela minha teimosia de não carregar um guarda-chuva, tu que agora usas boina para camuflar a careca e que vens de beber o teu brandy numa qualquer taberna do Calhariz.

O Gonçalo? O Ricardo? Sim, crescemos todos. Ele está a acabar Direito, o outro está a braços com as informáticas. Eu? Estudo para jornalista. «Eh pá, mas não faças como aqueles jornalistas que a gente vê na televisão, aqueles que fazem perguntas que até metem dó. No outro dia vi um…» – sossega, que não me verás à frente de uma câmara de TV. «Antigamente ainda tínhamos o Mário Castrim, mas agora não há nenhum crítico de televisão. N’A Capital ainda há um sujeito que escreve, esqueço-me agora o nome…». Não cedes aos futebóis e comentas o exagero que foi o trato dado à morte daquele húngaro, como de repente acabou a pedofilia e a Casa Pia e a estagnação salarial na Função Pública.

«Eh pá, mas eu te peço, não faças como aqueles jornalistas que a gente vê…» – descansa, meu velho Bernardo, que por ti ou por mim ou por todos os que me estão perto ou por este sonho ou desejo que tenho, te honrarei no pedido.

«Gostei de te ver!» Eu também, saudinha da boa e talvez ainda bebamos um, ali no Calhariz.
VIP – Very Important Photographs
Concentração nos media está na ordem do dia. Por agora muito se escreve, publica e edita sobre o assunto, deveras importante – a revista Media XXI dedica-lhe um dossier central, Elsa Costa e Silva, jornalista do DN, assina “Os Donos da Notícia – Concentração da Propriedade dos Media em Portugal” (Porto Editora), só para exemplificar.

A linhas tantas de um texto da Grande Reportagem de ontem, surgiu-me a vontade de partilhar alguns dados:

O ‘arquivo Bettmann’, colecção de fotografias do alemão judeu Otto Ludwig Bettmann, conservador de livros e negociante de imagens nos idos anos 30, foi comprado pela Corbis Corporation, empresa pertencente a Bill Gates – que também detem a Saba Press, (Nova Iorque; proprietária de um milhão de imagens), a agência fotográfica Sygma (Paris; reúne 30 milhões de imagens) e o departamento fotográfico da United Press International (10 milhões de imagens).

O ‘arquivo Bettmann’ soma 11 milhões de fotografias de valor inquantificável, pois “abarca a arte e a vida do mais importante século da humanidade”. Nele se podem encontrar virtualmente todas as fotografias-marco de que nos possamos lembrar, desde a língua de Einstein, passando por Marilyn sobre um respiradouro do metropolitano, Buzz Aldrin a passear-se na Lua, a cobertura extensiva das duas Guerras Mundiais e do Vietname, assim como um amplo leque documentando os vários presidentes norte-americanos.

O ‘arquivo Bettmann’ está guardado numa antiga mina de calcário, numa montanha da Pensilvânia, 70 metros abaixo do solo, a temperaturas abaixo e perto de zero graus. A Montanha de Ferro, como é apelidado o complexo, “tem serviço de bombeiros próprio, força de segurança armada, sistemas de filtragem de ar e água, desumidificadores gigantes e geradores de electricidade que permitem o funcionamento autónomo do complexo durante, pelo menos, uma semana, caso aconteça alguma coisa à superfície.”

O projecto da Corbis Corporation? Digitalização do monumental arquivo, tendo em vista a sua conservação – espírito missionário – e posterior comercialização das imagens. “A ideia de uma ‘McDonaldização’ da cultura, como lhe chamam, em que pequenas empresas são engolidas por grandes companhias até existirem apenas dois Golias – no caso da fotografia, a Corbis e a Getty Images – é aberrante para muitos fotógrafos.”

E não será?

sábado, 24 de janeiro de 2004

(...)

R - “Detestas vigaristas, mas olha que Portugal está cheio deles. Putas e vigaristas é o que menos falta.”

J - “Lá nisso somos bem abastecidos, em quantidade. Já em qualidade, como em quase tudo, até nisso deixamos a desejar. Os vigaristas são amadores e as putas são feias. Nos países civilizados as putas são bonitas e os vigaristas usam gravata, têm grandes mansões e rabejam a justiça sem fugir do jardim.”

(...)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

Pérola académica
“Eu não gosto de notícias e nem sabia que havia um conflito entre Israel e a Palestina... O meu pai é que me disse que isso era um bom tema para a apresentação oral...”

Aluna do 1º ano de uma licenciatura em Comunicação Social e Cultural

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

“Tu, Margarida, inda és muito novinha,
Inda não és lá muito espertinha,
Há muita coisa que não sabes fazer.
Aqui entre nós, chega-te, escuta:
Já que te fizeste mesmo puta,
Faz as coisas como deve ser.”

Valentim, em Fausto, de Goethe

terça-feira, 6 de janeiro de 2004

Bala de borracha que resultou mortal

Disse o que não devia ou o que custou ouvir. Não tenho o dom impossível da verdade mas, o que disse, sinto-o – não há qualquer interesse nas minhas palavras. Disse o que disse porque realmente o penso. Mas sim, talvez não tenha pensado antes de o dizer.

Creio, contudo, que não fui interpretado na totalidade. Mas quando se gosta é difícil achar o contrário. Assusta até a própria ideia. Pode mesmo magoar.

E magoei. Noto agora que feri, apunhalei uma convicção, um sentimento. E o sangue que escorre não é possível deter com as minhas mãos, porque me passa por entre os dedos e escapa, veloz e fatal; porque a vítima nem deixa que lhe toque, asco, pânico, dor e cólera pelo que fiz – vê-se nos seus olhos, que não me olham, e nos gritos mudos que dá.

Qual criança que, partida a jarra, soluça em choro por a não conseguir juntar de novo, atabalhoado perco a acção e a força e caio do alto de mim, desmorono-me no reconhecimento do mal que fiz e que me não cabe desfazer.

Sou muito estúpido e o pior é que por um crime destes não se vai preso – é-se eternamente julgado.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

Foguetes de 03 para 04

A mercearia da Adelina
Hoje, uns bons sete ou mesmo oito anos desde a última vez que ali entrei, cheirei os mesmos cheiros, encontrei o pão e as bolachas e o arroz e a farinha e o Nestum e as garrafas de Sumol todos nas mesmas prateleiras, nos mesmos exactos lugares. “Então já tens vinte e quantos?”

Réveillon
Em panfleto de papel azul de 70 gramas, a Academia Almadense convidou-me para a “Grande Noite de Réveillon, abrilhantada pelo conjunto musical Via Verde”, na maior alegria da maravilhosa soirée, com “marcação de mesas na Secretaria” e não fazendo esquecido o “Esmerado Serviço de Bar”.

Vacances
Tanta merda para fazer, mas tão pouca vontade de cagar.

Transcrição
“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde está o palácio se o não fizerem ali?” | BS (FP)

SONB$ - local de encontro de intelectuais e oligarcas
A fotografia a preto-e-branco mostra uma mulher morena, de cabelo escuro, com ligeiras sardas no nariz e abaixo dos olhos, lábios bem desenhados, mãos cuidadas e unhas pintadas de negro (ou vermelho?); veste uma camisola sem mangas, podendo ler-se “Rich” no peito; as calças são claras, largas e de cintura descida, sustidas por um cinto negro; é toda uma figura cosmopolita, urbana; está sentada num sofá branco, com a mala ao lado, e olha-me de forma… sedutora?
“Imagine um local onde as mulheres são todas modelos e os homens são todos milionários. Onde a ementa só tem iguarias do outro lado do planeta e uma garrafa de vodka custa mais de 500 euros.”

Seis da tarde depois de uma directa
É um contentamento quase infantil, aquele que sinto quando me sento e a tinta flúi, com gosto e certo gozo, por entre temas e estórias de treta, mesmo apesar do monte de merdas que tenho para fazer.

Subscrevo
“É preciso começar por reconhecer que escrever, sem ser para um destinatário concreto (…), não é uma actividade natural. É contra-natura.” | MEC