domingo, 22 de janeiro de 2006

Fodam-se todos!
Isto foi suficientemente "validamente expresso"?

Tenho vergonha de viver num país onde um voto branco vale tanto como um nulo, num país em que um voto branco não é "validamente expresso".

Votar branco é o mesmo que um voto com uma cruz mal colocada, fora do quadrado, possivelmente feita por um idoso? Ou com cruzes em todos, como protesto? Ou é o mesmo ainda que um recado escrito no boletim, do estilo "vocês querem é poleiro"? Um voto branco é o mesmo que isto? Um voto branco não é a expressão individual do não reconhecimento do eleitor em nenhuma das candidaturas apresentadas? Caramba!...

Nas eleições de 1969 votavam os homens maiores de 21 anos, ou casados, e as mulheres que fossem proprietárias ou tivessem curso superior. Os analfabetos, nem recenseados estavam. Nos meios rurais, delegados recolhiam os boletins de voto, a fim de serem posteriormente depositados em urna, e a mesa dava-se ao direito de impedir a entrada em urna de votos cujo boletim estivesse sujo. Alguns mais esclarecidos lutavam e acabavam por depositar o boletim, que o lugar para anulações é aquando da contagem, e não antes.

Estamos em 2006. Tenho vergonha de viver num país onde um voto branco não é "validamente expresso".

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Revista Fest Forward à venda nas bancas
Janeiro traz consigo mais uma novidade: o segundo número da Fest Forward - "a revista de todos os festivais" tem distribuição nacional e está disponível em mais de 2400 pontos de venda, como qualquer jornal.


Os conteúdos são:

Fest Forward n.2 — Inverno 2006 (Jan-Mar)
Fest Apresenta
Primeiro filme português na Coreia do Norte / Phono'05 — Serviço público a precisar de apoio público

Destaque
Fantasporto 2006, c/entrevistas a Beatriz Pacheco Pereira e Mário Dorminsky / Agenda Fantasporto 2006

Forward Cinema
Sundance / Premiers Plans d'Angers / Doc Point Helsinki / Tampere / International Short Film Festival / Festival de Gérardmer — Fantastic'Arts Berlinale / ZagrebDox / Animac / Sofia International Film Festival / RAF / Panorama / Festival de Cinema de Las Palmas

Forward Teatro
Santiago a Mil / Escena Contemporanea

Forward BD
Angouleme

Forward Artes Plásticas
Arco / Arte Fiera / Feira Internacional de Arte Contemporânea de Innsbruck, Áustria / Bienal Whitney de Arte Contemporânea / The Armory Show / Bienal de Arte Contemporânea de Berlim

Forward Música
Big Day Out / Baja Prog

Rec — Entrevistas
Carlos Matos — Fade In / Wraygunn / Ilse van Velzen — documentarista holandesa / Costa Gavras — realizador

Stop — CDs
Boedekka / Cat Power / Lupanar / Carlos Bica
Stop — DVDs
Wal Mart / Mind My Gap — Rosto / Live 8 / The Ross McElwee DVD Collection
Stop — Livros
Roteiro Breve da BD em PortugalDádá-Zen — Pintura-Escrita

Rewind Cinema
Imago / Festa do Cinema Francês / Sitges / Doc Lisboa / Cinanima / FIKE / Nippon Koma / L'Alternativa / Kosmopolis

Rewind Design
ExperimentaDesign

Rewind Pluridisciplinar
Temps D'Images

Rewind BD
FIBDA

Rewind Dança
Quinzena de Dança de Almada

Rewind Artes Plásticas
Arte Lisboa

Rewind Música
Número Festival / Seixal Jazz / Wintercase / Trans Musicales / Festival Best Off

Play
Agenda de Festivais para Janeiro, Fevereiro e Março

Tudo isto em 68 páginas, formato A5 e a cores, por apenas dois euros.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

(fazer) jornais, jornalismo e jornalistas
«São três da manhã do dia 30 de Dezembro. Cabe-me fechar o DNA com a mesma satisfação e amor com que tive o privilégio de o conceber e “abrir”. Não quero lágrimas nem choros — porque sei bem que um suplemento de jornal não é mais do que isso mesmo: um suplemento, um complemento. Mas também não quero passar ao lado de tudo o que o DNA significou para dezenas de pessoas que o concretizaram, ou para as dezenas de milhar que o leram. Que o amaram ou odiaram. Que nunca lhe foram indiferentes. (…) Tudo o que começa tem um fim. O DNA começou — vai para dez anos — e chega hoje ao fim.»
Pedro Rolo Duarte, DNA, 6 Jan 2006

Fui leitor do DNA durante alguns anos e o DNA foi o meu suplemento de imprensa favorito.

Durante esses anos acompanhei os editoriais do Pedro Rolo Duarte, aqueles em que ele falava dos primeiros passos na profissão, das férias na Zambujeira do Mar, das vicissitudes de fazer jornalismo, das noites que reservava à escrita daqueles mesmos editoriais. Aqueles editoriais a que tantas vezes ele levou o filho, que, descobri hoje, foi o bebé da primeira capa do DNA e é o miúdo da última. Há dias a Diana deu-me um papelinho, onde tinha anotado esta citação: «o jornalismo é frequentemente vivido como uma paixão, tende a preencher todo o espaço da existência, a colonizar a vida familiar e os lazeres». Agora compreendo o Pedro. Agora espero que a Joana, a Diana, o Tiago, o Ricardo, a Ana, a Celeste, a Lília, a Lena, a Maria, o Zé, o Paulo, a outra Ana, o Luís, a Margarida, e todos os outros, para não me esquecer de nenhum, me compreendam também, quando recuso os desafios e os convites, quando desapareço durante semanas.

Construir um produto de imprensa é muito mais intenso do que trabalhar num. Mas, é também algo apenas acessível a uns poucos privilegiados. O Pedro foi um desses. Eu sou um desses.

Levantar, tijolo a tijolo, uma edição de jornal ou revista é um prazer peculiar. Recolher e escolher temas. Distribui-los pelos redactores, hierarquizá-los no plano de edição, página a página, o que fica onde, com que espaço e se terá imagem. Receber as primeiras versões dos textos e ser surpreendido com sua a qualidade (má, publicável, boa, muito boa). Receber as segundas, já modificadas. Tentar titular, disciplina difícil. Acompanhar a revisão e fazer cumprir as convenções. Porque ainda não temos um livro de estilo terminado e adoptado, discutir marcações de discurso, itálicos, aspas subidas ou normais, pelicas ou simplesmente redondo. Procurar e escolher fotografias. Fechar a edição. Ter que optar e deixar “cair” alguns textos. Maquetizar e fazer caber tudo no espaço disponível, passando horas sentado ao lado do grafista. Introduzir correcções no material já paginado. Imprimir as páginas para revisão gráfica. Construir a capa, e para tal escolher a fotografia, redigir a manchete e optar pelos destaques. Juntar tudo num só ficheiro final, que viajará num CD até um armazém em Rio de Mouro. Voltar ao armazém um dia depois para olhar os fotolitos. Regressar passadas outras 24 horas para olhar as primeiras folhas enormes, cuspidas pela “plana” ruidosa — ainda não cheguei à rotativa — e acompanhar o ajuste das cores. Mais um dia e nova fase, com dobragem, corte e montagem. No dia seguinte, a distribuidora recolherá os milhares de revistas para iniciar a distribuição pelo país. Só é pena que, mais tarde, quando for um profissional na verdadeira acepção da palavra, me limite(m) a escrever e perca tudo isto.

No princípio disto tudo está o prazer de fazer uma revista para os leitores, a nossa razão de existir.

Para mim, à data presente, tenho o privilégio de já ter ajudado a construir três revistas, duas em papel e uma electrónica: uma estudantil, outra de informação desportiva e a terceira, a presente, a primeira no género em Portugal. Além destas, já tive a oportunidade de trabalhar para outras duas, igualmente em papel e bits e bytes.

O melhor que retiro destas experiências é a aprendizagem, todo o manancial de informação e conhecimentos, a prática, errar e aprender com os erros, perceber e aplicar o que os teóricos da arte escreveram sobre as técnicas, a conduta, a ética e a deontologia.

A cada número que passa, erro. A cada número que passa, tento cometer um erro diferente.

Hoje percebo porque é que «um jornal sem gralhas é como um jardim sem flores», mas continuo a preferir que as provas sejam revistas por tantos quantos não tenham lido os textos, e continuo a detestar palavras truncadas em finais de parágrafos. Hoje percebo porque são incompatíveis actividades de assessoria e jornalismo, porque senti na pele a dificuldade do distanciamento e imparcialidade, ou tão somente pelo receio de comprometimento por usar ou excluir determinada palavra. Hoje percebo porque é que o jornalismo é «a disciplina da verificação», porque apercebi-me, depois de publicado, que um texto contemplou algumas informações imprecisas, cuja correcção estava ao meu alcance.

Hoje percebo que não quero fazer outra coisa na vida. Hoje acho que o Pedro também não.

Hoje sinto que amanhã estarei em condições de pedir o cartãozinho vermelho. Só que o Pedro já o tem.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

«Na véspera de não partir ao menos não há que arrumar malas, nem que fazer planos em papel»
Queria escrever-te, mas doem-me os olhos e a cabeça não pára de latejar. É tarde, como de costume. E tu desapareceste.