terça-feira, 6 de janeiro de 2004

Bala de borracha que resultou mortal

Disse o que não devia ou o que custou ouvir. Não tenho o dom impossível da verdade mas, o que disse, sinto-o – não há qualquer interesse nas minhas palavras. Disse o que disse porque realmente o penso. Mas sim, talvez não tenha pensado antes de o dizer.

Creio, contudo, que não fui interpretado na totalidade. Mas quando se gosta é difícil achar o contrário. Assusta até a própria ideia. Pode mesmo magoar.

E magoei. Noto agora que feri, apunhalei uma convicção, um sentimento. E o sangue que escorre não é possível deter com as minhas mãos, porque me passa por entre os dedos e escapa, veloz e fatal; porque a vítima nem deixa que lhe toque, asco, pânico, dor e cólera pelo que fiz – vê-se nos seus olhos, que não me olham, e nos gritos mudos que dá.

Qual criança que, partida a jarra, soluça em choro por a não conseguir juntar de novo, atabalhoado perco a acção e a força e caio do alto de mim, desmorono-me no reconhecimento do mal que fiz e que me não cabe desfazer.

Sou muito estúpido e o pior é que por um crime destes não se vai preso – é-se eternamente julgado.

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