terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

@ Porto, Fantasporto - 1
Porque é que chego ao Porto e um casal de velhotes sem-abrigo me pede moedas?

O expresso, que de expresso tem pouco, chega à Garagem Batalha, um tipo de barracão de tecto muito alto e muito apertado, demasiado pequeno para o tamanho dos autocarros, que se acotovelam em manobras de estacionamento e inversão de sentido, porque só existe uma porta, a de entrada e saída, para carros e passageiros.

Está sol, quando chego, e a cidade está ocupada daquele movimento de feriado, acrescendo a miudagem mascarada e as fitas pelo chão. Há menos carros a circular.

Depois de me instalar no hotel, a cinco minutos da Avenida dos Aliados, vou para o Rivoli — afinal, o que me traz aqui é cinema. À entrada percebe-se porque tem o Fantasporto o epíteto de festival internacional: é mesmo um festival internacional. Boa organização, patrocínios/parcerias que bastem e dinheiro a rodos, é o que deixa transparecer a entrada do Rivoli: a Super Bock, a SIC, a Fossil, you name it. A capacidade de atrair dinheiro constrói-se com qualidade. E o Fantasporto é um excelente exemplo.

No foyer, dois pisos acima, ouve-se falar inglês, castelhano, francês e alemão. O convívio é agradável, nesta sala com vidraças até ao tecto e vistas deitando para mais uma das praças da baixa, a D. João I, um espaço onde se distribuem mesas de madeira, um recanto para conferâncias de imprensa e puffs coloridos. Por aqui deambulam realizadores, jornalistas e elementos do júri, entre cervejas, aconchegos para o estômago e conversas sobre cinema, das técnicas às fitas, dos géneros aos estilos.

Na sala passa uma fita bem ao estilo old school — zombies. Passo esta e retomo para um olhar pela cinematografia russa, mais logo.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

A tragédia televisiva
1) É a sociedade que caracteriza os acontecimentos como trágicos, e não a televisão.

2) As tragédias são «factos sociais totais» (Mauss), fenómenos simultaneamente jurídicos, económicos, religiosos e mesmo estéticos, que abalam as instituições e instalam o conceito de crise, tudo isto numa unidade de tempo, acção e lugar.

[este conceito de «tragédia» aplica-se, então, aos acontecimentos de Timor em 1999, queda da ponte de Entre-os-Rios em 2001, 11 de Setembro de 2001 e 11 de Março de 2003]

[os acontecimentos de 7 de Julho de 2005, em Londres, não foram analisados]

3) Esta situação de crise poderá ter expressão directa e clara no campo político: o ministro Jorge Coelho demitiu-se cinco horas depois da queda da ponte de Entre-os-Rios (e ainda há que pensar se o acontecimento não influenciou o mau resultado do PS nas autárquicas pouco tempo depois, após as quais o primeiro-ministro António Guterres se demitiu); nos EUA, porque o contexto sociocultural é diferente, Bush legitimou-se e reforçou-se (e foi re-eleito) após o 11 de Setembro.

4) O centro dos acontecimentos desloca-se: Entre-os-Rios passou a ser o centro, com o poder político, a Igreja e os media diariamente no local; a mesma lógica nos EUA, cujo centro se deslocou para Nova Iorque.

5) A sociedade transforma-se em comunidade.

6) As tragédias têm um desfecho: a portuguesa terminou com a imagem simbólica do primeiro-ministro vendo pelos binóculos o resgate do autocarro submerso; a norte-americana terminou com a missa religiosa proferida na sexta-feira seguinte ao acontecimento, na presença do Presidente Bush e restante poder político.

Desta forma se pode olhar para a queda da ponte de Entre-os-Rios, o 11 de Setembro de 2001 e o 11 de Março de 2003 como «tragédias televisivas».

Estes foram os ensinamentos que retirei da palestra hoje proferida por Eduardo Cintra Torres, na Universidade Católica Portuguesa (UCP) em Lisboa, sob o tema «A tragédia televisiva: um género dramático da informação audiovisual», tese de mestrado de Cintra Torres e o assunto do seu livro agora chegado aos escaparates.

O 2º Ciclo de Seminários de Investigação em Ciências da Comunicação da UCP vai-se revelando interessante.

sábado, 11 de fevereiro de 2006

Novidades...
...na barra aqui do lado. Espreite-se Celofane, Transistores, Jota e Barriguita; noutra prateleira estão Elas e nós, Estudos, Ele digital, Da Invicta, Paragem diária, António, Da Beira e Travessias; a Tasca mudou a gerência, há já algum tempo, e perdeu um cliente. Azareco.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

O libertino

Johnny Deep, actor. Ou Luíz Pacheco, escritor?

Ai o frio e a falta de chuva
Há um ano também era assim. Confirmem aqui.