sábado, 24 de janeiro de 2004

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R - “Detestas vigaristas, mas olha que Portugal está cheio deles. Putas e vigaristas é o que menos falta.”

J - “Lá nisso somos bem abastecidos, em quantidade. Já em qualidade, como em quase tudo, até nisso deixamos a desejar. Os vigaristas são amadores e as putas são feias. Nos países civilizados as putas são bonitas e os vigaristas usam gravata, têm grandes mansões e rabejam a justiça sem fugir do jardim.”

(...)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

Pérola académica
“Eu não gosto de notícias e nem sabia que havia um conflito entre Israel e a Palestina... O meu pai é que me disse que isso era um bom tema para a apresentação oral...”

Aluna do 1º ano de uma licenciatura em Comunicação Social e Cultural

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

“Tu, Margarida, inda és muito novinha,
Inda não és lá muito espertinha,
Há muita coisa que não sabes fazer.
Aqui entre nós, chega-te, escuta:
Já que te fizeste mesmo puta,
Faz as coisas como deve ser.”

Valentim, em Fausto, de Goethe

terça-feira, 6 de janeiro de 2004

Bala de borracha que resultou mortal

Disse o que não devia ou o que custou ouvir. Não tenho o dom impossível da verdade mas, o que disse, sinto-o – não há qualquer interesse nas minhas palavras. Disse o que disse porque realmente o penso. Mas sim, talvez não tenha pensado antes de o dizer.

Creio, contudo, que não fui interpretado na totalidade. Mas quando se gosta é difícil achar o contrário. Assusta até a própria ideia. Pode mesmo magoar.

E magoei. Noto agora que feri, apunhalei uma convicção, um sentimento. E o sangue que escorre não é possível deter com as minhas mãos, porque me passa por entre os dedos e escapa, veloz e fatal; porque a vítima nem deixa que lhe toque, asco, pânico, dor e cólera pelo que fiz – vê-se nos seus olhos, que não me olham, e nos gritos mudos que dá.

Qual criança que, partida a jarra, soluça em choro por a não conseguir juntar de novo, atabalhoado perco a acção e a força e caio do alto de mim, desmorono-me no reconhecimento do mal que fiz e que me não cabe desfazer.

Sou muito estúpido e o pior é que por um crime destes não se vai preso – é-se eternamente julgado.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

Foguetes de 03 para 04

A mercearia da Adelina
Hoje, uns bons sete ou mesmo oito anos desde a última vez que ali entrei, cheirei os mesmos cheiros, encontrei o pão e as bolachas e o arroz e a farinha e o Nestum e as garrafas de Sumol todos nas mesmas prateleiras, nos mesmos exactos lugares. “Então já tens vinte e quantos?”

Réveillon
Em panfleto de papel azul de 70 gramas, a Academia Almadense convidou-me para a “Grande Noite de Réveillon, abrilhantada pelo conjunto musical Via Verde”, na maior alegria da maravilhosa soirée, com “marcação de mesas na Secretaria” e não fazendo esquecido o “Esmerado Serviço de Bar”.

Vacances
Tanta merda para fazer, mas tão pouca vontade de cagar.

Transcrição
“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde está o palácio se o não fizerem ali?” | BS (FP)

SONB$ - local de encontro de intelectuais e oligarcas
A fotografia a preto-e-branco mostra uma mulher morena, de cabelo escuro, com ligeiras sardas no nariz e abaixo dos olhos, lábios bem desenhados, mãos cuidadas e unhas pintadas de negro (ou vermelho?); veste uma camisola sem mangas, podendo ler-se “Rich” no peito; as calças são claras, largas e de cintura descida, sustidas por um cinto negro; é toda uma figura cosmopolita, urbana; está sentada num sofá branco, com a mala ao lado, e olha-me de forma… sedutora?
“Imagine um local onde as mulheres são todas modelos e os homens são todos milionários. Onde a ementa só tem iguarias do outro lado do planeta e uma garrafa de vodka custa mais de 500 euros.”

Seis da tarde depois de uma directa
É um contentamento quase infantil, aquele que sinto quando me sento e a tinta flúi, com gosto e certo gozo, por entre temas e estórias de treta, mesmo apesar do monte de merdas que tenho para fazer.

Subscrevo
“É preciso começar por reconhecer que escrever, sem ser para um destinatário concreto (…), não é uma actividade natural. É contra-natura.” | MEC