«Portugal já foi anexado no mapa dos investimentos espanhóis. Em cinco anos, as mais de 2.000 empresas espanholas a operar em Portugal investiram 10 mil milhões de euros no país, que deixou de ser visto como um mercado externo para passar a fazer parte das regiões da Ibéria. “Nuestros hermanos” não param. O próximo passo desta invasão será a abertura de um novo armazém da cadeia El Corte Inglês. Depois de Lisboa e Gaia, segue-se Évora. Na banca, os nervos estão em franja, com receio de uma megaofensiva do BBVA. É que o sistema financeiro nacional foi abalado quando o Santander comprou o Totta de António Champalimaud e agora os dedos apontam para a aquisição do BPI e para as compras que o Popular quer fazer em Portugal. Tudo uma semana após a aquisição do Grupo Media apital pela Prisa do Jornal El País. Os espanhóis marcam presença em quase todos os sectores da actividade e nem a segurança foge à regra: a Prosegur ganhou o concurso dos aeroportos portugueses.»
Expresso, 30 Jul 2005, Economia & Internacional
Nem mesmo uma área de actividade desqualificada como a segurança as nossas empresas conseguem/querem agarrar? Mas, e os ‘tugas? Ah, claro, andam a construir [obviamente... saberão fazer mais alguma coisa?] em África e no Brasil, onde há dinheiro fácil. Mais fácil ainda que o nosso.
Como escreve, e bem, Nicolau Santos, os espanhóis estão a tomar posições em cinco áreas bem definidas: telecomunicações, energia, água, banca e media. «Perceberam ou é preciso explicar?» As páginas do Expresso deste fim-de-semana fazem o retrato.
Banca
A banca espanhola controla directamente cerca de 15% do sector financeiro português (Santander comprou o Totta a Champalimaud; Banco Popular comprou o BNC a Américo Amorim; BBVA analisa compra de um banco português de «média dimensão») e indirectamente a catalã La Caixa detém 16% do BPI e o Banco Sabadell é o maior accionista do Millenium BCP.
Construção
As construtoras espanholas controlam cerca de 30% do mercado português. A Sacyr comprou a Somague; ACS, número-um em Espanha, detém 10% do Grupo A. Silva&Silva e 45% da Sopol e da CME; Ferrovial detém a Ramalho Rosa; FCC é dona da Cobetar.
Imobiliário e Hotelaria
O Grupo Prasa tem interesses no Algarve e em Loures, além de ter comprado interesses da Lusotur em Vilamoura. No imobiliário português operam ainda as espanholas Hercesa, Aguirre Newmann, WLAR e Reália.
Na hotelaria, as cadeias NH e AC já têm unidades em Lisboa; a Sol Hott soma 11 unidades no país; a Hotusa já inaugurou o primeiro de três hotéis em Portugal, além de deter a gestão de cerca de uma centena de unidades; o Grupo Pransor controla os hotéis AS e as lojas de conveniência ARS.
Combustíveis
A Repsol é a segunda maior distribuidora em Portugal, depois da Galp e após ter comprado a rede Shell. A Cepsa, com 150 postos, está em quarto lugar.
[A Galp quer acabar com a refinação, para se dedicar ao gás natural (mais rentável, porque mais barato de operar - afinal, são só tubos, não é?). Se o fizer, deixa Portugal dependente não da matéria prima petróleo (como já é), mas também (e mais grave) do produto acabado!]
Energia
A Endesa está no capital da Tejo Energia e Central Termoeléctrica do Pego, além de ter comprado a Finerge (ramo eólico; comprou à Somague). A Iberdrola e a Gamesa são concorrentes (com a Galp) ao concurso de atribuição da energia eólica em Portugal. A Iberdrola detém 4% e 5,7% na Galp e na EDP.
Pronto-a-vestir
O Grupo Inditex controla a Zara, Massimu Dutti, Pull&Bear, Stradivarius, Oysho, Zara Home, somando 250 lojas. O Grupo Cortefiel, além das mega-lojas com o seu nome, detém as Springfield, Women's Secret, Pedro del Hierro, Douglas e Milano, totalizando mais de 50 unidades.
Alimentar
No sector alimentar os espanhóis têm uma quota não inferior a 15%. Panrico, Campofrio, Nutrexpa, La Menorquina e a líder mundial nos ultracongelados de peixe, Pescanova - são todas nossas conhecidas.
Media
O Grupo Prisa comprou a Media Capital (TVI; revistas Lux, Maxmen; jornal Metro; publicidade exterior e conteúdos para internet, como os portais Agência Financeira, Portugal Diário, Mais Futebol e IOL; rádios Comercial, Best Rock, Cidade e Rádio Clube Português). A Recoletos domina a imprensa económica, detendo o Diário Económico e o Semanário Económico. A Prensa-Ibérica fechou A Capital e O Comércio do Porto, na falta de comprador. Na distribuição, a Logista (ex-Midesa) reparte o mercado com a VASP - uma distribui o Público e outra o Expresso, por exemplo, além de dezenas de outros títulos.