quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Foi há 15 anos

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

As roupas de Jorge
Este é um dos mais bonitos poemas de Jorge Ben Jor. Nele encontro uma lição de força, perseverança e coragem. Aqui pela voz de Caetano Veloso, que lhe confere uma grandeza diferente e arrepiante (excerto de “Prenda Minha”, 1999).


Jorge sentou praça, na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia

Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem
Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo pensamento eles possam ter, para me fazerem mal

Armas de fogo, meu corpo não alcançarão
Facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes arrebentem sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge

Jorge é de Capadócia
(…)



Também quis vestir as roupas de Jorge. Para não deixar que te levassem, porque o tempo que cá estiveste não foi longo nem curto, foi pouco. Assim que foste, muito se desmoronou, como se fosses tu quem nos envolvesse, mesmo apesar de as tuas mãos não conseguirem abrir um frasco de mel.

Não eras propriamente corajosa, até pelo contrário. Mas só nas insignificâncias. Trovejasse e sussurrarias. Fosse noite muito tarde e faltasse alguém, já não descansarias. Estivesses muito alto e não olharias. Visses infelicidade nos teus e chorarias, às escondidas.

Vi-te limpar os olhos por detrás dos óculos muitas vezes. Mas vi-te destemida entrar naquela sala fria. Não percebi quando te recusaste, julguei eu, a descansar. Mas soube logo porque querias voltar. E por isso me ofereci prontamente.

Aquela manhã foi como a de hoje: muito chuvosa e muito cinzenta. Disse-me ela: «não somos só nós que…». Conforta-me pensar nisso. Assim como crer na promessa silenciosa que te fiz; que compreendeste bem demais o que ele te disse que chegará dentro de semanas; e que não estarás sozinha a ler isto, agora.

E então te digo: não te apoquentes mais, já foi suficiente. Tudo se resolverá pelo melhor. Somos todos capazes. Da mesma forma que tu foste, lembras-te?

Também hoje eu quero vestir as roupas de Jorge.

Porque duvido muito.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

O gajo da almofada, o Nuno e os 10eur que custa
Não sou leitor assíduo deste senhor, nem ouvinte matinal — pois que, bem haja, agora os meus dias não começam tão cedo —, mas mesmo assim faço-lhe publicidade, assim como quem não quer a coisa. Mas não é por ele. É para ler o que ele escreveu — e agora estou a gabar-lhe o trabalho, hein? — sobre a peça The Pillowman, em cena no Maria Matos. Convenceu-me.

domingo, 17 de setembro de 2006

Não é para se perceber
Grande parte da obra de Almodôvar é de elogio à mulher. “Volver” é mais um. Sim, não é tão bom quanto outros. Mas, ainda assim, é. E tu que o digas, porque gostaste. E se não conheces mais nenhum Almodôvar, resolveremos isso em breve. Basta o mesmo arrojo que teve Raimunda para ensacar Paco. Porque é disso que se trata, é dessa firmeza que são feitas algumas das mulheres que conheço, e é isso que me faz gostar tanto delas. Que têm nos olhos algo mais que já convicção, uma profundidade que não precisa ser literal mas é o caminho mais franco para o coração. Que têm na boca a doçura ou aspereza, tanto faz, de quem saboreia limão sorrindo. Que têm nas mãos, mais do que a beleza ou o aprumo ou por vezes a falta de ambos, um toque suave e sempre cheio, por mais frio que esteja lá fora, que raio. Não é para se perceber.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Se Al Gore fosse eleito Presidente, ratificaria Quioto?
É esta a questão que se coloca, depois de “Uma Verdade Inconveniente”.

domingo, 3 de setembro de 2006

“Voo 93” ou a propaganda da war on terror
Apesar da minha resistência, fui convencido a assistir ao filme “Voo 93” (“United 93”, na versão original), fita que aborda o quarto voo desviado a 11 de Setembro de 2001, e que desapareceu nos céus da Pensilvânia. Quem me convenceu deve-me os 4,20eur do bilhete.

A fita de Paul Greengrass não me seduz, cinematograficamente falando. Filmada com câmara ao ombro, de resto como o seu outro “Bloody Sunday”, torna-se incomoda. A técnica pretenderá dar ao espectador a perspectiva de quem está nos locais, seja no avião ou nas múltiplas salas de controlo de tráfego aéreo, partilhando os diferentes dramas. Aliás, todo o filme vive deste pretenso voyeurismo e creio que as audiências se farão disto mesmo.

A insistência no relato do que supostamente se passou nos vários centros de controlo de tráfego aéreo, que sucessivamente foram perdendo contacto com os quatro voos, quando em simultâneo tinham lugar os acontecimentos nas torres do WTC e no Pentágono, poderá querer demonstrar os efeitos da surpresa e uma possível descoordenação entre instituições, desde as autoridades aéreas aos militares.

Mas mesmo aí, como no filme no seu todo, encontro as premissas que aos meus olhos fazem “Voo 93” um folheto de propaganda. Propaganda para a legitimação da “war on terror” que o presidente George W. Bush vem apregoando desde então. Sobre a qual semanalmente discursa — e aqui vale a pena ler a imprensa americana ou inglesa, ver a CNN, BBC ou Sky News para se ouvir os discursos na íntegra, ao invés dos 30 segundos do telejornal português.

“Voo 93”, da mesma forma que “World Trade Center” de Oliver Stone, que nos chegará brevemente, são propaganda.