domingo, 24 de maio de 2009

(desde que voltei que) durmo do lado esquerdo da minha cama
Comecei por dormir no chão, no colchão que comprei quando me mudei para esta casa, mas no chão, num metro e quarenta por dois de colchão no chão. Pensei que fosse dormir todo esticado, talvez na diagonal, espaço não faltava, mas fiquei-me pelo lado direito. Acho que o colchão até ganhou a minha forma. O colchão não e lá grande coisa, foi baratucho para o que custa um bom colchão, e não é de molas — detesto colchões de molas — e também não é daqueles assim altos.

Quando comprei a cama esqueci-me de levar também a trave central. Só dei por isso quando estava a montá-la, a armação toda de pé, o topo, as traves laterais, o fundo, os tensores nos quatro cantos, tudo pronto e a pouco mais de uma hora de ter de sair para o cinema, a dez minutos de casa. Sim, há um cinema nas traseiras de minha casa e mais dois aqui perto. Meti-me no carro e fui correndo à loja comprar a puta da trave, que por alguma razão de logística sueca não está junto das outras peças da cama. A minha cama é igual a milhões de outras pelo mundo, dizem que é a mais vendida. Foi sorte a Cátia não ter ficado chateada por eu ter chegado em cima da hora e pouco ou nada termos falado antes da fita. Ainda lhe devo um bolo de chocolate, o melhor do mundo — não posso fazer por menos. À uma da manhã desse dia de semana o meu quarto estava de pernas para o ar, o caos em torno de uma bonita cama sem estrado e sem colchão. No entanto, com a simplicidade de um lego e uma porradinha aqui, outra ali, ainda estreei uns lençóis verdes e acordei muito mais bem disposto.

Durante meses dormi ao meio da minha cama. Como não gosto de almofadas, há uma que fica sempre de fora e a outra não fica debaixo do meu pescoço mais do que até estar quase a cair no sono. Eu sei que ressono, mas só um bocadinho. A coisa boa de uma cama grande é não ter de me esticar ou levantar para deixar o livro na mesa de cabeceira ou no que lhe fizer as vezes. O bom de uma cama grande é que o livro pode logo ficar ali ao lado. Se depois acordamos em cima dele e a capa está amarrotada, isso são outros quinhentos.

Agora durmo do lado esquerdo da minha cama. Acho que há já uns meses. Tenho o hábito de adormecer ouvindo música com uns headphones. Durante anos tive um walkman com rádio digital. Tinha seis posições de memória e a antena três era a primeira. As outras já não me recordo. Sei, isso sim, que fiquei perito em mudar a cassete de olhos fechados, às escuras, debaixo dos lençóis. Tenho verdadeiras relíquias em cassete, que um dia tenho de ir buscar ao meu quarto antigo para as levar à rádio e passar umas noites a digitalizar aquelas gravações. Às vezes deixo-me adormecer ao som da europa lx — o francês embala. Ultimamente tem sido o disco do jp simões ao vivo no são luiz, ou fleet foxes, ou os do costume, miles davis ou keith jarret. Às vezes o governo sombra, graças aos podcasts.

Não sou gajo de dormir de lado. Geralmente durmo de barriga para baixo. Mas quando tenho insónias viro-me sobre o lado direito. Sempre fico de costas para a janela e o quarto parece mais escuro. Fechar o estore até abaixo dá quase sempre mau resultado. Quando tive de acordar às quatro e um quarto da madrugada comprei um aparelho temporizador para ligar ao candeeiro. Conto isto a toda a gente e toda a gente se ri, mas aquilo ajudou-me muito. Programava-o para ligar o candeeiro dois minutos antes de o despertador tocar para que quando abrisse os olhos já houvesse luz no quarto. Só assim não adormecia.

Não sei porquê, mas venho dormindo do lado esquerdo da minha cama.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A vida espectacular de


Já se adivinhava. Il Divo, prémio do júri em Cannes no ano passado, é um belo filme. Giulio Andreotti é um personagem e tanto: foi primeiro-ministro de Itália por sete vezes, protagonista de vários escândalos políticos, suspeito de ligações à Máfia e de financiamento ilegal de partidos, entre outras coisas menores. O realizador, Paolo Sorrentino, é júri no festival de Cannes este ano.

Não sendo novo, foi o melhor filme que vi no Indie Lisboa 2009.