terça-feira, 15 de setembro de 2009

Podem cancelar a campanha, Sócrates já os esmiuçou a todos
Tou a brincar, a campanha pode seguir. Mas que depois da entrevista ao Ricardo Araújo Pereira o Sócrates está lançadíssimo para uma vitória minoritária, isso está. Sócrates riu, Sócrates esteve sereno, Sócrates teve graça, Sócrates foi humano e falou da sua vida e de como nos bastidores da alta política um fulano como o Berlusconi lhe contou que em tempos foi alfaiate, confidência cuja partilha nos aproximou daquele homem que tem filhos, não levou gravata, e se sente — como é que ele disse? — privilegiado por chefiar os destinos do país. Está ganho! A não ser que a Manuela consiga rir como riu o Sócrates, as eleições estão no papo. Depois do debate com o Louçã, ganho em toda a linha, e depois das sucessivas trapalhadas da Ferreira Leite, sobretudo no seu discurso, que a senhora tem muita dificuldade em se exprimir e explicar, só faltam uns quantos malhanços a sério e à antiga nos comícios — venham de lá os Soares filhos, os ASS, os Vieiras da Silva, os Coelhos ou outros que tais — e a coisa está muito bem encaminhada. Caso contrário, se a Manuela se desfizer em gargalhadas, eu voto é no Ricardo para chefe do Governo.

373 – 508 quilómetros, Évora, Lisboa – dia 2
O arranque oficial de campanha teve promessas muito bem dirigidas. Na Sala Tejo do Pavilhão Atlântico, onde dias antes o PS havia dado um jantar bem orquestrado com o pessoal todo sentadinho nas mesas, o Bloco assegura que meteu mais de duas mil e quinhentas pessoas e que teve de recusar inscrições quando percebeu que não havia espaço para montar mesas para todos. Por isso metade ficou sentada e a outra metade teve de se contentar com o buffet volante. Ou então foi uma bela maneira de encher aquilo e criar a ilusão de óptica: a malta em pé e de bandeira colorida em punho é sempre mais malta que a malta sentada vestida de cores escuras tipo gala. Ana Drago, Luís Fazenda e Francisco Louçã não evitaram repetir que a sala fora grande para o PS e pequena para o Bloco. Adiante.

No Pavilhão Atlântico a mensagem foi muito clara: o Bloco quer crescer e para isso precisa dos socialistas descontentes com o Governo e dos indecisos com o voto em Sócrates. E porque nessa franja de eleitorado estão os professores, os jovens trabalhadores e os mais pobres, do palco atiraram-se compromissos para os primeiros dias da nova legislatura: ouvir.

Francisco Louçã repetiu a frase “estamos prontos”, que ainda não voltou a usar. Prontos para protagonizar o que pretendem que seja a maior subida dos votos à esquerda, de preferência no Bloco.

Já a frase da campanha, “justiça na economia”, serve para tudo. Malhar nos BPNs e na falta de transparência do sistema financeiro; criticar o offshore da Madeira que, dizem, custa 400eur/ano por contribuinte em receita fiscal perdida pelo Estado; clamar contra as injustiças dos prémios de gestão dos administradores de empresas que aumentam salários de trabalhadores a um ou zero por cento; e o que mais vier à rede. Tem sido todos os dias, os outros criam injustiças e eles querem repor a justiça. Se o Louçã ainda usasse o blusão de cabedal da primeira campanha era um verdadeiro Michael Knight — era Knight ou Night? Puta da memória…

508 – 832 quilómetros, Lisboa, Palmela/AutoEuropa, Santarém, Entroncamento – dia 3
O Bloco ainda vai voltar a Santarém. Já lá esteve duas vezes e a aposta é forte. Percebe-se. O Entroncamento foi onde conseguiram o melhor resultado há quatro anos, com 12,8 por cento dos votos, e onde nas Europeias subiram para 20, passando do partido menos votado no distrito para o terceiro lugar, com o dobro dos votos de então.

O cabeça de lista — e muito provável deputado — é um jovem quadro do partido, o economista José Gusmão, de 33 anos, irmão do bastante conhecido e antigo dirigente Daniel Oliveira. Escreve no blogue Ladrões de Bicicletas. Foi assessor de imprensa, tornou-se assessor político, é um dos homens fortes no aconselhamento de Louçã. O candidato já domina o discurso — pudera, é ele que o escreve — e a técnica, fala com o maior à vontade sobre desemprego e sobre injustiça social, e malha convicto e desembaraçado nas polémicas do dia-a-dia: Ferreira Leite, Jardim, o PS que elege o Bloco como inimigo número-um. Um promissor parlamentar, eu diria.

Quando puder meto aqui umas fotos e falo sobre roupa interior
Onde é que se janta no Entroncamento às oito e doze da noite? Na Golegã. Dito por um nativo: não é fenómeno, aqui não há mesmo nada. Lá fomos ao Café Central da que deve ser a única cidade portuguesa com uma rede de cavalovias, em vez de ciclovias, e onde o meio bife à central parecem dois. De vaca, frito, sem requintes de cervejaria cara, e não me refiro à apresentação, porque não tenho nada contra travessas de aço-inox, não adianta mesmo pedir mal passado porque vem sempre igual — éramos sete, sete vieram iguaizinhos. Fácil de cortar, suculenta, saborosa, a carne não se desfaz na boca como um lombo no Patanisca, em Torres Vedras — rua 9 de Abril n.º 27 fecha ao domingo 261000534 —, até porque a peça é cortada bem mais fina, mas é bem boa. Sem o molho de mostarda e manteiga também ia. Se aprenderem a substituir as batatas fritas e o arroz branco por esparregado — pois… — podem ter a certeza que ficam aí com um petisco e romarias para jantar, senhores. Pensem nisso. Como eu, que vou pensar em fazer um piqueno e médio roteiro gastronómico da campanha. Tenho é de jantar e almoçar. Coisa rara. É que estes dias têm servido para tentar aprender a conciliar ritmos de trabalho e viagem, mas sem grande sucesso, sou sincero. Nem para escrever sobra tempo e a Joana ainda se queixa que eu não twitto nem digo no Facebook por onde ando — o esforço de hoje para estas linhas foi titânico e amanhã afasto-me de vez de Lisboa e começam as longas tiradas, pelo que não esperem mais até lá para quarta ou quinta-feira. É que também estou a ganhar coragem para falar sobre um problema com umas cuecas que comprei.

3 comentários:

Anónimo disse...

Com esse ritmo e estes horários, não há memória que resista. Há uma coisa chamada ciclos circadianos, que explicam os ritmos biológicos e tal, e que seriam bom ir tomando em consideração.

O permanente discurso justicialista a favor dos impolutos pobres contra os malvados dos ricos torna-se já um bocado enfadonho, mas para quem o ouve apenas uma vez produz o seu efeito. Transformar o Estado no omnipotente justiceiro e o imposto sobre as fortunas como garante da solvabilidade da segurança social são varinhas mágicas com que os novos príncipes fariam acabar as injustiças do mercado.

Nunca se ouvirá de tais bocas um remoque contra os pobres que ganham 10 e descontam sobre 5 para a segurança social, ou contra aqueles outros que nos fazem os biscates das reparações domésticas ou oficinais sem passarem recibo e sem pagarem quaisquer impostos, ou mesmo contra os tasqueiros com lucro mínimo de 300%. Os pobres são os justos, o resto uma chusma de pecadores.

Assim como justos são os ricos que importam imigrantes, que matam a fome a esses desafortunados ainda mais pobres, e que desejam quantos mais melhor. Mesmo que os salários não subam, sempre há mais gente a comer arroz e a beber umas cervejas, porque há coisas para as quais são necessárias mais bocas para que o consumo aumente. E emigrar é também um nosso fado, que convém não largar.

Está numa encruzilhada danada, este pequeno país cheio de desigualdades, em que os pobres pouco fazem para serem um pouco menos pobres, os remediados muito fazem para não deixar de sê-lo e os ricos aproveitam as oportunidades sem risco que lhes aparecem. Inventámos a palavra quando as rotas eram longas e perigosas e incertos os proventos. Singrámos então, mas parece que também repartindo mal. Precisamos de nova audácia e melhor repartição. É difícil a mudança.

Pareceu-me longa a intervenção em directo. Sem som dos próprios, o risco da interpretação é maior. E nada melhor que a palavra do profeta para se ver a desmesura da profecia.

Continuação de bom trabalho.

Anónimo disse...

Gostei das reportagens de ontem. A do meio-dia estava muito palavrosa e com ritmo inadequado; a da noite estava bem melhor. Nada como pôr o profecta a falar da sua profecia.

O pessoal não é assim tão tosco que não perceba que o justicialista não percebe que o remédio para a injustiça gera injustiças ainda maiores.

Continuação de bom trabalho.

Anónimo disse...

Acabei de ouvir o apontamento desta noite. Gostei. Foi informação, que é a função do repórter.

E estou gostando da cobertura que a estação está fazendo da campanha.

Infelizmente, nem sempre tenho podido ouvir as edições da manhã e da tarde. Mas tenho apreciado a edição da noite.

Na edição on-line não tenho conseguido apanhar as edições que perco no directo. Parece-me que o site estará dando pouco relevo à campanha.

Continuação de bom trabalho.