quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Bom bom acaba por ser a fotografia que a RTP pôs online (Elvis ou Louçã?)
A expectativa era grande. O Bloco de Esquerda procura capitalizar o descontentamento de algum eleitorado do PS e os socialistas precisam sacudir essa ameaça bloquista e convencer esses eleitores de que o Bloco é um perigoso feudo de radicais idealistas e irrealistas. No debate desta noite José Sócrates recuperou algu
ns votos mais mecânicos e Francisco Louçã saiu de estúdio menos capaz de agarrar socialistas à beira do abismo.

podem ver o debate aqui

Agitando algumas das principais propostas do BE, como a nacionalização da banca ou do sector energético, o fim dos benefícios fiscais dos PPR, ou o fim das deduções, em IRS, das despesas com educação e saúde, Sócrates conseguiu demonstrar o radicalismo dos bloquistas e pôr a claro as diferenças ideológicas entre os dois partidos, ou o carácter ideológico mais vincado do BE, se preferirem. Porque a partir do momento em que Louçã explica que propõe o fim dessas deduções fiscais porque defende, a montante, sistemas de saúde e ensino gratuitos, pelo que não há, então, como deduzir despesas, as coisas ficam claras. E capazes de assustar suficientemente um eleitor do PS descontente com este Governo para que lhe passe a indecisão e não deixe de votar nos socialistas. A estratégia vingou, Sócrates saiu acudindo à classe média que o BE quer alvejar.


Louçã não resistiu a enveredar pelo caminho mais fácil, e mediático, de apontar baterias aos ricos e aos negócios, tudo requentado e demasiado ouvido, algo demagógico, que até pode ser verdade mas para a qual já não há paciência: levou ao debate os contentores de Alcântara, falou de mais uma auto-estrada, recordou a compra de parte da GALP por parte de Américo Amorim e José Eduardo dos Santos, e com isso não vendeu sequer o seu peixe. Nem obrigou Sócrates a explicar, de uma vez por todas, a quem vai beneficiar a política de grandes investimentos públicos, por exemplo.

Sócrates nunca foi obrigado a comprometer-se com o que quer que fosse e Louçã viu-se encostado à parede com as propostas que definem um pouco da sua base ideológica, que sem a máscara do protesto podem não agradar a alguns descontentes e indecisos. Valeu por esta discussão que, não sendo programática, é, para mim, definidora: as ideias. Mesmo assim eEsperava maior debate em torno de argumentos para caçar votos ou minimizar fugas de eleitorado, que não houve. Faltam 19 dias, está tudo em aberto.


:::: Nota de intenções ::::
Até às eleições legislativas tentarei partilhar diariamente uma breve nota de campanha. Poderá incidir na forma ou no conteúdo. Será sobre o que calhar e consoante o que acompanhar. Uma apreciação pessoal e descomprometida, para os amigos. Até para que saibam por onde ando e porque não me verão em Setembro. A única coisa por que milito é o voto, num, noutro, em todos ou em branco. A determinada altura terei de me cingir ao partido que vou acompanhar, por isso não estranhem que fale sempre do mesmo. E por agora é só isto.

3 comentários:

Anónimo disse...

Pois é. O populismo justicialista é uma arma de dois gumes e corta em sentidos opostos. Pregar contra os ricos, como o outro fez no Templo, e dar por tabela nos remediados é um autêntico tiro no pé.

Tarde ou cedo, aos demagogos acaba por cair-lhes a máscara. E este BE, e o seu pregador de serviço, é o exemplo acabado da demagogia dos "casos". E como alguns "casos" não são "casos"...

A que eleitorado procura o BE captar a simpatia e o voto? Aos pobres não é, porque afirma não disputar o campo do PCP, e isso viu-se, no cordato debate com o Jerónimo. Será à classe média urbana, esclarecida, a tal que faz PPRs?

Até agora, tem-lhe valido o voto jovem, do pessoal que ainda não percebe bem a política, mas que acha que se deve arrear nesta malandragem das negociatas, dos compadrios e das corrupções.

Esse eleitorado é rebelde e não gostará muito de ter o Estado a dar-lhe ordens e a comandar-lhe a vida, que é no fundo o meio de qualquer comunismo funcionar, seja ele de tom mais rosado, como o do BE, ou mais encarnejado, como o do PCP.

A prazo, estes pregadores justicialistas perorarão dos seus púlpitos em templos vazios. Porque a felicidade que prometem é produto inexistente, e eles charlatães de feira.

Quem havia de dizer que o Pinóquio acabava a dar bailarico a todos? Isto está mesmo muito fraco.

Um abraço.

Carlos Calaveiras disse...

eu também acho que o Sócrates ganhou este debate, quanto mais não fosse porque saiu a defender a classe média e é ai que estão os votos.

a proposta do BE faz sentido num mundo cor de rosa em que tudo é gratuito. ora, isso não é possível.

por outro lado, a estratégia do "ataque com casos" resulta até se perceber que não há outra e fica a parecer que o BE gosta que aconteça merda para continuar a picar.

claro que há uma proposta do BE que me parece que poderia ter pernas para andar: taxar mais os mais ricos e/ou as mais valias para ajudar a Segurança Social. A dúvida aqui é onde se define o escalão da riqueza

Carlos Calaveiras disse...

aliás, parece-me que o sócrates se está a safar nos debates.

apesar de muitos dizerem que seria arriscado ao PM "ir a jogo", o certo é que me parece que o homem está a conseguir passar no exame naquele estilo "estava-a-correr-tudo-espectacularmente-até-vir-a-crise-mundial-de-que-nós-não-temos-culpa-nenhuma" e "o-que-eu-fiz-e-tu-não-fizeste-enquanto-lá-estiveste"