domingo, 18 de setembro de 2005

Vinte e tal euros em revistas, parte IV

Courrier Internacional
edição portuguesa, 16 a 22 Set (semanal), n.º 24
2,50 euros 72 euros assinatura anual

Desde que lia o Pedro Rolo Duarte, ao sábado, no DNa, gabar o jornal e comentar o que lia na edição francesa do Courrier International, que suspirava por não encontrar a publicação nas bancas — excepto raras vezes numa tabacaria do CC Colombo — e mais ainda por ter deixado de praticar o francês, que hoje se resume a dizer que je ne parle pas du français e nem faço ideia se isto está bem escrito. Contudo, chegou a Portugal a edição feita pelo grupo do sr. Balsemão e só a comprei 24 semanas depois. Por ter a possibilidade de ler em português achava menos… charmoso? Não sei.

A verdade é que o jornal tem o seu interesse, é um bom produto para leitura ocasional — sim, ocasional, e não semanal. Porque qualquer serviço de clipping, selecção, tradução e corte, nunca é totalmente imparcial, objectivo — seja lá o que isso for — e desinteressado. Tal como o que faço abaixo.

Desta edição, que contém um punhado de textos relevantes, destaco excertos de um contraponto entre duas posições publicadas no Die Zeit, acerca da candidata a chanceler, Angela Merkel.

Por Susanne Mayer: «Finalmente! É possível? Um século após a obtenção do direito de votação para as mulheres, 50 anos após ter sido instituída a igualdade homens-mulheres na Lei Fundamental, 40 anos após a nomeação da primeira mulher ministra, 30 anos depois de uma mulher ter sido pela primeira vez presidente do Bundestag, ao cabo de décadas de avanços na formação das mulheres e de esforços por uma política de igualdade entre os sexos, é possível que tenhamos finalmente uma candidata à chancelaria? Uma mulher no topo da pirâmide! Em vez de provocar gritos de alegria, isso está a fazer nascer uma vaga de inquietação na Alemanha. Será que ela é capaz?, interrogam-se as pessoas. Será que a Alemanha pode permitir-se ser dirigida por uma mulher? Aliás, é uma mulher?»

Por Susanne Gaschke: «Só pode haver duas razões para votar numa mulher por ser mulher e não pelo seu programa político. A primeira seria o seu valor simbólico numa sociedade onde elas são politicamente discriminadas. Onde lhes é negada a capacidade de exercer a função de chanceler. Onde são afastadas das possibilidades de formação e de carreira e a política dos homens as põe à margem. Está longe de ser o caso da Alemanha.
A segunda razão para eleger uma mulher porque é mulher seria a ideia de que elas fazem uma política diferente, ou antes, melhor do que os homens. De que são mais meigas, mais sensíveis, mais concretas, menos pedantes. Exceptuando o biologismo que subentende uma tal argumentação, isso não corresponde em nada a Angela Merkel. O que a caracteriza é a rigidez, a ausência de escrúpulos, a vontade de poder que a anima para alcançar os seus objectivos (…) mas que não tem nada de especialmente feminino ou simpático.»

O Die Zeit é o semanário mais difundido na Alemanha, com tiragem de 490 mil exemplares, e o Courrier Internacional descreve-o como «tolerante e liberal, um jornal de grande informação e análise». Eu conheço um alemão que o lê e já me tinha passado essa ideia.

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