sexta-feira, 22 de julho de 2005

Agenda-setting

Após ler no Lóbi isto...
«Estava a ver o Telejornal (RTP) quando surge uma reportagem que relatava uma investigação a 14 alunos que alegadamente copiaram no exame de Matemática. Como não queria acreditar que esta notícia tivesse a dimensão de uma notícia nacional, mudei. A TVI estava a acabar uma peça sobre fraude no desemprego e inicia, imediatamente, a reportagem sobre a hipótese de 14 alunos terem copiado o exame nacional de Matemática.Mudei novamente. No FOX está a dar Will & Grace. Estou-me nas tintas para o país.» (post aqui)

...perdi uns minutos, embora apressados, confesso, a alinhavar este comentário:
«Existem oito principais critérios de noticiabilidade, a saber: actualidade; proximidade; proeminência; curiosidade; conflito; suspense; emoção; consequência. Não obstante a forma, certa ou errada, adequada ou não, como certos acontecimentos são tratados pela imprensa televisiva (portuguesa ou não), tento aqui ajudar a perceber (e a perceber eu mesmo, com este exercício) a noticiabilidade desse evento, a suspeita de que 14 alunos de uma escola de Braga tenham copiado no exame nacional de matemática.

A actualidade resulta aqui essencialmente do factor de oportunidade do evento, no sentido da sua contemporaneidade para com o público.

A proximidade, que será temporal, geográfica, psico-afectiva e social, justifica-se neste caso tendo em conta o destinatário daquela notícia: um jovem estudante, sua família; todos os jovens estudantes que realizaram o exame (dezenas de milhares?), suas famílias. Temporalmente, porque é esta a altura dos exames nacionais (por si e por cá, motivo de notícias variadas); geograficamente, porque é um caso bem localizado (centralizado em Braga, envolvendo 14 pessoas), mas que, por outro lado, tem alcance nacional; socialmente porque, sendo sobre uma franja da sociedade (os estudantes do 12º ano), envolve dezenas de milhares ou mesmo centenas de milhares de pessoas, directa e indirectamente (alunos, famílias, professores, sistema de ensino).

A curiosidade compõe-se de o desejo de ver ou conhecer, estimulado por factos que têm algo de estranho ou raro. Este acontecimento não será, por si, raro, pois estou certo que todos os anos haverá dezenas de provas anuladas na hora por cábulas ou afins, que não são notícia. Posteriormente, quando o corrector detecta casos estranhos, é curioso que este se construa de 14 alunos de uma mesma escola. (Faz lembrar o caso dos alunos que meteram atestado médico para não fazer exame, aí há uns anos, caso esse também bastante centralizado)

O suspense entra aqui em cena porque se trata de um caso de suspeita. Ou seja, o desfecho é desconhecido e por si, é motivo de interesse.

Agora JCS, quantas outras notícias há, mais pobres que esta em motivos para serem emitidas, todos os dias nas TVs portuguesas? Nem tudo agrada a todos os públicos. E isto é a agenda mediática a trabalhar: conteúdos diversificados para públicos variados. E pelo menos esta notícia teve interesse para uns bons milhares de miudos. Eu mesmo, se fosse há uns anos, teria ficado muito curioso. Apetece dizer: “give the kids a break”.

Abraço

P.S.: não obstante, o Verão é a época mais pobre na imprensa nacional… ainda não começaram a aparecer os cães surfistas?»

Sem comentários: