Na cidade do rock amanhece muito depressa
Desde logo porque o El Rock é o bar mais antigo do Largo da Oliveira, no centro histórico de Guimarães, e junta ali muita gente diferente, desde a malta dos futebóis aos turistas estrangeiros. Guimarães também não é assim muito grande e a zona boémia, para beber um copo e conversar, de noite ou de dia, parece ser mesmo por ali, naquelas pracinhas e larguinhos ladeados de casas de pedra cinzenta, telhados pronunciados para contrariar a neve, varandas e janelas de madeira decoradas com dezenas de bandeiras da fundação, a que tem uma cruz azul sobre fundo branco, o símbolo do Condado Portucalense que diz que é derivada do pendão de Henrique de Borgonha, o primeiro a mandar no burgo. Ali há esplanadas de cafés, de bares e de restaurantes para todos os gostos e todos gostámos, sobretudo das pessoas. O Convívio, no Largo da Misericórdia, uma associação cultural e recreativa fundada em mil novecentos e sessenta e um, é ponto de passagem obrigatória para se encontrar com quem conversar sobre o que quer que seja. Com a Mafalda, a nostálgica, sobre a capital europeia da cultura daqui a dois anos, com a Raquel, a do sorriso, sobre os desejos para o futuro da cidade e o problema do desemprego no concelho, com o João, o da máquina ao peito e dentes amarelos, sobre fotografias e a dona Suze. O Convívio está, por exemplo, na origem do Guimarães Jazz e se te disserem que fecha às duas da manhã isso é mesmo um boato, porque nunca saímos dali antes das cinco, que tem a particularidade de ser a hora ideal para caminhar até ao tio Júlio, ali próximo à praça do Toural, onde meia Guimarães vai aconchegar o estômago com tostas com molho especial, francesinhas, hambúrgueres, cachorros, moelas ou o que mais houver feito pela mulher do tio Júlio.
Não há reclamos luminosos nas paredes nem sinais nas duas portas verdes de metal, mas qualquer pessoa sabe indicar o sítio, que é minúsculo, tem uma tostadeira e uma pequena chapa que só mesmo com a destreza do chefe é que dão conta da avalanche de pedidos quando a noite começa a clarear. O hambúrguer leva queijo, maionese, ketchup e mostarda, para agradar a todos, mas o melhor é mesmo o bem que faz e o preço. Ou a organização da casa: o tio Júlio chega às seis da tarde e fica até de manhã, até às oito ou nove, conforme o negócio, até que se fecha a porta durante meia hora para que a dona Rosa, a mulher do patrão, limpe tudo com aprumo e torne a abrir até ao final da tarde, que é quando regressa o homem da casa. São vinte e três horas e meia sobre vinte e três horas e meia há mais de vinte anos, com descanso na véspera de Natal e pouco mais. De dia, que chega sempre depressa demais, está quase vazio, mas o café é bem melhor que o da pousada de juventude, mesmo ali ao lado, que é uma aposta seguríssima, ao contrário da de Ponte de Lima, como se verá.
Subimos à Penha no teleférico, vimos as vistas desde o templo mariano que está no topo do monte de onde os betetistas da terra praticam o downhill, conquistámos o castelo e demos um abraço ao Afonso. Falhámos o Centro Cultural Vila Flor, as Dominicas e o CAR. Estaremos de regresso em Novembro, a vinte e nove, para a festa do pinheiro, e já sabemos onde vamos jantar: no & Etc, onde não há nada mau. Uma simples casa de óptimos grelhados com um vinho verde de marca própria e onde a sobremesa é inqualificável: uma travessa cheia de fruta e pedaços de cada um dos doces que a casa tiver na carta naquela noite — impossível comer tudo. Não faz almoços, não aceita marcações, o patrão não sorri e não quer lá mariquinhas, que é coisa que não serve ao John Portsmouth Football Club Westwood, o mais emblemático adepto do clube inglês que foi a Guimarães perder dois jogos.
O tipo mudou o nome, está todo tatuado com motivos alusivos ao jogo, mede uns dois metros, pesa uns cem quilos e tem capacidade para transportar uma dezena de litros de álcool na barriga. Vê-se bem ao longe porque anda despido a rigor, de calção, colete, chapéu e botas de xadrez azul e branco. O cinto tem umas luzinhas a piscar e a dizer hello. E apesar de intimidar é mesmo simpático. De cinco em cinco minutos lembrava-se de gritar num tom muito rouco e grave “vitóóóóóória” e “puuuuoooorrtsmuth”, que se percebia logo porque as bebidas pousadas nas mesas num raio de cinco metros começavam a vibrar — podem ler sobre ele aqui e aqui. O David adorou conversar com o Adam, ou o Dave, já não sei, um dos ingleses que se sentou connosco e passou duas horas a oferecer da sua amêndoa amarga, que bebia da garrafa que lhe custou apenas três euros no supermercado, encantado com Portugal. Quem não fica?
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1 comentário:
puuuuooooorrtsmuth :D
cagar a rir com esses gajos!
grandas amigos que quase caiamos no erro de os levar para o convivio, lol!
ia ser lindo.. partiam aquilo td!
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