quinta-feira, 9 de julho de 2009

Da bifana, ou como detesto que uma mulher me deixe pendurado
Uma bifana grelhada faz logo diferença. Não só porque é mais saudável, no que há de saudável numa bifana no pão, mas porque sabe diferente. Uma bifana para levar à grelha deve ser temperada com sal, uma pitada pouca de pimenta, alho esmagado e sumo de limão. Ah e tal o sumo de limão usa-se é no peru e noutras aves — aqui não há dogmas. Depois é levar à grelha, deixar corar e virar na hora certa, que é aquela antes de a bifana ficar seca, rija e estorricada. A grelha preserva o sabor. A grelha deve ser de arame, mas isto qualquer assador de verão já sabe. Evitem uma bifana mal passada, porque é porco e porque não sabe bem, mas nunca peçam “bem passada, se faz favor”, que isso é deitar por terra todos os cuidados anteriores. Também não se pode ceder à tentação de comprar bifana barata, e isto já fica à consideração dos players do sector — haverá poucas coisas piores que uma bifana cheia de nervuras ou de gordura, e se tiver dúvidas, senhor gerente, pense em si, na sua fominha, na hora avançada, e numa trinca à pitbull que não larga, não larga, não larga. Não é fixe. O papel do pão não pode ser desprezado. Não deve ser carcaça, não pode ser bola de mistura muito maçuda — neste blogue faz-se língua — e não deve ser torrado, mas deve, sim, ter pouco miolo que deve ser apenas aquecido e nem pensem em tostar a côdea, que isso estraga a fofura. É que há uma série de inconvenientes numa bifana estaladiça e um deles é a mostarda a espirrar, algo que é de evitar, sobretudo se tivermos em conta que a bifana antecede o cinema, o concerto, o teatro, os copos ou coisa que o valha na sua qualidade de refeição rápida, e para essas coisas todas convém ir impecável, mais ainda se não houve tempo para passar em casa para um duche depois de um dia de árduo labor. A mostarda, dizia, é de amores e por mim é bastante. Há quem não aprecie e eu respeito, assunto encerrado. Agora, não me dêem é mostarda sem rótulo, que eu não vou nessa. Com jeito pode juntar-se umas fatias de queijo flamengo — o edam é magro e aquele muito amarelo dos hambúrgueres serve para isso mesmo, hambúrgueres — e temos uma bifana com queijo, ou um ovo estrelado, bem passado, para a gema não emporcalhar tudo, ou ainda cebola levemente refogada, mas tudo separado, hein?!, uma bifana com cada coisa, bem entendido. A bifana acompanha-se com imperial e dois euros e sessenta, vá lá, dois euros e oitenta, é mais do que um preço aceitável. Nada disto acontece na Portugália, onde até a bifana mergulha no molho de manteiga. Tudo isto acontece na Bela Ipanema, o oásis em tempo de Indie Lisboa, de festa do cinema francês, brasileiro, africano, ou de um concerto, ao lado do São Jorge, caraças que já não vou conseguir jantar e estou super atrasado — calma. Fecha à meia noite, há que saber que a cozinheira só trabalha até às onze, e mesmo com casa cheia o serviço é rápido e simpático. Esqueçam, no entanto, o pastel de nata: a massa é grossa, pouco folhada, tem demasiada gordura, e o recheio sabe a Maizena — quem te avisa, teu amigo é. À confiança na sopinha de agrião. Pode pagar-se com senhas Euroticket. Para tirar o cheiro a alho, Sagres.

4 comentários:

AR disse...

ai cum crl...grand code!

Rui Coelho disse...

acontece aos melhores. em todo o caso passas a ser oficialmente o meu guru da gastronomia. ah!, e musicas do mundo no último fds confirmadíssimo.

JPC disse...

músicas do mundo ir e vir pra Chucho Valdés na quinta-feira e tá tudo. tem que ser. enfim...

o (grande) autor disse...

muito bom.

apenas faltou dizer que a bifana antecede, primeiro que todos os outros eventos, qualquer prélio na Luz.

mas para esse podemos ir cheios de nódoas de mostarda, que ninguém repara.