Três quartos que ontem sairam da sala sorrindo
ou a continuação do (meu) DocLisboa
Há filmes que têm o dom de nos fazer sair da sala sorrindo. “La Consultation” é um deles. O clínico geral Luc Perino é tão mais que um médico e a medicina, como ele diz, é o bocal do funil onde desemboca toda a sociedade. Por isso ele é urologista, psicólogo, obstetra, ginecologista, pai e mãe, filho, conselheiro.
Com um sentido de humor refinado, Luc Perino dá vida ao que podiam ser histórias banais e algumas vezes tristes. A do esquizofrénico, a do jovem casal que vai ter um filho: «Está grávida? Então parabéns! Ou… ou não?». A da rapariga que chega com os sintomas e o diagnóstico e o tratamento já na ponta da língua: «Então adeus. Porque veio cá?». A da senhora de 76 anos que pensa em suicidar-se desde que foi viver para um lar de idosos, a do alcoólico que não tem na mulher o incentivo que diz precisar para parar de beber, a da rapariga que a uma semana das férias do call-center vai pedir um atestado de doença para semanas porque não aguenta mais o ritmo de trabalho: «Trabalha há um ano… Então e como vão ser os próximos 40?» A da mulher que o consulta para “ir às compras” com a sua extensa lista de prescrições: «Mais alguma coisa?».
O filme de Hélène de Crécy, incluido na competição internacional, foi visionado por um auditório a três quartos. Três quartos que ontem sairam da sala sorrindo. E isso é certo.
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