quarta-feira, 1 de março de 2006

@ Porto, Fantasporto - 2
Dificilmente almoçava bem em Lisboa pelo preço que paguei hoje no Porto. A cidade é, historicamente, de salários mais baixos e nível de vida inferior, não obstante a burguesia portuense que desde o século XIX tratou de patrocinar as bonitas construções da baixa da cidade. Gosto da opulência da pedra cinzenta nos edifícios, num dia de sol forte e céu limpo e azul como o de hoje. E Lisboa está inflacionada, em muitos sentidos.

Depois do casal de velhotes pedintes que me recebeu aqui na cidade, à noite foi a vez de um tipo me abordar e pedir dinheiro, explicando como tinha saído há um mês do «estabelecimento prisional», não conseguia arranjar trabalho, provavelmente porque também não conseguia largar a droga, que o pôs lá dentro e que esperou por ele cá fora. Pela sinceridade, dei-lhe 50 cêntimos. Mas não devia.

"Quiet Love", do alemão Till Franzen, encerrou o dia no Fantasporto, sessão das 23h15 — antecedido de uma triste curta de Luís Galvão Telles, "Glamour", apupada em belo estilo («mas que merda! buuuuuuuuuu...») por alguns dos presentes. Em "Quiet Love" entrelaçam-se várias estórias de amor, que juntas fazem um filme denso e difícil, mas capaz de entreter nas fintas que os falsos finais — fui enganado duas vezes — fazem aos espectadores, apesar da extensão da fita. Ali há amor fraterno, por quem morre; amor passional — isto diz-se? — pela mulher; amor cego, por quem nos faz mal. Ali há morte, natural e inexplicada; acidental e inesperada; e há dúvida de morte — o inspector morreu?

Muito bem filmado, com uma fotografia belíssima, uma banda sonora muito bem conseguida, dos Lambchop a dramáticos e introspectivos trechos de piano, e com desempenhos soturnos mas terrivelmente adequados à intensidade da fita, "Quiet Love" é um bom filme. A conferência de imprensa com o realizador é mais logo, às 15h.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda bem que te estás a divertir por aí:). É só para dizer que estamos com saudades tuas e eu vou lendo de vez em quando. Não gosto muito do Porto mas com o ambiente do Fantas deve estar fantástico.
Beijinhos