segunda-feira, 8 de novembro de 2004

Da gestão das empresas, em Portugal
Perante um passivo final de 2003 na ordem dos 87 milhões de euros e de uma soma com custos e perdas que ascendeu a 51 milhões de euros (1/3 deste valor adjudicado a custos com pessoal e ¼ com amortizações), a Administração do Porto de Lisboa (APL) nomeou cinco novos directores de serviço, cinco novos chefes de divisão e cinco novos chefes de serviço, o que por si só orça 350 mil euros por ano (sem contar com pessoal para estes departamentos).

Convém lembrar que o presidente e o administrador da APL foram, também eles, recentemente nomeados, e que o porto de Lisboa tem operado uma redução do número de funcionários, contra um aumento das chefias (40 chefias, actualmente, sem contar com equiparados em gabinetes ou comissões).

Tudo isto resulta num aumento da burocracia, dos papéis a circular, do tempo de decisão e da desmotivação dos funcionários.

Esta administração do porto de Lisboa criou, no entanto e ao invés da há muito esperada Divisão de Logística, uma Divisão de Animação e Eventos. Uma clara aposta na imagem, tendo como pano de fundo a “devolução do porto aos lisboetas”.

Todos estes aspectos contribuem para: mostrar o irrealismo das metas propostas pelo Governo (reduzir até 2006 o tempo médio de despacho em 50%; quadruplicar o movimento de contentores nos portos até 2015; auto-suficiência portuária em 2005); para mostrar como as instituições públicas (ou de capitais públicos), mais do que servir o país e os cidadãos, servem para albergar amigos, comparsas e conhecidos; para tornar mais clara a desgraçada tendência nacional para mudar tudo sempre que mudam os executivos e as tutelas; para ilustrar o desinteresse crescente dos cidadãos por aquilo que deveria ser do interesse de todos.

Excertos do texto de Jorge Costa,
em Carga e Transportes
Público, 08Nov2004 (indisponível online)

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