sábado, 26 de junho de 2004

«Quem não perceber a relação íntima
entre o cagalhão e o limão não percebe nada»

«(…) O que me traz aos ovos. Hoje em dia é proibido mencionar que as galinhas têm cu – mas têm. É por onde saem os ovos, desculpem lá. (...)»
Miguel Esteves Cardoso, DNa

E do DNa digo: foi premiado internacionalmente, mais uma vez, como excelente produto de imprensa que é.

----------------------------------

«(…) Nós somos um povo triste. Não sabemos rir. Não sabemos aplaudir. Não sabemos incentivar as pessoas. Somos um povo triste e envergonhado e isso não sei de onde é que vem. Os espanhóis são alegres, têm as castanholas. Nós ouvimos o fado em silêncio. “Silêncio que se vai cantar o fado”! Quando o que nós deveríamos fazer era falar muito. Mas não sabemos improvisar. Qualquer brasileiro fala praí uma hora, que nunca mais acaba. Nós não.»
Eládio Clímaco, em entrevista à 365

E da 365 digo, neste #15, que outro também não conheço: artistas armados ao pingarelho, a 10 mil exemplares todos os meses. É barrete que não enfio outra vez.

----------------------------------

Que é feito da Paula Moura Pinheiro?
Digo eu, da Grande Reportagem

E da GR digo: ainda não terminei.

----------------------------------

Continuam a faltar: All Jazz, Volta ao Mundo, Egoísta, Epícur, Sábado e Os Fazedores de Letras #58, assim que me lembre.

----------------------------------

É aproveitar, isto e o Euro, porque os próximos meses serão:
- um website e uma revista, num desafio pessoal extremamente aliciante, além de muito duro;
- voltar a escrever sobre jazz, sobre música (e começa já com uma entrevista, na 3ª-feira, a um novo colectivo jazzístico) para um meio de comunicação electrónico, o que me deixou tremendamente motivado;
- pouca praia, pois então.
Vacances
Apaixonado pelo periódico e pela palavra impressa, pelo desenho desses produtos de consumo, em papel de diferentes gramagens e formatos, cores, composições e temas também diversos, e fui-me para uma daquelas qualquer-coisa-press que por “CCs” e Fóruns se multiplica, olhar para a oferta disponível. Balbúrdia geral e parti em busca de alguns títulos de que levava vontade de folhear. Mas não passou disso mesmo, do desejo, porque ali, havendo de tudo, nada havia. Questionados os funcionários, continuava não havendo e não se sabendo se alguma vez houvera.

Ali trabalha-se, por turnos, 14 horas sem intervalo e não é isso que enjeito, dado ter a experiência própria das exigências de tal serviço – o part-time dos 450 euros mais comissões de Caixeiro Ajudante de 1º Ano que sabe bem a quem termina o 12º na palhaçada que é o Recorrente –, que seis dias a rodar não deixam espaço a que se saiba seja o que for sobre o que se deveria saber.

E se tomamos mais um minuto que seja ao único caixeiro disponível, questionando sobre o paradeiro de um outro qualquer título «pseudo-intelectualóide armado em cosmopolita fashion de sexta-feira à tarde», logo salta o tipo do mocassin envernizado, calça beije, camisa azul claro de manga dobrada, cabelo grisalho aparado à cota que acha que a loura re-pintada e esticada de 50, sardenta de solário, vestido branco transparente e cueca fio-dental que o acompanha ainda bomba; logo salta o gajo, de cigarrilha esfumaçante, impaciente para que seja atendido e possa pagar, com o cartãozito dourado que um banco qualquer lhe vendeu, a sua caixa de cigarrilhas, os Davidoff da gaja, a Lux, a Caras, o Expresso, a Visão e os DVD todos da colecção, a Evasões e a National Geographic, sem não antes pousar a chave do Audi e o Nokia computador em cima do balcão. Adorei o espectáculo.

Comércio tradicional no ramo dos periódicos, precisa-se. Com a mesma, ou talvez um pouco mais selecta oferta; sem dúvida com maior arrumação; sobretudo com mais tempo e conhecimento para informar devidamente o cliente. E fora destes “fórúns”, por favor!

Não obstante o sucedido, fui-me dali com um terço do que procurava. Hoje, durante um café, uma “borbulhenta” e um moscatel, numa esplanada à sombra, estive de férias.

quinta-feira, 10 de junho de 2004

Pequenez
Passou certamente mais de um ano, desde que cortei aquele pedacito de papel e o colei no meu caderno de então. Porque me lembrava de o ter feito, procurei-o. E li-o. E depois de tudo o que se tem passado lá no "estaminé", faz sentido. Disse-o António Feio, ao DNa:

«A Igreja em si é um lugar demasiado solene, que reduz as pessoas a uma certa pequenez, onde tudo é muito proibido, e o seu funcionamento sempre esteve completamente afastado da realidade e das pessoas.»

Ainda bem que guardo os cadernos usados.

segunda-feira, 7 de junho de 2004

Leituras atrasadas

os Fazedores de Letras #57
«Quando, daqui a 20 anos, comemorar os 50 anos do 25 de Abril ou, daqui a 70, o seu centenário, e deixarmos de ouvir na primeira pessoa a descrição dos acontecimentos, chegaremos à altura em que a Revolução dos Cravos não será mais do que uma data no calendário nacional, com o mesmo peso e importância que têm hoje outros feitos do povo português, como a batalha de Aljubarrota e a Revolução de 1383-85, a restauração da Independência ou a implementação da República.»

e também a entrevista:
«Fornecedor de serviços de comunicação», Álvaro Costa

---------------------------------

Recortes de um habitual
«…30 anos depois, eu já percebi que ser de direita não significa ser fascista, como ser de esquerda não equivale a ser comunista. Há, entre estas duas margens, lugar para o respeito e a democracia. Mais à esquerda ou mais à direita.

…30 anos depois, eu realmente não sou um optimista. Mas sou seguramente menos pessimista do que seria se hoje vivesse num país a preto-e-branco, fechado sobre si próprio, ainda mais tacanho, ainda mais pobre, ainda mais ignorante, ainda mais estupidificado do que é. Este não é o país que sonhei quando acordei para a realidade – mas é certamente melhor que aquele que teria se, há 30 anos, não tivesse acordado um movimento de militares. Uns mais ingénuos, outros mais sabidos, todos com um mesmo objectivo: mudar. Só o verbo já inspira.

…Por tudo isto, 30 anos depois, eu já não tenho ilusões – mas há muito que deixei de ter dúvidas. Mais vale assim. Com revolução, com evolução. Mais letra, menos letra, nenhuma destas palavras é a palavra-chave. Para mim, a palavra é só uma: liberdade. Quem a tem chama-lhe sua. Todos os dias acordo a chamar-lhe minha. E não desisto.»