sábado, 26 de junho de 2004

Vacances
Apaixonado pelo periódico e pela palavra impressa, pelo desenho desses produtos de consumo, em papel de diferentes gramagens e formatos, cores, composições e temas também diversos, e fui-me para uma daquelas qualquer-coisa-press que por “CCs” e Fóruns se multiplica, olhar para a oferta disponível. Balbúrdia geral e parti em busca de alguns títulos de que levava vontade de folhear. Mas não passou disso mesmo, do desejo, porque ali, havendo de tudo, nada havia. Questionados os funcionários, continuava não havendo e não se sabendo se alguma vez houvera.

Ali trabalha-se, por turnos, 14 horas sem intervalo e não é isso que enjeito, dado ter a experiência própria das exigências de tal serviço – o part-time dos 450 euros mais comissões de Caixeiro Ajudante de 1º Ano que sabe bem a quem termina o 12º na palhaçada que é o Recorrente –, que seis dias a rodar não deixam espaço a que se saiba seja o que for sobre o que se deveria saber.

E se tomamos mais um minuto que seja ao único caixeiro disponível, questionando sobre o paradeiro de um outro qualquer título «pseudo-intelectualóide armado em cosmopolita fashion de sexta-feira à tarde», logo salta o tipo do mocassin envernizado, calça beije, camisa azul claro de manga dobrada, cabelo grisalho aparado à cota que acha que a loura re-pintada e esticada de 50, sardenta de solário, vestido branco transparente e cueca fio-dental que o acompanha ainda bomba; logo salta o gajo, de cigarrilha esfumaçante, impaciente para que seja atendido e possa pagar, com o cartãozito dourado que um banco qualquer lhe vendeu, a sua caixa de cigarrilhas, os Davidoff da gaja, a Lux, a Caras, o Expresso, a Visão e os DVD todos da colecção, a Evasões e a National Geographic, sem não antes pousar a chave do Audi e o Nokia computador em cima do balcão. Adorei o espectáculo.

Comércio tradicional no ramo dos periódicos, precisa-se. Com a mesma, ou talvez um pouco mais selecta oferta; sem dúvida com maior arrumação; sobretudo com mais tempo e conhecimento para informar devidamente o cliente. E fora destes “fórúns”, por favor!

Não obstante o sucedido, fui-me dali com um terço do que procurava. Hoje, durante um café, uma “borbulhenta” e um moscatel, numa esplanada à sombra, estive de férias.

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