“Afinal não estamos todos mortos de indiferença”
Tenho lido uma série de coisas bonitas. Poemas, sobretudo. Temos bons poetas. As linhas que se partem, os olhos que descem uma linha, a cabeça que cola as palavras todas para que façam sentido. Faz sentido.
Tenho ouvido uma série de coisas bonitas. Às vezes fecho os olhos e viro o pescoço, dou a nuca para ouvir melhor. E ouço. E mesmo que novo, estranho de ser nada estranho, mesmo que diferente, leve e simples, tenho ouvido. Faz sentido.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
quarta-feira, 2 de junho de 2010
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Recentrar as questões em tempo de deriva ideológica
professora mostra pipi e é suspensa, deputado furta gravadores e nada
professora mostra pipi e é suspensa, deputado furta gravadores e nada
segunda-feira, 24 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
Ocorreram erros, verifique os campos a vermelho
Acho que já não estão juntos. Acho que já não são namorados. Pelo menos não falam como tal. E não se tocam. Estão sentados em lados opostos da pequena mesa quadrada. Às sete da manhã de domingo discutem, sem discutir, amores. Ou melhor, sinais incompreendidos numa noite de copos. Diz que ele esteve toda a noite atrás dela e chegou a dar-lhe um beijo no pescoço. Mas não devia. Já não estão juntos. Ele não me parece muito convencido. Será sempre assim aos domingos ao amanhecer numa esplanada das avenidas? Dou-te um conselho, meu: “siga os seus instintos para conduzir a sua vida sentimental”. É da Maya. É o meu horóscopo diário e vem no Correio da Manhã, que é o primeiro jornal a chegar, às quatro da madrugada. Como isto é de fonte segura, que a Maya não se engana, dou-te de barato mesmo que não tenhas nascido no mesmo mês que eu. Foi, digamos, o primeiro pedaço de sabedoria com que me cruzei hoje. Aproveita. E falem mais baixo. Não precisamos ficar a saber o resto das vossas vidas. Bebam menos café. E durmam mais. Juntos, de preferência. É bom na mesma. Acordar ao lado de. Vá lá, falem mais baixo. O que é que é feito da Heloísa Miranda? Acho que se tivesse televisão tinha resposta para esta e muitas outras perguntas. Ou então vou ao Sapo. “Paulo Serra diz-lhe como vai ser o resto da sua semana”. Obrigado. Assim de repente já apontei na agenda o que interessa e o resto quero mesmo que seja surpresa. “Maya, uma das mais conceituadas astrólogas portuguesas, dá-lhe conselhos para o dia de hoje”. Ok, vamos a isso. “Ocorreram erros, verifique os campos a vermelho”. Hmmmm... “Paulo Cardoso fala-lhe de Amor — assim, com A — e das suas implicações durante o dia de hoje”. Porreiro. “Ocorreram erros, verifique os campos a vermelho”. Ah!, começa a fazer sentido. “Encontro: Mulheres de Corpo e Alma, 30 de Maio das 9h às 19h, Lisboa”. Anotado. “Curso de Kabala, 22 e 29 de Maio, Sábados, das 14h30 às 19h”. Vou sugerir ao Sócrates ou ao Ricardo Rodrigues quando os vir lá no parlamento, pode dar-lhes jeito. “Introdução aos trânsitos: conheça o significado de trânsito planetário”. A esta hora está certamente calmo. “Vídeo: Alexandra Solnado: espiritualidade na primeira pessoa”. Medo! “Família: avalie o seu instinto parental, faça o teste”. Quero ter três, mas vamos lá fazer o teste. “Ocorreram erros, verifique os campos a vermelho”. Exacto... Isto dois mais dois são sempre quatro, não há volta a dar. “1001 cartas de Amor: palavras sábias para situações difíceis”. Hmmmm, é muito cedo. “Sugestões: Livro dos Pêndulos”. Está em saldo: doze noventa em vez de catorze euros e meio. Quero um quarto Vigor chocolatado, se faz favor.
Acho que já não estão juntos. Acho que já não são namorados. Pelo menos não falam como tal. E não se tocam. Estão sentados em lados opostos da pequena mesa quadrada. Às sete da manhã de domingo discutem, sem discutir, amores. Ou melhor, sinais incompreendidos numa noite de copos. Diz que ele esteve toda a noite atrás dela e chegou a dar-lhe um beijo no pescoço. Mas não devia. Já não estão juntos. Ele não me parece muito convencido. Será sempre assim aos domingos ao amanhecer numa esplanada das avenidas? Dou-te um conselho, meu: “siga os seus instintos para conduzir a sua vida sentimental”. É da Maya. É o meu horóscopo diário e vem no Correio da Manhã, que é o primeiro jornal a chegar, às quatro da madrugada. Como isto é de fonte segura, que a Maya não se engana, dou-te de barato mesmo que não tenhas nascido no mesmo mês que eu. Foi, digamos, o primeiro pedaço de sabedoria com que me cruzei hoje. Aproveita. E falem mais baixo. Não precisamos ficar a saber o resto das vossas vidas. Bebam menos café. E durmam mais. Juntos, de preferência. É bom na mesma. Acordar ao lado de. Vá lá, falem mais baixo. O que é que é feito da Heloísa Miranda? Acho que se tivesse televisão tinha resposta para esta e muitas outras perguntas. Ou então vou ao Sapo. “Paulo Serra diz-lhe como vai ser o resto da sua semana”. Obrigado. Assim de repente já apontei na agenda o que interessa e o resto quero mesmo que seja surpresa. “Maya, uma das mais conceituadas astrólogas portuguesas, dá-lhe conselhos para o dia de hoje”. Ok, vamos a isso. “Ocorreram erros, verifique os campos a vermelho”. Hmmmm... “Paulo Cardoso fala-lhe de Amor — assim, com A — e das suas implicações durante o dia de hoje”. Porreiro. “Ocorreram erros, verifique os campos a vermelho”. Ah!, começa a fazer sentido. “Encontro: Mulheres de Corpo e Alma, 30 de Maio das 9h às 19h, Lisboa”. Anotado. “Curso de Kabala, 22 e 29 de Maio, Sábados, das 14h30 às 19h”. Vou sugerir ao Sócrates ou ao Ricardo Rodrigues quando os vir lá no parlamento, pode dar-lhes jeito. “Introdução aos trânsitos: conheça o significado de trânsito planetário”. A esta hora está certamente calmo. “Vídeo: Alexandra Solnado: espiritualidade na primeira pessoa”. Medo! “Família: avalie o seu instinto parental, faça o teste”. Quero ter três, mas vamos lá fazer o teste. “Ocorreram erros, verifique os campos a vermelho”. Exacto... Isto dois mais dois são sempre quatro, não há volta a dar. “1001 cartas de Amor: palavras sábias para situações difíceis”. Hmmmm, é muito cedo. “Sugestões: Livro dos Pêndulos”. Está em saldo: doze noventa em vez de catorze euros e meio. Quero um quarto Vigor chocolatado, se faz favor.
sábado, 8 de maio de 2010
Porque é que no início dos filmes brasileiros aparece aquele cartão de apoio da Petrobras e nos portugueses não vejo a Galp, a EDP ou o BES?
o cineasta – preciso de apoio para fazer um filme.
o senhor da GALP – então e qual é a história, o argumento?
o cineasta – basicamente ao fim de uma hora e quarenta minutos dois irmãos fazem sexo.
o senhor da GALP – hmmmm
o cineasta – mas assim com grande carga dramática, tudo muito intenso.
o senhor da GALP – imagino…
o cineasta – nada explícito, nada gratuito, erótico mas estranho, não é? afinal são dois irmãos, um miúdo e uma miúda, adolescentes, a fazerem sexo. ou amor, não é? isto depois cada um lê como quiser. carnal. dor e prazer. dor física e psicológica, de ambos. mais dela do que dele, mas pronto.
o senhor da GALP – uhumm… então e que mais? quem são os actores?
o cineasta – são todos bons, com experiência de teatro, televisão e cinema. uns consagrados, outros mais novos. mas todos com provas dadas, isso é garantido. pelo lado dos actores é garantido.
o senhor da GALP – certo…
o cineasta – depois vai ser tudo muito bonito. para já porque é película, não é? cinema é película. eu faço película, não é? depois também vai ser tudo muito bem filmado. óptima fotografia quer nos ambientes escuros, quer nos exteriores. mas o ambiente vai ser mais para o sombrio, não é? os decors são muito bons também. detalhe e cuidado nas cenas dentro de casa, casas velhas, com alcatifas, paredes de tons escuros, a tinta a pelar, um prédio com elevador daqueles antigos, abertos, mas que não funciona, as portas de correr em metal estão fechadas a corrente e cadeado, as escadas são em madeira. e mesmo nos quartos, não é?, as molduras com fotografias, as colchas das camas que podem cheirar a mofo. nisso tudo há um grande cuidado. e depois é a realização, não é? tudo bem realizado porque vai ficar logo impecável na filmagem, tudo muito bem filmado. há planos muito bonitos ao pé do mar, assim picados, o contraste da espuma branca das ondas que se desfazem na rocha escura. ou os outros, fechados, apertados na cara dos actores para captar as expressões, tudo muito expressivo. e sequências longas sem falas, não é? sem diálogos nem monólogos. só a expressividade e a carga dramática dos gestos, dos movimentos, que é para o espectador entrar no filme, fazer parte, quase como que estar ali dentro com os actores, não é? envolver o espectador na densidade do enredo, no fundo é isso.
o senhor da GALP – hmmm…
o cineasta – e o título vai ser bom. já escolhemos e tudo… vai ser uma frase, vai remeter para uma dúvida, vai deixar o espectador em suspense. vai ser: como desenhar um círculo perfeito. o que é que acha?
o senhor da GALP – bom eu não…
o cineasta – também já escrevemos a última cena. a última cena vai ser muito bonita. visualmente, não é? parece uma fotografia. vai resultar mesmo. e muito cuidado com o som. a captação de som será irrepreensível porque as pessoas queixam-se sempre que o som nos filmes portugueses é mau, mas isso é porque estão habituados a ler as legendas dos filmes em inglês e não notam que enquanto estão a ler não estão a ligar ao que está a ser dito e depois acham que o som, o nosso som, é que é mau. experimentem ver um filme inglês sem legendas e percebem logo que está tudo… mas pronto, muito cuidado no som. e a banda sonora vai ser boa. nós temos músicos que são especialistas em bandas sonoras, piano e outros, e portanto isso vai ser bom, não é? quer dizer, doutra forma também não vale a pena fazer…
o senhor da GALP – pois…
o cineasta – e portanto isto está garantido, não é? estas coisas estão todas… vai ser visivelmente bonito, vai ser intenso, vai ter conteúdo, não vai ser um filme vazio. e depois vai estrear num festival — isto além dos festivais no estrangeiro, porque o filme vai competir para passar nos festivais europeus, norte-americanos e no Brasil… portanto estreia num festival e depois vai durante duas semanas ou assim para duas ou três salas em Lisboa. porque eu gosto deste caminho, os filmes, o cinema, têm que fazer este caminho, não é? pelo menos eu gosto. o filme, aliás, é aquilo que eu gosto, aquilo de que eu gosto, não é? este filme é aquilo de que eu gosto… o outro também era, não é? mas este é mesmo aquilo… de que eu gosto.
o senhor da GALP – uhumm…
o cineasta – e portanto para fazer isto assim isto tem custos, não é? tem custos… não é muito, mas tem os seus custos…
o senhor da GALP – e você estava a pensar em quanto?
o cineasta – 100 mil, 200 mil, também é conforme o que vocês estiverem a pensar investir numa coisa destas, não é? mas era assim nessa ordem.
o senhor da GALP – pois, estou a ver.
o cineasta – e vocês depois têm o retorno, não é? uma coisa destas dá retorno. além dos incentivos, não é? o retorno e os incentivos, isto para vocês tem esta dupla…
o senhor da GALP – claro, claro…
o cineasta – dimensão, esta dupla dimensão…
o cineasta – deixo o projecto consigo? aqui está tudo mais detalhado, não é? deixo-lhe isto…
o senhor da GALP – olhe, não vale a pena.
o cineasta – não?
o senhor da GALP – não. quer dizer, com estas condições não, não é? o produto é bom, sem dúvida, tem potencial, mas com estas condições, esta estratégia, não vai ser possível. não apoiamos.
o cineasta – não?
o senhor da GALP – não.
o cineasta – mas porquê?
Ou é mais ou menos isto ou o António Mexia é um lambão e quer o dinheirinho todo para ele. Ou só não gosta de ir ao cinema, pronto.
o cineasta – preciso de apoio para fazer um filme.
o senhor da GALP – então e qual é a história, o argumento?
o cineasta – basicamente ao fim de uma hora e quarenta minutos dois irmãos fazem sexo.
o senhor da GALP – hmmmm
o cineasta – mas assim com grande carga dramática, tudo muito intenso.
o senhor da GALP – imagino…
o cineasta – nada explícito, nada gratuito, erótico mas estranho, não é? afinal são dois irmãos, um miúdo e uma miúda, adolescentes, a fazerem sexo. ou amor, não é? isto depois cada um lê como quiser. carnal. dor e prazer. dor física e psicológica, de ambos. mais dela do que dele, mas pronto.
o senhor da GALP – uhumm… então e que mais? quem são os actores?
o cineasta – são todos bons, com experiência de teatro, televisão e cinema. uns consagrados, outros mais novos. mas todos com provas dadas, isso é garantido. pelo lado dos actores é garantido.
o senhor da GALP – certo…
o cineasta – depois vai ser tudo muito bonito. para já porque é película, não é? cinema é película. eu faço película, não é? depois também vai ser tudo muito bem filmado. óptima fotografia quer nos ambientes escuros, quer nos exteriores. mas o ambiente vai ser mais para o sombrio, não é? os decors são muito bons também. detalhe e cuidado nas cenas dentro de casa, casas velhas, com alcatifas, paredes de tons escuros, a tinta a pelar, um prédio com elevador daqueles antigos, abertos, mas que não funciona, as portas de correr em metal estão fechadas a corrente e cadeado, as escadas são em madeira. e mesmo nos quartos, não é?, as molduras com fotografias, as colchas das camas que podem cheirar a mofo. nisso tudo há um grande cuidado. e depois é a realização, não é? tudo bem realizado porque vai ficar logo impecável na filmagem, tudo muito bem filmado. há planos muito bonitos ao pé do mar, assim picados, o contraste da espuma branca das ondas que se desfazem na rocha escura. ou os outros, fechados, apertados na cara dos actores para captar as expressões, tudo muito expressivo. e sequências longas sem falas, não é? sem diálogos nem monólogos. só a expressividade e a carga dramática dos gestos, dos movimentos, que é para o espectador entrar no filme, fazer parte, quase como que estar ali dentro com os actores, não é? envolver o espectador na densidade do enredo, no fundo é isso.
o senhor da GALP – hmmm…
o cineasta – e o título vai ser bom. já escolhemos e tudo… vai ser uma frase, vai remeter para uma dúvida, vai deixar o espectador em suspense. vai ser: como desenhar um círculo perfeito. o que é que acha?
o senhor da GALP – bom eu não…
o cineasta – também já escrevemos a última cena. a última cena vai ser muito bonita. visualmente, não é? parece uma fotografia. vai resultar mesmo. e muito cuidado com o som. a captação de som será irrepreensível porque as pessoas queixam-se sempre que o som nos filmes portugueses é mau, mas isso é porque estão habituados a ler as legendas dos filmes em inglês e não notam que enquanto estão a ler não estão a ligar ao que está a ser dito e depois acham que o som, o nosso som, é que é mau. experimentem ver um filme inglês sem legendas e percebem logo que está tudo… mas pronto, muito cuidado no som. e a banda sonora vai ser boa. nós temos músicos que são especialistas em bandas sonoras, piano e outros, e portanto isso vai ser bom, não é? quer dizer, doutra forma também não vale a pena fazer…
o senhor da GALP – pois…
o cineasta – e portanto isto está garantido, não é? estas coisas estão todas… vai ser visivelmente bonito, vai ser intenso, vai ter conteúdo, não vai ser um filme vazio. e depois vai estrear num festival — isto além dos festivais no estrangeiro, porque o filme vai competir para passar nos festivais europeus, norte-americanos e no Brasil… portanto estreia num festival e depois vai durante duas semanas ou assim para duas ou três salas em Lisboa. porque eu gosto deste caminho, os filmes, o cinema, têm que fazer este caminho, não é? pelo menos eu gosto. o filme, aliás, é aquilo que eu gosto, aquilo de que eu gosto, não é? este filme é aquilo de que eu gosto… o outro também era, não é? mas este é mesmo aquilo… de que eu gosto.
o senhor da GALP – uhumm…
o cineasta – e portanto para fazer isto assim isto tem custos, não é? tem custos… não é muito, mas tem os seus custos…
o senhor da GALP – e você estava a pensar em quanto?
o cineasta – 100 mil, 200 mil, também é conforme o que vocês estiverem a pensar investir numa coisa destas, não é? mas era assim nessa ordem.
o senhor da GALP – pois, estou a ver.
o cineasta – e vocês depois têm o retorno, não é? uma coisa destas dá retorno. além dos incentivos, não é? o retorno e os incentivos, isto para vocês tem esta dupla…
o senhor da GALP – claro, claro…
o cineasta – dimensão, esta dupla dimensão…
o cineasta – deixo o projecto consigo? aqui está tudo mais detalhado, não é? deixo-lhe isto…
o senhor da GALP – olhe, não vale a pena.
o cineasta – não?
o senhor da GALP – não. quer dizer, com estas condições não, não é? o produto é bom, sem dúvida, tem potencial, mas com estas condições, esta estratégia, não vai ser possível. não apoiamos.
o cineasta – não?
o senhor da GALP – não.
o cineasta – mas porquê?
Ou é mais ou menos isto ou o António Mexia é um lambão e quer o dinheirinho todo para ele. Ou só não gosta de ir ao cinema, pronto.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
Em gostando, di-lo-ias?
É que a mãe da Cláudia diz que sim. Diz também que é minha fã. Mães... Lá terei de ir à Guarda um dia. Baixar a guarda, render da guarda. Hoje não vou assistir. A única guarda que vou ver é a da banda. E vai ser bonito e vou encher o peito e vou sorrir e vou sentir-me bem. E cansado. É que estou cansado sem saber porque estou cansado. Já to disse. A minha cartucheira está vazia. E isto só ia lá com armas. Onde é que assino o termo de rendição?
É que a mãe da Cláudia diz que sim. Diz também que é minha fã. Mães... Lá terei de ir à Guarda um dia. Baixar a guarda, render da guarda. Hoje não vou assistir. A única guarda que vou ver é a da banda. E vai ser bonito e vou encher o peito e vou sorrir e vou sentir-me bem. E cansado. É que estou cansado sem saber porque estou cansado. Já to disse. A minha cartucheira está vazia. E isto só ia lá com armas. Onde é que assino o termo de rendição?
quinta-feira, 15 de abril de 2010
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Enquanto como um pastel de nata que me deram
(e que gostoso que ele é)
e tento fintar o sono mais uns minutos
(hoje sou eu que não quero dormir, hein?, não quero, não quero fechar isto)
e acendo o último cigarro, com cuidado para não deixar o teu lenço a cheirar a fumo, que prefiro que cheire a ti, que prefiro que te chegue como mo emprestaste, como estava quando o enrolaste à volta do meu pescoço,
(estou a fungar. quer dizer que isto falhou? de manhã vamos saber. smile com aquela cara apreensiva)
e que quentinho que ele é,
enquanto faço isto tudo não posso deixar de ler e reler, pensar e repensar, lembrar e relembrar, duvidar e duvidar,
um arrepio. é de cansaço. não é de constipado. é de cansaço, que hoje corri na praia, corri para casa, corri para a cidade, caminhei que me fartei, estive em pé que me cansei. é de cansaço. um arrepio ou um estremeção?
enquanto como o segundo pastel de nata que me deram
(são quatro e podem estragar-se)
chego apenas a uma meia conclusão. e vou precisar da tua ajuda.
isto faz algum sentido?
(e que gostoso que ele é)
e tento fintar o sono mais uns minutos
(hoje sou eu que não quero dormir, hein?, não quero, não quero fechar isto)
e acendo o último cigarro, com cuidado para não deixar o teu lenço a cheirar a fumo, que prefiro que cheire a ti, que prefiro que te chegue como mo emprestaste, como estava quando o enrolaste à volta do meu pescoço,
(estou a fungar. quer dizer que isto falhou? de manhã vamos saber. smile com aquela cara apreensiva)
e que quentinho que ele é,
enquanto faço isto tudo não posso deixar de ler e reler, pensar e repensar, lembrar e relembrar, duvidar e duvidar,
um arrepio. é de cansaço. não é de constipado. é de cansaço, que hoje corri na praia, corri para casa, corri para a cidade, caminhei que me fartei, estive em pé que me cansei. é de cansaço. um arrepio ou um estremeção?
enquanto como o segundo pastel de nata que me deram
(são quatro e podem estragar-se)
chego apenas a uma meia conclusão. e vou precisar da tua ajuda.
isto faz algum sentido?
terça-feira, 6 de abril de 2010
Diz que estou no fundo da caixa às flores pirosas que a Margarida tem lá em casa
Foi a primeira vez que senti aquelas coisas. Aquelas coisas esquisitas de novas. Tremores. Sorrisos. Suores. Vontades. De fazer coisas, dar coisas, mostrar coisas, partilhar coisas, ver coisas, estar presente em coisas, querer que estivesses em coisas, sei lá, o normal nestas coisas. Tu na minha cabeça à noite, tu na minha cabeça de manhã, à hora de almoço e antes de jantar, nas aulas, no intervalo, no caminho de casa e a caminho de tua casa, nas mixtapes e nas cartas — isto já foi há quanto tempo? Dizem que são esses os sintomas. Pelo menos foi assim que me explicaram. O Rui é que sabe. O Rui deixou de ter pressa quando lhe roubaram o relógio. O relógio e o Dom Quixote encadernação de capa dura, azul escura, na lombada as letras douradas, meia francesa. Ladrões de corações com as unhas pintadas de vermelho e saias curtas. Já leste o poema que te escreveu? A estória repete-se de cada vez que apareces. A minha parece que também. Esta primavera que não chega. E eu sonhando ou com aviões cheios de gente a cair até amarar no Sena, Paris, claro, ou com beijos, aos beijos. Aos beijos!, imagina. Aos beijos, aos olhares, às mãos a viajar, às coisas ditas ao ouvido no calor, aos sorrisos envergonhados... É que tenho dormido pouco e muito tarde. Farto-me de despejar cinzeiros cá em casa. Castanho, verde, azul, rosa, laranja e castanho outra vez — os da outra metade já os comemos. Isto serei só eu a ver? Um dia compro um megafone e aí é que ninguém prega olho! Aos quatro ventos, às quatro esquinas, às quatro colinas, internem-me se quiserem!, apanhem-me se conseguirem!, se me esconder num dos sete quartos da casa do Rui ninguém me encontra, vão todos tropeçar nas guitas que vou estender atadas aos rodapés das portas, podem continuar a tentar, sairei só à noite, de fininho, que todos os gatos são pardos menos a Alice, um bolo de chocolate debaixo do braço e uma garrafa de vinho na mão, passo no Luís e no Carlos só para comprar tabaco e dar as boas noites ao senhor Simões, não não, deixe estar, não preciso de boleia, ó homem mas eu levo-o lá e não precisa pagar!, deixe estar senhor Simões que isto é uma hora de caminho e é quase sempre a descer, ora quase homem, pois ora que quase senhor Simões, mas obrigado na mesma, então e vale a pena?, (sério) ó senhor Simões: perguntas com rasteira é que não, e lá irei, avenida abaixo, avenida acima, avenida abaixo, avenida acim... afinal fiz mal as contas: é a descer se for daqui de casa. Ó senhor Simõõõões! Agora é tarde. É tarde? Então o bolo de chocolate debaixo do braço e a garrafa de vinho na mão... Vou mesmo ter de beber sozinho?
Foi a primeira vez que senti aquelas coisas. Aquelas coisas esquisitas de novas. Tremores. Sorrisos. Suores. Vontades. De fazer coisas, dar coisas, mostrar coisas, partilhar coisas, ver coisas, estar presente em coisas, querer que estivesses em coisas, sei lá, o normal nestas coisas. Tu na minha cabeça à noite, tu na minha cabeça de manhã, à hora de almoço e antes de jantar, nas aulas, no intervalo, no caminho de casa e a caminho de tua casa, nas mixtapes e nas cartas — isto já foi há quanto tempo? Dizem que são esses os sintomas. Pelo menos foi assim que me explicaram. O Rui é que sabe. O Rui deixou de ter pressa quando lhe roubaram o relógio. O relógio e o Dom Quixote encadernação de capa dura, azul escura, na lombada as letras douradas, meia francesa. Ladrões de corações com as unhas pintadas de vermelho e saias curtas. Já leste o poema que te escreveu? A estória repete-se de cada vez que apareces. A minha parece que também. Esta primavera que não chega. E eu sonhando ou com aviões cheios de gente a cair até amarar no Sena, Paris, claro, ou com beijos, aos beijos. Aos beijos!, imagina. Aos beijos, aos olhares, às mãos a viajar, às coisas ditas ao ouvido no calor, aos sorrisos envergonhados... É que tenho dormido pouco e muito tarde. Farto-me de despejar cinzeiros cá em casa. Castanho, verde, azul, rosa, laranja e castanho outra vez — os da outra metade já os comemos. Isto serei só eu a ver? Um dia compro um megafone e aí é que ninguém prega olho! Aos quatro ventos, às quatro esquinas, às quatro colinas, internem-me se quiserem!, apanhem-me se conseguirem!, se me esconder num dos sete quartos da casa do Rui ninguém me encontra, vão todos tropeçar nas guitas que vou estender atadas aos rodapés das portas, podem continuar a tentar, sairei só à noite, de fininho, que todos os gatos são pardos menos a Alice, um bolo de chocolate debaixo do braço e uma garrafa de vinho na mão, passo no Luís e no Carlos só para comprar tabaco e dar as boas noites ao senhor Simões, não não, deixe estar, não preciso de boleia, ó homem mas eu levo-o lá e não precisa pagar!, deixe estar senhor Simões que isto é uma hora de caminho e é quase sempre a descer, ora quase homem, pois ora que quase senhor Simões, mas obrigado na mesma, então e vale a pena?, (sério) ó senhor Simões: perguntas com rasteira é que não, e lá irei, avenida abaixo, avenida acima, avenida abaixo, avenida acim... afinal fiz mal as contas: é a descer se for daqui de casa. Ó senhor Simõõõões! Agora é tarde. É tarde? Então o bolo de chocolate debaixo do braço e a garrafa de vinho na mão... Vou mesmo ter de beber sozinho?
quinta-feira, 1 de abril de 2010
segunda-feira, 8 de março de 2010
As coisas que se dizem no escuro
E as outras que se fazem e não se conseguem esconder. Também, pouco importa. Nem tudo deve ter a solenidade do momento em que se ouve Dinah Washington, Etta James ou Ella Fitzgerald, e já estou a deixar de fora outras grandes pretas, pretas com vozes enormes. Para se ter uma voz daquelas tem de se ser preta e isto deve estar escrito algures nos desígnios do universo, ponto. Porque há coisas que estão e outras que não. E quanto a isso, batatas. Mesmo que chateie o mesmo ou mais do que apanhar com uma batata na cabeça, assim como que caída da macieira do Newton ao fim da tarde de um domingo em que fôramos ler para o parque. Acontece que os galos passam com gelo e nem é garantido que os miminhos, como aqueles que logo damos às crianças “fez doi-doi, cá beijinho”, acelerem seja o que for na cura do hematoma — gelo para a epiderme, derme e endoderme, e para a cabeça fria. Porque, graças a alguma coisa, a cabeça pode arrefecer-se. O resto... É seguir sorrindo. Que foi o que fizemos todos.
E as outras que se fazem e não se conseguem esconder. Também, pouco importa. Nem tudo deve ter a solenidade do momento em que se ouve Dinah Washington, Etta James ou Ella Fitzgerald, e já estou a deixar de fora outras grandes pretas, pretas com vozes enormes. Para se ter uma voz daquelas tem de se ser preta e isto deve estar escrito algures nos desígnios do universo, ponto. Porque há coisas que estão e outras que não. E quanto a isso, batatas. Mesmo que chateie o mesmo ou mais do que apanhar com uma batata na cabeça, assim como que caída da macieira do Newton ao fim da tarde de um domingo em que fôramos ler para o parque. Acontece que os galos passam com gelo e nem é garantido que os miminhos, como aqueles que logo damos às crianças “fez doi-doi, cá beijinho”, acelerem seja o que for na cura do hematoma — gelo para a epiderme, derme e endoderme, e para a cabeça fria. Porque, graças a alguma coisa, a cabeça pode arrefecer-se. O resto... É seguir sorrindo. Que foi o que fizemos todos.
quinta-feira, 4 de março de 2010
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