Decerto que fazia frio em Janeiro de 1991 quando os F-15 levantaram voo. O ataque massivo. Eu lembro-me de me estarem a vestir para a escola, de manhã, ainda estava escuro, e lembro-me das imagens verdes do deserto e dos mísseis disparados dos navios. O resultado foi uma série dos discos mais bem inspirados da minha estante. Com o devido atraso, com a devida dedicação, até comprar, hoje, o último bilhete para a plateia — verídico.
Há seis anos que não temos um novo disco de Massive Attack. Os rapazes não acertam com a fórmula e dizem que já deitaram fora dois conjuntos de gravações. Não conseguem reinventar-se? Não há como sobreviver à cena trip-hop da Bristol dos anos 90? 100th Window já foi espremido à força? O que se ouviu de novo esta noite no Campo Pequeno não foi explosivo, houve narizes franzidos, e não são muitos os elogios a Splitting The Atom, o EP que anda para aí.
Os sorrisos rasgados, os gritos bem alto, as mãos no ar e muitos assobios, esses só se ouviram com os clássicos, revisitados pelo caminho mais próximo do que está na memória — Angel com Horace Andy em palco — ou vestidos de novo — Teardrop com Martina Topley Bird. Isto porque Karmacoma, que continua sendo simplesmente a melhor forma de terminar um concerto, e Inertia Creeps, que continua a incendiar, não entram nesta contabilidade. E Unfinished Sympathy não se repete.
A política continua presente. No fundo do palco lêem-se mensagens contraditórias sobre os gastos do parlamento britânico e o custo de medicamentos ou refeições no Quénia e na Somália, que valem o que valem a despertar mentes. Um grande ecrã de leds brancos, vermelhos, verdes, letras e números gigantes, Simão quer acabar a carreira no Benfica, Cantona teria batido no Henry, pequenas faixas de código binário, citações de Mandela, Bakunin, Malcom X, Milton, Toqueville, Aristóteles, coiso. O espectáculo visual é muito bom.
Del Naja sabe de onde vem e tem uma ideia de para onde quer ir, Daddy G parece um acessório. A electrónica fica-lhes muito bem, a guitarra distorcida muito também, a banda, caramba.
O Filipe, há uns anos, numa aventura que teve o nome palerma de www.xiribizi.net, escreveu num artigo que aquilo soava como o álbum do Tricky: tensão pré-milénio. Agora soa a tensão pós-milénio? É que parece. Filipe?
5 comentários:
;)
Só não posso é gostar da interrrogação de que o '100th Window' foi espremido à força. Nunca. Foi dos álbuns mais brilhantes que ouvi em toda a minha vida. Foi um espectacular next step na carreira deles, que infelizmente acabou dissolvido com vontades de dar passos atrás. Erro. Para mim, era aquele o caminho, e com ele não ficariam presos ao passado.
Tenho dois álbuns que me servem, desde que saíram, para o primoso fim da introspecção pessoal: 'Kid A' dos Radiohead e '100th Window' dos Ataque Massivo =p Nunca me falharam...
É. Eu também acho que este era o caminho certo: http://www.youtube.com/watch?v=TjDgY1iOHWY&feature=related
=P
Passo-me com este som.. Mais ninguém podia chegar a isto, ponto. Tem tudo de Massive Attack, ao mesmo tempo que deixa claramente o seu passado, mais vincado, em Protection.
Bom, o "Filipe" que referes anda nitidamente a dormitar algures. Nem eu próprio me lembrava do Xiribizi... Deixem-me que vos diga que gosto bastante do '100th Window'. Quanto a tensão pós-milénio, bom, chamar-lhe-ia mais música para embalar bébés pós-2010. Soft, muito soft. Depois disto, acho que vou ali à prateleira buscar um dos primeiros discos dos Eels.
Enviar um comentário