Em mais de quatro horas de fita não há, que me recorde, um grande plano de Che. Há, isso sim, Che fora de plano, de costas cortado pela cabeça, porque o que interessa é mostrar o que envolve e como envolve Che. Não se vê um combate espectacular e não se vê a tomada de Havana, antes a sobriedade e dureza da luta de guerrilha. O que mais surpreende é a expressividade deste Che.
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Sério, pensativo e ponderado. Doente e em sofrimento por causa da asma — é que até inspiras mais fundo e procuras sentar-te melhor na cadeira. Irado, excitado em combate, frio no fuzilamento, poderoso em Nova Iorque. Motivador, desalentado e amedrontado perante a morte.
Da cor
O jovem Che encontra-se com outros exilados no México e adere ao movimento: em tons azulados. O médico, o professor, o soldado, o estratega, o braço direito de Fidel — que pena não vermos mais de Demián Bichir, impressionante de tão parecido — e o subalterno de Fidel nos dois anos passados nas montanhas, o impiedoso que ordena os fuzilamentos: em tons de verde. O comandante e ministro, homem poderoso e da confiança de Castro, a recepção em Nova Iorque, as entrevistas, o discurso nas Nações Unidas: a preto e branco. O sonho boliviano que se desmorona — aprendeu-se com a derrota de Batista, os Estados Unidos intervieram, a Bolívia não é Cuba e também os homens eram menos e pior preparados; e faltaria o estrega Fidel e o apoio do PC? —, o cerco nas montanhas, a morte: em tons de amarelo. Se o olhar de Che era como o olhar deste Che, então percebe-se.
Da história
O filme de Steven Soderbergh é muito bom e merece ser visto. Che é um personagem controverso e este é apenas mais um filme — que fique bem claro.
Dos anos em Havana, no poder, nos tribunais sumários, nada se conta. Da captura e da morte, do breve interrogatório, da escolha do seu carrasco, do que com ele conversou, do cadáver presente ao presidente Barrientos, conta-se uma versão, não necessariamente a verdadeira — isso interessa? Tudo é minimalista. Não tem banda sonora, nem sequer tem longos diálogos ou discursos. Tudo é lento.
Da resposta
Entre o herói e o mito — o vilão só aparece no final, quando um oficial cubano aparece em La Higuera, aliado das tropas bolivianas, arquitecto da sua captura, e lhe diz que ele mandara fuzilar o seu pai em Havana e também por isso ele estava ali —, não sei onde fica este filme. O Benicio del Toro, sim, fica na minha galeria de notáveis actores.
Che Guevara na 19ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Dezembro de 1964. United Nations TV.
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