domingo, 12 de abril de 2009

O Benicio é um belo Che
Em mais de quatro horas de fita não há, que me recorde, um grande plano de Che. Há, isso sim, Che fora de plano, de costas cortado pela cabeça, porque o que interessa é mostrar o que envolve e como envolve Che. Não se vê um combate espectacular e não se vê a tomada de Havana, antes a sobriedade e dureza da luta de guerrilha. O que mais surpreende é a expressividade deste Che.

Do actor
Sério, pensativo e ponderado. Doente e em sofrimento por causa da asma — é que até inspiras mais fundo e procuras sentar-te melhor na cadeira. Irado, excitado em combate, frio no fuzilamento, poderoso em Nova Iorque. Motivador, desalentado e amedrontado perante a morte.

Da cor
O jovem Che encontra-se com outros exilados no México e adere ao movimento: em tons azulados. O médico, o professor, o soldado, o estratega, o braço direito de Fidel — que pena não vermos mais de Demián Bichir, impressionante de tão parecido — e o subalterno de Fidel nos dois anos passados nas montanhas, o impiedoso que ordena os fuzilamentos: em tons de verde. O comandante e ministro, homem poderoso e da confiança de Castro, a recepção em Nova Iorque, as entrevistas, o discurso nas Nações Unidas: a preto e branco. O sonho boliviano que se desmorona — aprendeu-se com a derrota de Batista, os Estados Unidos intervieram, a Bolívia não é Cuba e também os homens eram menos e pior preparados; e faltaria o estrega Fidel e o apoio do PC? —, o cerco nas montanhas, a morte: em tons de amarelo. Se o olhar de Che era como o olhar deste Che, então percebe-se.

Da história
O filme de Steven Soderbergh é muito bom e merece ser visto. Che é um personagem controverso e este é apenas mais um filme — que fique bem claro.

Dos anos em Havana, no poder, nos tribunais sumários, nada se conta. Da captura e da morte, do breve interrogatório, da escolha do seu carrasco, do que com ele conversou, do cadáver presente ao presidente Barrientos, conta-se uma versão, não necessariamente a verdadeira — isso interessa? Tudo é minimalista. Não tem banda sonora, nem sequer tem longos diálogos ou discursos. Tudo é lento.

Da resposta
Entre o herói e o mito — o vilão só aparece no final, quando um oficial cubano aparece em La Higuera, aliado das tropas bolivianas, arquitecto da sua captura, e lhe diz que ele mandara fuzilar o seu pai em Havana e também por isso ele estava ali —, não sei onde fica este filme. O Benicio del Toro, sim, fica na minha galeria de notáveis actores.




Che Guevara na 19ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Dezembro de 1964. United Nations TV.

sábado, 11 de abril de 2009

Ao Zé Manel, ao Henrique e ao João
Da próxima vez que me cruzar convosco vou cravar-vos uma boleia. É que suspeito que vos ando a pagar a gasolina.

Dois meses de jornais, comprados pela malta aqui de casa, foram hoje para reciclar. A bem das árvores e tal.

E depois ficam sempre mais uns quantos pra recortar...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Pedroso, o maratonista
“Se tiver a confiança dos almadenses, os oito anos que vêm da minha vida serão dedicados a pôr Almada no futuro”, disse Paulo Pedroso na apresentação oficial da sua candidatura à câmara de Almada, o bastião comunista da margem Sul do Tejo.

Faz sentido. Os primeiros quatro como vereador, os outros quatro como presidente da câmara. A corrida de Paulo Pedroso a Almada é uma corrida de fundo, para preparar as eleições de 2013, às quais Maria Emília de Sousa já não pode concorrer.

É “o maior desafio político da minha vida”, diz, e disso não há dúvidas. Está em causa o renascimento de Pedroso para a política, depois da Casa Pia. E o programa, no que toca à “reconquista do rio e do mar”, condiz com o slogan do primeiro cartaz: “terminar a obra que ninguém começou”. Assim de repente só me lembro do Ginjal, da Margueira/Lisnave e da Costa da Caparica que, carecendo de intervenção, recuperação e aproveitamento — é um facto —, me parecem demasiado óbvias fatias de um bolo de cimento que ansiosamente se quer comer. Gulosos.

A oficialização da candidatura, na Incrível Almadense — os 800 e tal lugares da Academia seriam demais e suspeito que o PCP nunca lhe arrendaria o espaço —, teve direito à dramática banda sonora do filme “África Minha”, muita pompa e circunstância, contra as difamações do processo Casa Pia; teve o apoio dos notáveis do partido, Soares em vídeo, Vera Jardim em pessoa, um leque de secretários de Estado e até a eurodeputada-em-tempos-desalinhada Ana Gomes; e o financiamento de Jorge Coelho (?), que afinal não esteve presente (Ferro Rodrigues também não apareceu, porquê?). O empenho do PS em ganhar Almada em 2013 é muito sério. E o peso de Pedroso no partido também.