segunda-feira, 4 de junho de 2007

«A causa das coisas»
Quatro anos depois, terminou. Quatro anos depois vai começar. Sempre que penso nisto, que me lembro disto, que sinto isto, invade-me uma tremenda nostalgia e saudade e quase choro, sobretudo de alegria e de paixão. Como explicar? A Inês tinha razão, quando nos disse que muito mudaria ali, que seria dali que levaríamos connosco as fundações para um resto de percurso de vida.

Quando era mais miúdo, pela primeira de muitas vezes naquela escola, quando às oito e um quarto a Isabel ainda não tinha chegado, eu corria para o campo com os rapazes para jogar à bola. A Isabel, que nos ia buscar um por um segurando-nos pelo braço, no fim haveria de dizer que me percebia o desinteresse por aquilo e porque estava a minha cabeça noutro lugar.

O Américo pôs tudo em pratos limpos desde o dia em que me conheceu e sempre que podia atirava-me, com um sorriso, que não percebia — embora percebendo — porque insistia em fazer aquilo. O Américo tem uma quota de responsabilidade enorme, e ainda bem que é assim. Como quando me disse que era apaixonadíssimo pela mulher e pelos filhos e que era por isso que se estava marimbando para o clube e que todo o tempo livre que tinha, entre a escola, o atelier e o jornal, era para eles. E não se pense que era pouco, mesmo quando era, porque o Américo era muito ginasticado para os quase dois metros de altura, cem quilos de peso e meia dúzia de cabelos na careca. Um dia confessei-lhe querer para mim, quando fosse a altura, o mesmo brilho que ganhavam os olhos dele quando me contava coisas deles. Não perdes por esperar.

Já o Raul ensinou-me vida e isso não se quantifica. Melhor ainda: continua ensinando, com a mesma paixão e entrega com que nos explicava o êntero e o celêntero e o resto. Não me esqueço quando ele disse que me entendia, que eu não me preocupasse em demasia e que deveria, então, retirar dali o melhor, o que era especial, o pedaço mais saboroso. Hoje, quando me vê, repete-me se não acho que valeu a pena. Valeu, pois. Porque foi difícil.

Não fosse pela Isabel, pelo Américo, pelo Raul e por tudo o resto e todos os que me acompanharam desde então, e nada teria sido como foi, e nada seria como vai ser. Quando cheguei, em 2003, cheguei na altura certa. «Ena, mais gajos»? Certamente. «Olha, queres namorar comigo?» Mas eu só tinha acabado de explicar como se usavam atalhos do Word para formatar as tabelas... Assim começava o período mais rico da minha vida. Que é feito de pessoas. Afinal, não é por isso que andamos por cá?

Estranhei, conheci, mostrei, sorri, entreguei e recebi, ri à gargalhada, chorei em soluços, aprendi e ensinei, compreendi e repliquei, apaixonei-me como até então nunca e cresci com o reconhecimento do que é isso, então, das paixões. Porque é disso que se trata, de diferentes paixões, e de ser esse o mote para tudo — e aqui não há lugar a contestações. De tão cheio que vou, é parvoíce sentir-me vazio agora e com um nó na garganta.

Conforme me chegam à cabeça: Joana, Maria, João, Rui, Raquel, Diana, Maria, João, Marta, Mariana, mais uma Maria, André, Patrícia, Catarina, Bruno, Pedro, Joana, Rui, Miguel, Bruno, outro Miguel, Filipa, André, Sandra, Sara, Carlos, José, outro José, um homónimo João, André, Tiago, Ricardo, mais um José e ainda outro José, Ana, Marcos, Rita, Sofia, António, Rosário, ainda outra Joana, Alberto, Mariana, Isabel, António, Margarida, mais uma Maria e acho que estão todos ou então perdoe-me algum. Agradeço-vos. E porquê?

Uns e outros, assim e assados. Pela felicidade que me trazem ao estar comigo. Pela dedicação. Pelo ensinamento. Por me ter permitido sentir intensamente. Pela admiração que tenho. Pela força dada. Pelo respeito mútuo. Pela sinceridade e boa-fé. Pela simplicidade. Pela humildade. Pela entrega. Porque me apetece sempre acarinhar. Pelo estalo. Por me fazerem rir e sorrir. Pela partilha. Pela paciência e pela impaciência. Porque me permitiu descobrir coisas tão bonitas. Pela protecção. Pela beleza. Pela convicção. Pelo debate e pelo combate. Pela surpresa. Pela confiança. Pelo acompanhamento. Pelo crescimento. Por chorar de surpresa. Por chorar de tristeza e de alegria. Por ser tão especial. Por me provocar um enorme desejo de fazer e dizer coisas que nunca tinha feito. Por serem tão ricos. Por tudo o que se passou. Uns e outros, diferentemente assim e assados. De todos gostando muito, por alguns apaixonado como nunca até então. Levo-vos comigo.

6 comentários:

JAC disse...

também eu ando assim... a fazer retrospectivas*

Anónimo disse...

Quem diria que estaria agora tão triste por ter de deixar esta casa...não acredito que nunca mais vamos bebê-lo à noite em gestão

O melhor post de chocolate do mundo! disse...

Espero ser a Patrícia. E espero fazer parte da intensidade, da riqueza, dos risos e das lágrimas, da partilha, da convicção e da felicidade. Espero que me integres nos ensinamentos e na surpresa, como te integrei nos meus, segundos antes de trancar a porta. Fecho-te, para sempre, do lado de dentro. E espero, ainda, que me perdoes a falta de dedicação. Ou presença. Ou eu. Ou desculpa-me, só.

Muitos parabéns! *

maria disse...

não levas não...ficas é connosco!;)

Anónimo disse...

Ler listas de nomes é sempre tão triste: por vezes esquecemos os nomes de pessoas que, sem sabermos, tanto gostaram de nós.

Eu não tenho o meu nome na lista. Mas fiz parte... ou se calhar só fiz parte na minha cabeça...

Tudo tem uma razão de ser...

Anónimo disse...

Sábado tens de vir ao jantar connosco e é assim que podemos combater esta realidade. Com parvoíce, agora infelizmente combinada e com fronteiras na liberdade.
Por isso tens de vir.
E nos momentos sozinhos, ouve beirut e coisas com muito barulho.
E também por isso tens de vir.

p.s - Prezo muito os nossos almocinhos e a falta de audição do senhor que nos atende!