Crónicas de tasca, parte VI
Da gestão das empresas públicas, mais uma vez
Acima já se aludiu às reformas dos gestores públicos. Eu prefiro reforçar a gestão das empresas públicas (ou de capitais públicos). E para tal recordo-me de um texto de Jorge Costa, no Público (Carga e Transportes, 8/Nov), que apontava alguns aspectos da então recém nomeada Administração do Porto de Lisboa (APL), exemplificando quanto se brinca com os dinheiros públicos. Em resumo, era isto: perante passivo e perdas de 50 milhões de euros, a APL nomeou 15 novas chefias (o que orça 350 mil euros/ano, sem contar com pessoal para estes departamentos); o porto de Lisboa tem operado uma redução do número de funcionários, contra um aumento das chefias (40 chefias, actualmente, sem contar com equiparados em gabinetes ou comissões); esta APL criou, no entanto e ao invés da há muito esperada Divisão de Logística, uma Divisão de Animação e Eventos – uma clara aposta na imagem, tendo como pano de fundo a “devolução do porto aos lisboetas”.
Todos estes aspectos contribuem para: mostrar o irrealismo das metas propostas pelo Governo [de então, o XVI]: reduzir até 2006 o tempo médio de despacho em 50%; quadruplicar o movimento de contentores nos portos até 2015; auto-suficiência portuária em 2005. Para mostrar como as instituições públicas (ou de capitais públicos), mais do que servir o país e os cidadãos, servem para albergar amigos, comparsas e conhecidos. Para tornar mais clara a desgraçada tendência nacional para mudar tudo sempre que mudam os executivos e as tutelas. Para ilustrar o desinteresse crescente dos cidadãos por aquilo que deveria ser do interesse de todos.
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