«Quando escrevo quero apenas libertar-me do que escrevo»
Porque a escrita, certa escrita, tem mesmo esse querer libertar-me daquilo, “daquilos”, na procura do sono e descanso que tanto quero. É violento, por vezes, o exercício, porque as palavras escritas materializam o sentir – qual dizer popular «olhos não vêem, coração não sente» – e esse confronto com o que, subitamente, se tornou real e existe, magoa. Cuspir o que escrevo, arrancar essa crosta – tal como, quando em miúdo, escarafunchava os joelhos “volta-e-meia” feridos, só para ver a pele rosada que ali por debaixo crescia – é outra face do cubo, é uma porta que se fecha e outra que se abre, ao novo, que há-de vir. “Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrróóóiiiiiiiccccctup” para a calçada e seguir andando, sem olhar.
O escritor, o escritor louco, atormentado pela voz do «emissário desconhecido», que dele faz marioneta e hospedeiro, não cospe – vomita; porque um é deliberado e o outro é incontrolável. O escritor louco, que não consigo desprender da imagem do Woody neurótico, é alimentado a pão bolorento. Assim, mesmo que tarde, despejará tudo. E mais não tendo que o saceie, continuará a come-lo e a cair de joelhos sobre uma folha de papel. Aquele pão, que é uma esmola.
Talvez por isso A.L.A. tenha dito: «enche os teus livros, à custa de muito viveres com eles, de um terrível, desesperado e feliz silêncio». O terrível desespero da náusea, a felicidade do alívio, o silêncio pelo conluio de saber haver comido com o propósito de confessar.
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