quarta-feira, 11 de março de 2009

Regalias de um deputado
Com um vencimento base mensal que é metade do que recebe o Presidente da República, e com café a 25 cêntimos na Assembleia da República, onde uma sandocha também custa 40 cêntimos de euro, o deputado dispõe do único bar que permanece aberto no parlamento depois das seis e meia da tarde.

Para que não haja dúvidas, a letras douradas na parede branca lê-se “bar dos deputados”. No horário, a vermelho, afixado à porta, lê-se “bar dos deputados”. Na porta, numa folha colada com fita cola, a verde e em maiúsculas, “exclusivo para deputados”.

Repórter parlamentar só come depois das seis e meia se tiver levado merenda. É a casa da democracia.

terça-feira, 10 de março de 2009

Twitter
No dia em que desbloqueei o meu Twitter comecei a ser seguido por uma taróloga de Almada, por dois deputados (um do centro, outro da direita), por um pretenso líder partidário, por uma blogger muito cor-de-rosa e pela RTP.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Engraçado
Ontem foi Dia Internacional da Mulher. Hoje ouvi duas vezes na TSF um spot publicitário — que não sei se do Governo, se da Comissão Nacional de Eleições — que fala das mulheres na política, como são necessárias mais mulheres, e da paridade. Ontem o PS elegeu um novo Secretariado Nacional que desrespeita as quotas internas de paridade. É ler o que escrevi ontem, lá na rádio...

PS
Socialistas não cumprem quotas
O novo Secretariado Nacional do PS, eleito este domingo, Dia Internacional da Mulher, não respeita a quota mínima de 33 por cento de membros de cada sexo. Entre 11 elementos estão apenas três mulheres.

De acordo com o artigo 116º dos Estatutos do partido, os órgãos partidários e as listas a votação para esses órgãos “devem garantir uma representação não inferior a um terço de militantes de qualquer dos sexos”. Mas três mulheres entre os 11 lugares electivos do Secretariado correspondem a uma quota de 27 por cento. Com mais uma mulher a quota subiria para 36 por cento.

Vitalino Canas, porta-voz do PS, rejeita qualquer incumprimento dos Estatutos e diz que “a regra interna das quotas” é “cumprida integralmente”. Vitalino acrescenta que “em relação ao órgão executivo [o Secretariado Nacional], na nossa perspectiva as quotas também são preenchidas”.

Nos Estatutos está escrito que a representação de um terço de militantes de qualquer dos sexos só é dispensada em “condições excepcionais de incumprimento como tal caracterizadas pela Comissão Nacional”. Mas aos jornalistas e perante várias perguntas nesse sentido, Vitalino Canas não esclareceu se esta foi declarada uma situação excepcional.

Duas secretárias de estado e uma eurodeputada

As mulheres que compõem o Secretariado Nacional do PS hoje eleito são Ana Paula Vitorino, secretária de Estado dos Transportes, Idália Moniz, Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, e Edite Estrela, eurodeputada, que já integravam este órgão. Do anterior secretariado fazia parte Maria Manuela Augusto, deputada em situação de suplente, e reeleita em Fevereiro no cargo de Presidente do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas.

Uma novidade neste órgão executivo do PS é André Figueiredo, chefe de gabinete de José Sócrates no partido, deputado municipal em Seia e vice-presidente da federação do PS da Guarda.

sábado, 7 de março de 2009

De volta à redacção, treze dias depois
Ia jurar que tinha ido de férias, mas afinal...

- Mário Nogueira: “Está tudo em aberto, até a greve à avaliação dos alunos”
- Primeiro-ministro palestiniano demite-se
- Car bomb kills eight in Pakistan
- Karzai agrees to delay elections
- Clashes in Sweden at Israel march
- Rusia reconoce que con Obama se puede ahora avanzar en el desarme
- Zapatero afirma que no va a permitir que la crisis afecte más a las mujeres

Tudo está na mesma.

terça-feira, 3 de março de 2009

Fiquei convencido
Avisaram-me que isto poderia acontecer. Convivi com a malta do Sócrates durante quase três dias e de tanto ouvir falar em novas oportunidades, melhorar as qualificações dos portugueses, escolaridade obrigatória de mais três anos, etc, decidi voltar aos bancos da escola. Quero ser como o Mário Vicente ou como o Jorge Silva. Já me inscrevi nos exames. Engenharia Civil here I go.

segunda-feira, 2 de março de 2009

O Pudim foi ao congresso do PS
Sócrates “é o maior”, um congresso vazio de política
A campanha eleitoral do PS começou este fim-de-semana em Espinho, no congresso do partido, um encontro que teve mais de comício do que de congresso.

José Sócrates teve o seu momento de aclamação neste congresso do PS, em Espinho, onde nada foi verdadeiramente discutido. Entre três moções gerais e algumas dezenas de moções sectoriais, nenhuma foi formalmente apresentada, à excepção daquela que Sócrates subscreve e que foi aprovada com mais de mil votos favoráveis e um voto contra. Discussão, nem vê-la.

Foto: Lusa
O secretário-geral foi elogiado por todos os lados, gabado várias vezes pelo presidente Almeida Santos — “o partido merece um líder assim” —, celebrado pelos seus camaradas ditos notáveis, solenizado pelos delegados e militantes de base. É o culto do chefe. Descendo à terra, houve até quem andasse a pedir autógrafos aos homens do partido: Edite Estrela e Augusto Santos Silva foram os primeiros.

A massa socialista chamada a este congresso esteve deslumbrada, apática e desinteressada, aparte os aplausos. Nas intervenções de três minutos, quase impecavelmente intercalando meia dúzia de anónimos e um notável, houve casos sofríveis e discursos que, parecendo encomendados, nem precisavam sê-lo. No púlpito a massa socialista agradece as auto-estradas — as SCUT, entenda-se, que são à borla — que “foram eles que lançaram” e acredita na campanha negra: uma delegada foi ler uns papelinhos e dizer que a crise no sector da comunicação social, com os despedimentos recentes, dita as notícias difamatórias só para vender jornais.

A julgar pela amostra militante, Sócrates vai capitalizar junto do povo a vitimização e as ignomínias em votos. O próprio atacou os jornalistas no discurso de abertura do congresso; frente às câmaras de televisão, Arons de Carvalho foi chamado a complementar e acusar directamente o Público e a TVI; quando intervieram António Costa, Santos Silva, Paulo Pedroso, Ana Gomes, Silva Pereira e tantos outros não se esqueceram de recordar e atacar os orquestradores da campanha, tão negra que culminou no apagão de sábado à noite que obrigou a interromper os trabalhos mais cedo.

Os 1.700 delegados foram escolhidos, bem ou mal, com um propósito: encenar o início da campanha eleitoral. E a “campanha negra” serve o propósito de pedir a maioria absoluta para que Portugal possa ser governado em “estabilidade”, lançando o fantasma da ingovernabilidade ou da indisponibilidade de Sócrates em caso de minoria, aliada àquela lógica perpetuada de que só com maioria se consegue um governo eficaz neste país. Nunca pensei que a democracia fosse um entrave à governação.

Os críticos do partido queixam-se de unanimismo que grassa no PS e as ausências de Alegre e Cravinho ainda entusiasmaram os jornalistas, mas só os jornalistas. Eu não percebo porquê. Num congresso onde não há discussão absolutamente nenhuma, que falta fazem dois militantes desalinhados e críticos da liderança?

A escolha de Vital Moreira para encabeçar a lista do PS às eleições europeias surpreendeu. O professor de Coimbra não milita, ele próprio se afirmou “socialista freelance”, mas é tido como uma figura da esquerda e um homem das ideias e defensor das liberdades e garantias. Uma aproximação à esquerda, pode dizer-se. Mas será um candidato agregador?

E, já agora, interessante será ver se Vital vai manter os espaços de opinião nos dois bastiões da “campanha negra”: o jornal Público, onde escreve há anos, e o TVI 24, onde foi apresentado como comentador — ele lá disse que vai ter de pôr termo a uns compromissos contratuais que tinha assumido recentemente.

Quanto aos outros nomes para as europeias, fica por se saber: Ana Gomes fica em Bruxelas ou vem para Sintra? Jamila Madeira candidata-se para o segundo mandato ou vem para as listas à legislativas? E Assis? E Sérgio Sousa Pinto? Sobre isto nada se soube no congresso — também não ajudou os jornalistas não terem acesso aos delegados.

No encerramento do congresso José Sócrates deixou um recado a Cavaco Silva: as eleições autárquicas devem realizar-se isoladamente. De resto, Sócrates deu a escolher aos portugueses: “Querem manter o rumo reformista ou regressar ao passado? Querem dar condições de estabilidade e governabilidade?” A campanha começou. Vemo-nos em Outubro.

domingo, 1 de março de 2009

O Pudim foi ao congresso do PS
O discurso final de José Sócrates foi de-pri-men-te
Para quem pede uma nova maioria absoluta, para quem é aclamado em total unanimismo, para quem afirma que é neste congresso que começa “a legitimidade democrática” do PS para governar de novo o país, para quem lidera um partido que nos últimos 15 anos apenas não governou durante três e hoje clama ser a “força da mudança”, José Sócrates falou durante 40 minutos e disse nada. Não deveria ter sido um discurso apoteótico? Eu julgava que sim.