sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Pudim foi ao congresso do PS
www.socrates2009.pt
José Sócrates prepara-se para falar às oito, durante os telejornais. Deverá anunciar o cabeça de lista do PS para as eleições europeias.

José Sócrates tem na sua mesa três pequenos monitores portáteis, que seguem os três canais de notícias da SIC, RTP e TVI.

Ainda hoje pode ser apresentado este endereço: www.socrates2009.pt (até agora só tem disponível uma página de registo, para se receber novidades) O designer deve ser primo de quem fez este: www.barackobama.com.
O Pudim foi ao congresso do PS
Aceitam-se apostas: quem é o primeiro a ir para Bruxelas? Vai saber-se no telejornal.
Entre os desconhecidos, durante a tarde discursaram as caras conhecidas do PS, ministros e ex-ministros, deputados e outros que tais. Os anónimos primeiro, aqueles que agradecem as auto-estradas construídas no seu concelho, e os conhecidos na contagem decrescente do telejornal, mas todos em uníssono: o partido está, realmente, unido.

A destoar, apenas um delegado. Foi ao palco dizer que não é normal um cão querer acasalar com outro cão ou “um galo com outro galo”. Foi claro: “não contem comigo” para “destruir a família, a base da sociedade”, e garantiu que foi apenas dar voz ao que muitos militantes pensam, mas não dizem, acerca da proposta de Sócrates para levar à discussão o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ouviram-se alguns tímidos apupos e a intervenção terminou com relativo silêncio na sala.

Mais de oito horas depois de abertos os trabalhos ainda não há um cabeça de lista para as eleições europeias, as primeiras de três a disputar este ano — e não falta muito, aliás, para terminar o prazo em que o Presidente da República pode decidir juntar às europeias alguma outra eleição.

Nos bastidores, isto é, na bancada da imprensa, fala-se de Ferro Rodrigues, António Vitorino e há até quem atire com Freitas do Amaral. Lá em baixo, na sala, onde estão as centenas de delegados, os jornalistas não podem entrar. Só se chega perto dos militantes socialistas à entrada do pavilhão quando eles saem — e se saírem pela porta da frente — para uma pausa para cigarro.

À falta do Tino de Rãs, houve um açoreano que cantou uma canção.
O Pudim foi ao congresso do PS
Ana Gomes: ela move-se
Ana Gomes considera que “é preciso acabar com as suspeitas de corrupção na classe política” e por isso pede que seja retomado o pacote Cravinho, um conjunto de medidas e alterações à lei para prevenir a corrupção, e sobretudo a instituição do crime de enriquecimento ilícito.

Numa das primeiras intervenções da tarde, à medida que os congressistas vão regressando muito lentamente do almoço, a eurodeputada socialista afirmou que a “campanha de ataque político e pessoal” a Sócrates demonstra que é precisa uma reforma da justiça. “Não podemos ignorar o estado e a morosidade da justiça”, disse.

O plano do antigo ministro João Cravinho, cuja rejeição, em 2007, coincidiu com a sua nomeação pelo Governo para administrador do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, em Londres, propunha alterações ao Código Penal, nomeadamente o fim da distinção entre corrupção para acto lícito e ilícito, e que os superiores hierárquicos de funcionários acusados de corrupção pudessem ser responsabilizados penalmente pelo crime.

Tal como o líder do partido, Ana Gomes pediu o fim dos off-shore a nível europeu e nacional, incuindo na Madeira. O mundo está perigoso e está a mudar, afirmou, e em Portugal o PS é necessário para liderar esta mudança.

Em três minutos foi assim, e o futuro aconselha contenção nas palavras. Entre Bruxelas e Sintra, Ana Gomes já não está tão não-alinhada.
O Pudim foi ao congresso do PS – dia dois
Eu adoro o meu secretário-geral, eu sei quem são os malandros das campanhas negras
O congresso foi para o almoço, até às três da tarde estão interrompidas as intervenções de três minutos que qualquer congressista pode usar. Dezenas de caras vão desfilar durante a tarde e vão falar de tudo: saudar o líder do partido, malhar nas campanhas negras, partilhar os combates travados nas autarquias e lembrar o programa e as prioridades para os próximos quatro anos. Tipo desfile para as listas. Sócrates, na mesa atrás do púlpito, de mangas arregaçadas — e suspeito que de jeans —, assiste. Todos sorriem, todos estão felizes.

António Costa, número dois na linha de sucessão, pediu esta manhã em Espinho uma nova maioria absoluta, porque não há possibilidade de alianças à direita nem à esquerda. O Bloco de Esquerda, pessoalizou, e julgando pela experiência na câmara de Lisboa, é um partido parasita. A direita, essa, nem vê-la. Resta, por isso, um PS “responsável”, disse Costa.

O deputado e ex-secretário de Estado com a tutela dos meios de comunicação social, Alberto Arons de Carvalho, às câmaras da TVI 24, em directo, resolveu chamar os bois pelos nomes e apontou os orquestradores das sucessivas campanhas negras de que Sócrates tem sido vítima. Os opositores do regime são o jornal Público e o seu director, o noticiário das sextas-feiras da TVI, e as jornalistas da estação Manuela Moura Guedes e Ana Leal. Na minha agenda já apontei: em 2012 renova-se a licença de emissão em sinal aberto.

Alegre ainda não apareceu. Ana Gomes fala esta tarde.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O Pudim foi ao congresso do PS – dia um
Contra os malandros e pelos portugueses, maioria absoluta, se faz favor
Apesar das campanhas negras, José Sócrates quer governar Portugal durante mais quatro anos, manter a tendência reformista apoiada por uma maioria absoluta, que pediu, e travar um duro combate pela “decência democrática”.

foto: Estela Silva, Lusa
“Quem governa é quem o povo escolhe, e não um qualquer director de jornal com as suas campanhas, nem nenhuma televisão com as suas manipulações, nem nenhum cobarde que se entretenha a escrever cartas anónimas”. Arrumados os casos Freeport e declarada a urgência de “um combate decisivo a travar pela decência da democracia”, a abrir o congresso do PS, e depois de agradecer o apoio dos socialistas, foi neste tom que José Sócrates repetiu que desde que governa o país tem sido vítima de várias campanhas difamatórias, promovidas por aqueles que ao longo de quatro anos não conseguiram vencê-lo e por isso atacaram a sua honra e dignidade através de “campanhas negras” que foram “desmascaradas e desmentidas”. E que disto “os portugueses sabem bem”.

Ataques pessoais à parte e porque a crise económica mundial é o principal desafio do presente, tal como está na sua moção e como já havia dito no parlamento, Sócrates afirmou que a Europa deve liderar a eliminação dos off-shore, a bem de uma maior transparência e regulação nos mercados. A prioridade no combate à crise, disse, é o desemprego e por isso prometeu fazer tudo o que estiver ao seu alcance para proteger o emprego dos portugueses.

As grandes orientações do PS para a próxima legislatura passam por medidas que promovam a justiça social e o alargamento da escolaridade mínima obrigatória para 12 anos, como forma de adequar as qualificações dos portugueses às exigências da economia actual. Sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo Sócrates rejeitou, novamente, tratar-se de oportunismo político ou de uma proposta virada para as minorias, preferindo dizer que é uma “convicção” do partido que “o país ficará melhor sem mais esta discriminação”.

O PS, disse o seu secretário-geral, é o grande representante da “esquerda moderna, moderada e progressista”, e criticou a actuação da oposição pelo que classificou de demagogia de quem “não tem responsabilidade governativa”. No PS, aliás, não há excluidos, nem perseguidos, nem silenciados, disse.

Volvidos 43 minutos de um discurso sem novidades, Sócrates, limpando o suor da testa com a mão, renovou o pedido de uma nova maioria absoluta, o que lhe valeu uma longa ovação de pé.

Manuel Alegre, a voz mais crítica do partido e representante da ala esquerda do PS, não esteve na abertura do congresso. Pode ser que, depois dos prestigiantes apelos, venha amanhã às dez da manhã, que é quando, afinal, isto começa.
Fantasporto, dia dois — em busca do Castelo do Queijo, fui a Leixões e acabei em Ramalde
A ponte Dom Luís I pode atravessar-se a pé. Ela estremece à passagem do eléctrico no tabuleiro superior, vagaroso, e nós a caminhar ali mesmo ao lado num passadiço em chapa de aço que se precipita não sei quantas dezenas de metros no Douro. Afinal, Gaia e o Porto têm sol e esta é a primeira vez que venho cá nesta altura do ano e não apanho chuva. Mas isso não quer dizer que não se apanhe banhos: vai um mergulhinho no “Delta”?



Esta fita do húngaro Kornél Mundruczó, premiada pela crítica em Cannes, obrigou-me a sair da sala em menos de quarenta dos cem minutos — um festival de cinema é mesmo assim, para mim. A narrativa desenvolve-se de forma lenta, a sobre-representação, quase teatral, fez-me mexer demasiado na cadeira e as trocas de olhar cheias de desejo, carnais e silenciosas, entre irmão e irmã, nem me apoquentavam assim tanto, não fossem elas tantas e tão longas. Acredito na minha intolerância, dado não ter dormido na noite anterior, mas nem o início com a matança do porco me provocou fosse o que fosse. E as sinopses do Fantasporto continuam a ser escritas com os pés: “Na beleza selvagem e tranquila, um labirinto de pequenas ilhas e de canais. O rio, esse, pertence aos aldeãos de uma aldeia isolada do mundo. Um jovem que dali saíra na infância, busca o que resta da família. Descobre a mãe e uma irmã que desconhecia e decide construir uma casa junto ao delta. Um conto belo e trágico de rejeição mas também de amor.” Justiça seja feita: granda banda sonora.

Porto sem chuva é de aproveitar e porque de cada vez que venho cá acima me cinjo sistematicamente aos mesmos lugares, a baixa, a ribeira, a foz e Serralves, desta vez descobri a praça do Marquês de Pombal. É que está mesmo ali, ajardinada e com uma bonita e modernaça igreja, e há lá uma tendinha que não recordo o nome onde a diária, ou o prato do dia para os lisboetas, custa três euros e meio, é grande e muito saborosa, a julgar pelos rojões que comi.

Matosinhos e Leixões conheço como a palma da minha mão... A seca que tu apanhaste é que, enfim... Lá se resolveu depois, entre covas e sinais.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Fantasporto, dia um — terror, só no meu quarto
O cinema sul-coreano vive de umas narrativas muito lentas e explicadinhas até ao detalhe, às voltas e às voltas, como o Hansel & Gretel, do Pil-Sung Yim, que com menos uns quarenta minutinhos até teria sido muito bom. Como o hostel que marquei. Poderia ter sido bom, mas há alturas na vida de um homem em que partilhar um quarto de beliches com quatro francesas mochileiras que afinal eram só duas, que francês só havia mais um e tinha barba, e a outra era japonesa, há alturas em que partilhar um quarto de beliches cheirando a suor e mofo até se faz. Mas há alturas em que não. Já fiz o meu interrail.



Por isso às sete da manhã ainda foi uma meia de leite escura e um croissant com queijo, ali no Bella Roma, depois de termos corrido e fechado, uma a uma, as capelinhas todas da baixa do Porto, onde a mini ainda custa cinquenta cêntimos e há umas coisas que são os Panikes: com ovo, chocolate ou queijo e fiambre. Eu e o Filipe, os resistentes; o Rui, o Lino e a Inês, os meninos, por esta ordem. Quase dois anos sem ver alguma desta malta e logo se fica com todos uns dois anos de produção cinematográfica para pôr em dia em conversa com estes tipos que, falando muito a sério, são uns verdadeiros especialistas na matéria.

Às oito e pouco li o jornal na sala de convívio. Ainda pensei em me estender por um pedaço, mas ao abrir a porta do quarto veio o bafo bafiento e então saí e não paguei. O hostel até tinha umas casas de banho e duches limpos, pessoal simpático, quartos temáticos, um chão que não rangia e paredes que vão ficar de pé mais uns bons anos, além de estar a cinco metros do Rivoli. A companhia é que, enfim. Logo me cheirou a esturro quando me apresentei e “desculpa lá mas há aqui um problema com a reserva e não temos o quarto individual”. Resultado: já tomei o duche na residencial Conga, duas estrelas — e sem mais comentários, que não espero deitar-me cem por cento sóbrio, de qualquer forma.

E Gaia, pelo que se vê da Avenida da República, é feia.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Ele há coisas que nunca mudam
Um gajo chega ao Rivoli para o Fantasporto e dá de caras com o Filipe :)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eu até que podia podia trabalhar na cidade onde o miúdo faz xixi
O sumo de laranja do parlamento europeu vem da Oxfam, para um mundo mais justo e sustentável. E não sabe tanto a casca como alguns sumos 100 por cento que se vendem nos supermercados, à base de concentrados onde é a casca da laranja, e não a polpa, quem está em maior concentração. As moças jeitosas também: algumas são jornalistas correspondentes e outras são funcionárias, entre os milhares de pessoas que trabalham nestes dois enormes complexos, a comissão e o parlamento europeus. Há imensas loiras.

É unânime que a União Europeia não chega aos cidadãos e que o principal desafio dos jornalistas que tratam os assuntos europeus é convencer os leitores, os ouvintes e os telespectadores a gastarem o seu tempo lendo, ouvindo e vendo as nossas peças sobre a Europa. Foi isso que me trouxe a Bruxelas e a resposta é apenas uma: só se consegue fazê-lo sendo “muito bom” e com “enorme criatividade”. Isto dito por um correspondente espanhol que ao fim de quatro anos quis deixar de o ser, quando toda a gente está preocupada com o decréscimo da participação nas eleições europeias nos últimos 20 anos.

Nas conversas de alto nível que o grupo manteve com alguns eurodeputados (socialistas) portugueses ficou bem claro que às onze da noite é difícil encontrar aberto um bar minimamente aceitável. Diz que há um, ali à Grand Place, que fica na antiga cave de um banco, onde foi o cofre-forte. Também não há dúvidas que as listas do partido para o parlamento europeu já estão, se não fechadas, pelo menos muito orientadas. Mas foi só sorrisos.

A noite foi de mexilhões, no La Côtelete, que estava vazio de clientes às dez da noite e por isso o empregado nos abordou na rua com uma proposta irrecusável: por doze euros comemos duas entradas diferentes, uma panela de mexilhões com batatas fritas, um gauffre com chocolate para compor e estava tudo bom. A água é que custa o mesmo que a cerveja, ou seja, cinco euros. A bandeirada no táxi, com chamada e na tarifa de dia, é de dois euros e sessenta, menos vinte cêntimos do que em Lisboa — é só esquecer que aqui se ganha três vezes mais do que em Portugal.

À Europa esperam grandes desafios, neste e nos próximos cinco anos. Responder ao apelo norte-americano de cooperação: chegou a hora de os 27 provarem o merecimento da aliança. Resolver a crise económica: as políticas proteccionistas a nível nacional não podem nunca ser a solução, dizem os populares europeus. Barroso reúne um elevado consenso para dirigir a comissão durante mais cinco anos, não obstante os três chumbos que levou, com os referendos à reforma e depois com o “não” de Dublin a Lisboa. Mas o impasse institucional deve, no entanto, ser resolvido em breve, com as concessões já feitas aos irlandeses.

No plenário, sobre Gaza, o liberal democrata — ? — Graham Watson pede, sob aplausos, que o seu compatriota Tony Blair visite Gaza — a guerra já terminou há um mês — e em nome do Quarteto tome uma posição. Ou simplesmente que diga qualquer coisa.

De Bruxelas vi muito pouco. Choveu, fez frio, o hotel era afastado do centro. Passeei pela Grand Place, vi o que vi das janelas do táxi, do autocarro, da comissão e do parlamento. Não comprei, nem comi, chocolates. E o miúdo continua a fazer xixi.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Afinal, porque são importantes as eleições em Israel para quem vive em Lisboa?
Gostava ter resposta pronta para esta pergunta.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A malvada da crise deixou-me a pele muito mais seca
Isto da crise económica mundial é um bocado sério. Ainda não percebi como é que começou — alguém percebeu? — mas não tenho dúvidas de que é bem real. Sinto-o na pele, da cara.

Contudo, sou um privilegiado: ainda tenho emprego. É que isto da crise pode trazer vantagens para aqueles que tiverem trabalho, com a inflação a cair, o petróleo a embaratecer e os bancos centrais a cortar nos juros. Mesmo assim, para mim a crise chegou em má altura. Há um punhado de meses mudei-me de uma zona barata, barulhenta e suja da cidade para um bairro burguês, organizado, sossegado e caro. A casa nova estava vazia, o meu rendimento disponível diminuiu e deixei actividades paralelas, não fui aumentado e não pertenço sequer à geração dos mil euros. Mas eu não desanimo: tenho a receita para vencer a crise.

Durante anos ouvimos apelos à poupança. Pois agora chegou a altura de gastar dinheiro. Se não o fizermos então as fábricas vão mesmo fechar todinhas. Consuma-se — mas procurando o bom e barato, para acautelar o mealheiro, que não sabemos quem é que vai ficar em casa amanhã.

Esta é a história da minha espuma de barbear “hidratante e dermoprotectora com aroma a lavanda”, Ach. Brito. É portuguesa e vem de Vila do Conde, por oposição à L’Oréal “men expert mousse anti-irritação para peles sensíveis com perfume neutro, sem álcool, de alta protecção, com película hidra protectora active defense system que reforça a resistência natural da pele”, que nem sei onde é feita e vinha usando até agora, com excelentes resultados epidérmicos. Mas o combate à crise exige homens de barba rija e não meninos.

A espuma de barbear portuguesa tem o saber e a tradição de pelo menos cento e vinte anos a amolecer o pêlo ao pessoal e ela mesma já está a fazer a sua parte para vencer a crise: a Ach. Brito arregaçou as mangas e comprou no mês passado a concorrente Confiança, de Braga, a segunda mais antiga saboneteira da península ibérica. Agora quer duplicar o volume de negócios e aumentar as exportações, que actualmente já chegam a quarenta países. E não despediu uma pessoa, que se saiba.

Mas a espuma de barbear portuguesa tem mais argumentos. Por exemplo, tem mais glamour. Enquanto a estrangeira está cheia de letras miudinhas difíceis de ler, bonecos a explicar os efeitos especiais e tiradas de marketing como “a L’Oréal aplica toda a sua experiência do tratamento da pele nesta mousse de barbear”, a portuguesa, embora seja espuma e não mousse, não está pejada de frases em grego que ninguém percebe. A rude espuma, e não mousse, está numa lata verde garrafa e é muito mais cosmopolita: as indicações estão na língua de Pessoa, de Shakespeare e de Voltaire. Por fim, cada duzentos mililitros de mousse importada vende-se a cinco euros e trinta e nove cêntimos, enquanto a Ach. Brito traz mais cinquenta mililitros, o que ainda dá umas barbas, e custa apenas três euros e oitenta.

É um facto que a espuma de barbear me deixa as bochechas bem esticadinhas, ardentemente frescas e cheirosas a lavanda, enquanto que a mousse era mais gentil. Mas a L’Oréal gasta balúrdios em anúncios com o Pierce Brosnan e com aquele gajo da série Lost. Uma parte dos quase dois euros que custa a mais vai para o bolso deles e isso não me parece uma atitude correcta em tempos de crise.

A crise é económica, não de valores. Pelo menos até acabar o frasquinho do creme hidratante L’Oréal men expert hydra energetic que uso depois de me cortar todo.