segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Há gajos com razão


«Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro ao branco e os pontos sobre os “ii” em detrimento de um remoinho de emoções, justamente as que roubam o brilho dos olhos, os sorrisos dos bocejos, os corações das desilusões e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva que cai incessante. Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples acto de respirar.» P. Neruda

Eu conheço um punhado deles.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

“Eastern Promises”
Ou como o último filme de David Cronenberg é mauzote e o Viggo Mortensen mostra o rabo e algo mais — para gáudio de algumas senhoras — enquanto leva uma carga de porrada, mas depois ganha. Podia ser. Mas não é.

O Leste anda a prometer muito. Mesmo.

Vladimir Putin é o novo primeiro-ministro eleito da Rússia. Eleito com mais de 64 por cento dos votos nas mesmas eleições que os observadores da OSCE e da UE criticaram pelo clima pouco democrático e de coerção à liberdade de expressão e reunião. Talvez porque uma semana antes as manifestações em Moscovo e São Petersburgo tinham dado confrontos com a polícia e a detenção de 200 opositores de Putin, entre os quais Boris Nemtsov e Nikita Belykh, líderes do partido SPS (Union of Right Forces, segundo a Reuters) e candidatos às eleições legislativas — só a detenção do “axadrezado” Garry Kasparov é que passou nas TV e nos jornais.

O novo-primeiro ministro russo já foi primeiro-ministro russo, entre Agosto de 1999 e Maio de 2000, a convite de Boris Yeltsin. O novo primeiro-ministro russo ainda é Presidente russo, até Março de 2008, que é quando termina o segundo mandato. Os métodos russos são qualquer coisa...

A Duma tem, agora, um novo deputado. Chama-se Andrei Lugovoi, foi o segundo eleito pelo partido LDPR (Liberal Democratic Party of Russia, segundo a Reuters), um de quatro a conseguir assentos no parlamento. É ex-agente do FSB e é o principal suspeito da morte de Aleksander Litvinenko. Se antes o Reino Unido pedia a extradição e a Rússia recusava, agora com a imunidade diplomática o problema está resolvido. Curiosa foi a resposta de Lugovoi à pergunta da Reuters sobre se iria chefiar o Comité de Segurança: «As everybody knows I have a lot of experience in security issues...»

Antes, a 4 de Novembro de 2007, podia ler-se no The Times: «At first the police thought the two bodies found in a ditch near St Petersburg last weekend were those of drunks who had passed out and died of hypothermia. The case turned out to be far more disturbing. Both men were from Russia’s Federal Drug Control Service, a powerful force of former KGB officers, and they had been poisoned.» A mim soa-me familiar. E estas notícias são frequentes, basta andar atento.

Um olhar mais demorado a alguma imprensa internacional ajuda a explicar as guerras internas na Rússia, guerras por poder e por dinheiro, envolvendo altas patentes dos serviços secretos, o FSB, do tal departamento de narcóticos (chame-se-lhe assim) e do departamento de alfândega. Em jogo estão serviços de segurança, lavagem de dinheiro e ajuda ao tráfico de tudo um pouco.

Os métodos russos de manutenção do poder podem muito facilmente ser exportados e a Guerra Fria pode muito bem regressar, menos mediática que outrora, porque já não se trata de bombas nucleares ou escudos anti-míssil quase intergalácticos — não obstante a questão do sistema anti-míssil norte-americano na Rep. Checa ou Polónia, mesmo às portas da Grande Rússia. E mesmo que ainda se vá ouvindo isto: «Quase meio quilo de material radioactivo foi apreendido anteontem na fronteira da Eslováquia com a Hungria (...) O urânio poderia ser utilizado no fabrico de "bombas sujas", assim chamadas por resultarem da mistura de explosivos comuns com elementos nucleares (...) Acredita-se que os 481 gramas de urânio apreendidos sejam provenientes da Ucrânia (...) Desde os anos 90, quando a União Soviética se desmantelou, a Agência Internacional de Energia Atómica já registou mais de 1250 casos de contrabando de material nuclear.» (Público, 30Nov2007)

Agora o jogo é jogado ao nível dos peões, da pequena espionagem, da pequena informação, sobretudo na grande economia da energia, petróleo e gás. E Putin gosta demasiado do poder. Esta novela está para durar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Não sei como te explicar.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Então é assim: harder, better, faster, stronger





Daft Punk, exactamente...