quinta-feira, 28 de junho de 2007

“A menina dança?”




quarta-feira, 20 de junho de 2007

Quando só queria dormir, as luzes dos carros na Infante Santo reflectidas no espelho da tua sala às escuras
Numa fotografia. O final deste percurso. Sinto que acabou. Sinto estranho. Sinto saudade. Sinto nó na garganta. Sinto vontade. Apetece gritar. Apetece abraçar. Apetece.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Travessa da Arrochela
«Tens — tu também — o dom da palavra», disseste-me. Fiquei muito feliz. Porque te quero muito, e às palavras também. Elas são parte de mim e a melhor forma que, por (demasiadas) vezes, encontro para mostrar a quem gosto que gosto, porque gosto e quanto gosto. Porque me acho desajeitado noutras maneiras, porque não sei porquê — é parvoíce, pela certa.

Como quando me fico por um olhar mais demorado, um toque no braço ou só com a ponta de um dedo num centímetro quadrado da tua pele — é quão longe consigo ir. Se me sentir protegido por uma armadura de aço, lá solto uma frase ou duas repletas da minha verdade, embora quase quase sempre sem conseguir ser olhado a olhar, a minha verdade, como dizia, de ver um contorno bonito, uma linha de volúpia, um timbre quente, um sorriso terno e o resto das coisas. Envergonhado. Com palavras.

Não é sempre assim. Ainda bem. Como ontem, quando lhes quis dizer que a sua presença ali tinha sido muito, mas mesmo muito importante, como se tivesse sido eu a chamá-los. Que por eles tenho um enorme carinho. Que neles vejo bom fundo e fico encantado. Que serei teu camarada de armas — basta que me chames — para pôr fim a essa angústia. Que cada vez que te olho me perco nas maçãs do teu rosto. E só de vos olhar, já sorrio.

E hoje, que choveu e foi cinzento como em Outubro, bem precisei.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

“É difícil falar quando só nos apetece ter gestos”
E fez um imenso sentido naquele exacto segundo. Como se arrancasse, não da boca, mas do peito, o que nunca conseguira que tomasse forma nas ideias, porque estava tão lá no subconsciente, mas que lhe vinha apertando o coração de uma maneira real e havia já quanto — bastante — tempo.

Não ficou mais leve; não feriu por dentro; não apagou desejos; não estragou sorrisos; não resolveu nada. Mas faz sol sempre que as peças encaixam.

E então perguntou-lhe: “entendes?”

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Al Pacino wanna be
- Oh, eu sei como te sentes...
- Não sabes não. E eu explico-te porquê. Queres saber?
- Vá, diz lá... — acrescentando em surdina — man, adoras mesmo o Al Pacino e os personagens retóricos que lhe dão p’ra fazer...
- Não mudes de assunto — respondeu sério.
- Não ‘tou a mudar de assunto. Só ‘tou a constatar: Devil’s Advocate, The Insider, Any Given Sunday, Heat, e isto só pra citar os mais conhecidos e que vi e que me lembro. Vais dizer-me que não veneras o gajo e que não tens quase sempre uma pergunta retórica na manga?
- E o Oceans 13?
- Não sei, porque ainda não vi.
- Óptimo, porque eu também não. Mas ‘tava a dizer-te...
- Como a Feira... — lançou, enquanto pousava a chávena do café.
- Pá! Queres apanhar?
- Desculpa.

(dois segundos de silêncio)

Acendeu mais um cigarro e atirando o isqueiro para cima da mesa, continuou:
- A razão por que te digo que não sabes como me sinto é porque não ficas com este sorriso parvo estampado na cara quando dás por ti a comentar com o Alfredo (como eu dei, hoje e ontem e antes, e como tu nunca darás porque não vês isso) que hoje o pôr-do-sol estava especialmente bonito, alaranjado mas não muito e ainda bem, luminoso, que tirei os óculos de sol para poder ver bem as cores. Ou como agora, neste momento, em que estou chateado por teres gozado com algo com que não se brinca!... — sorveu o cigarro — mas em vez disso estou aqui de lábios rasgados como que contente, incontrolado, que pareço um palerma.
- Não sei se percebi — disse, como quem diria a medo, mas gozando.

Soprou o fumo e desistiu, sorrindo:
- Epá, vai à merda!

domingo, 10 de junho de 2007

I'm only this far
and only tomorrow leads my way

quinta-feira, 7 de junho de 2007

1ª plateia, fila E, lugares 12 e 14




Esbjorn Svensson Trio, no CCB, dia 22 de Julho.
Obrigado, Paulo Gil.

Como é que vai ser?

segunda-feira, 4 de junho de 2007

«A causa das coisas»
Quatro anos depois, terminou. Quatro anos depois vai começar. Sempre que penso nisto, que me lembro disto, que sinto isto, invade-me uma tremenda nostalgia e saudade e quase choro, sobretudo de alegria e de paixão. Como explicar? A Inês tinha razão, quando nos disse que muito mudaria ali, que seria dali que levaríamos connosco as fundações para um resto de percurso de vida.

Quando era mais miúdo, pela primeira de muitas vezes naquela escola, quando às oito e um quarto a Isabel ainda não tinha chegado, eu corria para o campo com os rapazes para jogar à bola. A Isabel, que nos ia buscar um por um segurando-nos pelo braço, no fim haveria de dizer que me percebia o desinteresse por aquilo e porque estava a minha cabeça noutro lugar.

O Américo pôs tudo em pratos limpos desde o dia em que me conheceu e sempre que podia atirava-me, com um sorriso, que não percebia — embora percebendo — porque insistia em fazer aquilo. O Américo tem uma quota de responsabilidade enorme, e ainda bem que é assim. Como quando me disse que era apaixonadíssimo pela mulher e pelos filhos e que era por isso que se estava marimbando para o clube e que todo o tempo livre que tinha, entre a escola, o atelier e o jornal, era para eles. E não se pense que era pouco, mesmo quando era, porque o Américo era muito ginasticado para os quase dois metros de altura, cem quilos de peso e meia dúzia de cabelos na careca. Um dia confessei-lhe querer para mim, quando fosse a altura, o mesmo brilho que ganhavam os olhos dele quando me contava coisas deles. Não perdes por esperar.

Já o Raul ensinou-me vida e isso não se quantifica. Melhor ainda: continua ensinando, com a mesma paixão e entrega com que nos explicava o êntero e o celêntero e o resto. Não me esqueço quando ele disse que me entendia, que eu não me preocupasse em demasia e que deveria, então, retirar dali o melhor, o que era especial, o pedaço mais saboroso. Hoje, quando me vê, repete-me se não acho que valeu a pena. Valeu, pois. Porque foi difícil.

Não fosse pela Isabel, pelo Américo, pelo Raul e por tudo o resto e todos os que me acompanharam desde então, e nada teria sido como foi, e nada seria como vai ser. Quando cheguei, em 2003, cheguei na altura certa. «Ena, mais gajos»? Certamente. «Olha, queres namorar comigo?» Mas eu só tinha acabado de explicar como se usavam atalhos do Word para formatar as tabelas... Assim começava o período mais rico da minha vida. Que é feito de pessoas. Afinal, não é por isso que andamos por cá?

Estranhei, conheci, mostrei, sorri, entreguei e recebi, ri à gargalhada, chorei em soluços, aprendi e ensinei, compreendi e repliquei, apaixonei-me como até então nunca e cresci com o reconhecimento do que é isso, então, das paixões. Porque é disso que se trata, de diferentes paixões, e de ser esse o mote para tudo — e aqui não há lugar a contestações. De tão cheio que vou, é parvoíce sentir-me vazio agora e com um nó na garganta.

Conforme me chegam à cabeça: Joana, Maria, João, Rui, Raquel, Diana, Maria, João, Marta, Mariana, mais uma Maria, André, Patrícia, Catarina, Bruno, Pedro, Joana, Rui, Miguel, Bruno, outro Miguel, Filipa, André, Sandra, Sara, Carlos, José, outro José, um homónimo João, André, Tiago, Ricardo, mais um José e ainda outro José, Ana, Marcos, Rita, Sofia, António, Rosário, ainda outra Joana, Alberto, Mariana, Isabel, António, Margarida, mais uma Maria e acho que estão todos ou então perdoe-me algum. Agradeço-vos. E porquê?

Uns e outros, assim e assados. Pela felicidade que me trazem ao estar comigo. Pela dedicação. Pelo ensinamento. Por me ter permitido sentir intensamente. Pela admiração que tenho. Pela força dada. Pelo respeito mútuo. Pela sinceridade e boa-fé. Pela simplicidade. Pela humildade. Pela entrega. Porque me apetece sempre acarinhar. Pelo estalo. Por me fazerem rir e sorrir. Pela partilha. Pela paciência e pela impaciência. Porque me permitiu descobrir coisas tão bonitas. Pela protecção. Pela beleza. Pela convicção. Pelo debate e pelo combate. Pela surpresa. Pela confiança. Pelo acompanhamento. Pelo crescimento. Por chorar de surpresa. Por chorar de tristeza e de alegria. Por ser tão especial. Por me provocar um enorme desejo de fazer e dizer coisas que nunca tinha feito. Por serem tão ricos. Por tudo o que se passou. Uns e outros, diferentemente assim e assados. De todos gostando muito, por alguns apaixonado como nunca até então. Levo-vos comigo.

domingo, 3 de junho de 2007

Woody, traz a câmara, pá!
Existe uma certa poesia numa mulher naturalmente bonita, de vestido preto de baile, casaco vermelho, uma bandelete no cabelo com um lacinho pequenino, e nos pés umas chinelas havaianas brancas, atravessando uma rua de empedrado de basalto ali próximo do rio, às seis e pouco da manhã de um dia de sol, para chegar até onde beber um chocolate quente.